terça-feira, 9 de abril de 2024

DOCS É TUDO VERDADE

                          

 Antonio Carlos Egypto

 

Documentários do Festival É TUDO VERDADE, 2024.

 


Em UM FILME PARA BEATRICE, Brasil, 2024, Helena Solberg reflete sobre como vão as mulheres no Brasil, a partir de questão proposta à diretora.  Para isso, ela se vale de filmes que já realizou e que, de diversas formas, traziam a temática do gênero feminino e do feminismo. Mas buscou também novas visões, a partir de encontros com Heloísa Helena, Rita von Hunty e Helena Vieira. O filme vai ampliando seu foco e percebe que a questão de gênero evoluiu, ao abarcar homens e mulheres, trans e todo o universo queer, além da questão do racismo.  Com isso, a identidade de gênero tornou-se radicalmente cultural, uma opção, que pouco tem a ver com a biologia.  Um novo mundo não binário vai se revelando nesse documentário, que aprofunda a questão, em apenas 78 minutos.

 


O COMPETIDOR (The Contestant), filme do Reino Unido, 2023, dirigido pela cineasta Clair Titley, é assustador, ao revelar a história real de um dos primeiros reality shows realizados pela TV, no mundo. E mostra a que nível de crueldade e manipulação as pessoas podem ser capazes de chegar em nome do entretenimento, sem ética e sem limites.  Isso ocorreu no Japão, em 1998.  A competição era de um homem isolado num apartamento por um longo período, nu, e tendo que ganhar cupons de prêmios de concurso para sobreviver.  Sem comida, sem nada, além de alguns móveis e de um monte de revistas, inicialmente. A experiência estava sendo transmitida ao vivo para mais de 15 milhões de pessoas.  Com um detalhe, sem que Nasubi, o competidor, soubesse disso.  Impressionante.  90 minutos.

 


BRIZOLA, o documentário brasileiro, de 2023, de Marco Abujamra, foca na trajetória de Leonel Brizola (1922-2004), contextualizando-a dentro da realidade política e social brasileira, dos anos 1960 até os anos 2000, enquanto o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro esteve ativo na história do Brasil.  Passa pelo período da ditadura militar, em que o político gaúcho, cunhado do ex-presidente João Goulart, resistiu bravamente ao arbítrio daqueles dias, inclui as disputas presidenciais de Brizola, após um período de ostracismo que se seguiu a um exílio muito ativo e de amplo espectro internacional.  A famosa carta de desagravo de Brizola à rede Globo de Televisão e que a Justiça determinou que fosse lida no Jornal Nacional é espantosa.  O texto que Cid Moreira teve de ler torna-se surreal na voz dele. O filme é muito bom, inclusive de um ponto de vista didático, para os que não tiveram a chance de acompanhar a trajetória desse grande líder político de nosso país. 92 minutos.

 


FERNANDA YOUNG – FOGE-ME AO CONTROLE, documentário brasileiro de Susanna Lira, de 2024, é um belo ensaio poético sobre o trabalho e a personalidade da escritora, roteirista e apresentadora de TV, Fernanda Young (1970 – 2019).  O filme realiza um vínculo muito bonito entre as muitas frases dos livros que ela escreveu, com as imagens de arquivo ou selecionadas para o caso: entrevistas, depoimentos, fotografias, filmagens em vídeo, muito material, revelando a extensa pesquisa que foi feita.  A costura poética que o filme faz de tudo isso é fascinante, mesmo para quem não acompanhou ou conheceu bem a obra da escritora, para além do seriado de sucesso “Os Normais” e alguma coisa mais, como é o meu caso.  Um trabalho de montagem primoroso, a cargo de Ítalo Rocha, produziu muita beleza, para ninguém botar defeito.  87 minutos.



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