quarta-feira, 13 de março de 2024

LUPICÍNIO RODRIGUES - CONFISSÕES DE UM SOFREDOR

 

Antonio Carlos Egypto 

 


 

LUPICÍNIO RODRIGUES – CONFISSÕES DE UM SOFREDOR.  Brasil. 2022.  Direção: Alfredo Manevy.  Documentário.  Narração: Paulo César Pereio.  96 min.

 

O longa de estreia do diretor Alfredo Manevy, o documentário “Lupicínio Rodrigues – Confissões de um Sofredor” tem o mérito de destacar o trabalho de um grande compositor, poeta e intérprete da música popular brasileira.

 

O gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974) teve composições gravadas por intérpretes de várias gerações, que alcançaram sucesso e se tornaram clássicos, nas vozes de Francisco Alves, Orlando Silva, Ciro Monteiro, Elizeth Cardoso, Linda Batista, Jamelão.  E também de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina, Ney Matogrosso, Marisa Monte.  Enfim, todos os grandes intérpretes da música brasileira beberam na fonte de Lupicínio.

 

O compositor se alimentou das desventuras do amor para fazer suas letras ternas, duras e diretas, machistas também, mas de rara beleza poética.  Pode ser considerado o criador do chamado samba da dor de cotovelo.  Lembremos um trecho de “Esses Moços, Pobres Moços”, quando ele se dirige aos jovens: Se eles julgam que a um lindo futuro só o amor nesta vida  conduz, saibam que deixam o céu por ser escuro e vão ao inferno à procura de luz.  Bonito, não é?

 

Lupicínio, com sua música, aparece inteiro no documentário, todo montado a partir de vasto material de arquivo, incluindo entrevista  e canto com ele e muita música dele em várias interpretações, como citei acima.  Destaque para a linda interpretação de João Gilberto, para “Quem há de dizer”.  E para uma música de Lupicínio que foi indicada ao Oscar 1945, no filme “Dançarina Loura”, sem consulta ao compositor e sem lhe dar crédito.  Era nada mais nada menos do que uma versão instrumental e dançante de “Se Acaso Você Chegasse”.  A mesma canção lançaria a grande Elza Soares ao estrelato, pela genialidade de sua interpretação, em 1960.

 


São muitas as histórias que envolvem a música que ele criou com maestria.  Vamos lembrar mais algumas delas?  “Felicidade” (foi-se embora...), “Vingança”, “Nervos de Aço”, “Cadeira Vazia”, “Nunca”, “Ela Disse-me Assim”, “Volta”, “Maria Rosa, “Loucura”, “Brasa”...

 

Sustentado à base do álcool e das noites e madrugadas de música, bares e mulheres, foi um compositor que ultrapassou seu próprio tempo.

 

Embora marcada pelos valores de sua época, a música de Lupicínio é tão atual hoje, 50 anos após a sua morte, que o filme de Alfredo Manevy, narrado por Paulo César Pereio, com certeza vai entusiasmar todos que forem vê-lo no cinema.  De todas as idades e preferências musicais.  E é muito bom que a música popular brasileira, tão rica e variada, com talentos tão fantásticos, esteja sendo tão bem documentada pelo cinema brasileiro.

 

 

 

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