quarta-feira, 29 de novembro de 2023

FILME HISTÓRICO

Antonio Carlos Egypto

 


Foi descoberto um documentário brasileiro histórico, realizado entre 1918 e 1920, numa época em que o próprio conceito de documentário não estava firmado.  Claro que os filmes que deram início ao cinema, realizados pelos irmãos Lumière na França, datados de 1895, são documentais.  Como classificar “A Chegada do Trem na Estação” e “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière” de outra forma?  Eram filmes só com 50 segundos de duração cada um, conquanto haja mais de 1000 filmes desses. 

 

Enfim, o documentário em questão é AMAZONAS, O MAIOR RIO DO MUNDO, realizado por Silvino Santos (1886-1970), cineasta luso-brasileiro, e tem 66 minutos de duração.  Esse filme estava desaparecido, considerado como perdido, desde meados dos anos 1930.  Surpreendentemente, foi reencontrado, com título alterado, como se fosse norte-americano, pelo Arquivo Nacional de Cinema da República Tcheca.  Imagine só. Foi lá que foi identificado e suas imagens disponibilizadas para a Cinemateca Brasileira, por Klára Trsková, que fala português (de Portugal) e esteve presente em vídeo ao debate realizado após o filme, aqui na Cinemateca, em 22 de novembro de 2023, com Eduardo Morettin, Sávio Luís Stoco, mediado por Giuliana de Toledo.

 


O desaparecimento se explica também porque um colega de Silvino, Propério de Mello Saraiva, levou o filme para comercializar na Europa, mudou o título e o vendeu como se fosse dele.  O próprio Silvino “refez”, refilmou o seu trabalho, e com o título de “No Paiz das Amazonas” obteve êxito em 1922.

 

AMAZONAS, O MAIOR RIO DO MUNDO é muito bem realizado, mostra enfaticamente a beleza da natureza, em exuberante fotografia em preto e branco, restaurada.  É bastante didático, ao mostrar festas populares, povos indígenas e, principalmente, as possibilidades produtivas da Amazônia, com a extração e comercialização de borracha, da castanha do Pará, do algodão, dos peixes, da mandioca, etc.. Na verdade, prega a exploração desses recursos sem questionar as consequências para o meio ambiente.  Seria pedir muito naquele tempo?  Talvez, mas os interesses industriais e comerciais já eram bastante claros, então.

 

De qualquer modo, a redescoberta do filme ajusta os ponteiros para a história do cinema brasileiro e mundial.  Basta dizer que o primeiro grande documentário conhecido e com destaque na história do cinema é o franco-estadunidense “Nanook, o Esquimó” (Nanook of the North), de Robert Flaherty, com 83 min., de 1922. 

 

A Cinemateca Brasileira seguirá realizando exibições do filme, não só em São Paulo, mas em diversas cidades brasileiras.  Quem tiver a chance de vê-lo vai gostar.  Originalmente mudo, foi exibido com uma trilha sonora original, composta pelo compositor Luiz Henrique Xavier, que quebra a expectativa da grandiloquência das imagens com muita eficiência.  Os intertítulos em tcheco estão traduzidos.

 

 

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