segunda-feira, 30 de outubro de 2023

FECHAR OS OLHOS NA # 47 MOSTRA

 Antonio Carlos Egypto

 




FECHAR OS OLHOS (Cerrar los Ojos).  Espanha, 2023.  Direção: Victor Érice.  Elenco: Manolo Solo, Ana Torrent, José Coronado, Soledad Villamil, Venecia Franco.  165 min.

 

A # 47 Mostra nos traz um presente: o retorno do grande diretor espanhol Victor Érice à realização cinematográfica de longas-metragens.  Responsável por uma obra prima como “O Espírito da Colmeia”, de 1973, ele realizou só mais dois longas, “O Sul”, em 1983, e “O Sol do Marmelo”, em 1992.  Desde então, dirigiu curtas e participou de episódios em filmes com outros cineastas.  E só agora, 30 anos depois, realiza um novo longa: FECHAR OS OLHOS.  E é um trabalho magnífico.

 

Uma trama muito bem construída do início ao fim, em que os diversos elementos vão sendo revelados pouco a pouco, sem pressa, envolvendo emoções e sublinhando o mistério.  O desaparecimento de um ator em pleno período de gravações de um filme, cujo corpo nunca foi encontrado e que se supõe morto num acidente no mar.   Até que novos elementos levantam dúvidas quanto a seu paradeiro.  O elemento decisivo dessa evolução narrativa será o próprio cinema, as últimas cenas gravadas do ator Julio Arenas (José Coronado) naquele filme.

 

Essa é apenas uma das questões de FECHAR OS OLHOS.  O envelhecimento, a perda da memória, da consciência e da própria identidade, a importância do nome na vida de alguém, são aspectos integrantes dessa trama.  O que resta a um ser humano quando ele perde sua história? Quando ele não se reconhece nem aos seus familiares, amigos, cônjuges?  Que sentido tem o desenvolvimento de habilidades, que parecem distantes da própria pessoa?  É possível ser feliz nesse limbo?  Claro que momentos felizes são possíveis, mas afinal o que é a felicidade para o indivíduo? E ainda: é possível reconstruir uma vida que se perdeu?  Até que ponto?

 

Num tempo em que o envelhecimento alcança novos níveis, as pessoas vivem muito mais, a questão da memória, da história e da identidade passa a ocupar papel central na vida de quem sobrevive ao passar dos anos.  E, naturalmente, dos que com eles convivem.  Como se dá o vínculo quando essas perdas acontecem?

 

 É possível pensar em tudo isso enquanto o filme flui na tela.  A sutileza, os tempos, o modo cuidadoso de avançar na história num estilo clássico, onde tudo se encaixa, favorecem a reflexão do público.  O excelente elenco do filme em desempenhos muito convincentes é mais uma prova da capacidade e do talento do diretor.  

 

Ver esse cineasta de 83 anos em pleno domínio do seu métier, pensando os tempos atuais em profundidade não é pouca coisa.  Um dos melhores filmes da # 47 Mostra, sem dúvida.

@mostrasp

 


 

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