Entrou
em cartaz nos cinemas um documentário que comentei aqui por ocasião do festival
É TUDO VERDADE de 2020 sobre o nosso saudoso cantor Jair Rodrigues.
JAIR RODRIGUES – DEIXA QUE DIGAM, dirigido
por Rubens Rewald, é um documentário muito competente sobre um artista cujo
talento se evidencia por inteiro. Jair
Rodrigues (1939-2014) foi um excelente cantor de sambas, mas também dos mais
diferentes gêneros, com um repertório muito bem escolhido e momentos
memoráveis, quando, com seu primeiro sucesso, antecipou o rap com “Deixa Isso
Prá Lá”, o Fino da Bossa, com Elis Regina, os Festivais e a inesquecível
interpretação de “Disparada”, sucessos como “Tristeza”, “Majestade, o Sabiá” e
tanta coisa mais, que o filme mostra com toda a clareza. É possível conhecer e apreciar esse trabalho
muitíssimo bem. É isso o que importa,
quando se focaliza uma obra artística de peso, como é o caso aqui. 90 min.
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A
mostra AMOR AO CINEMA, que está acontecendo de 27 de abril a 10 de maio de
2023, no Cinesesc em São Paulo, permite rever filmes famosos e alguns recentes,
que têm o cinema como protagonista.
Entre os que podem ser considerados clássicos, vale a pena rever na
telona “Cantando na Chuva”, “Crepúsculo dos Deuses”, “A Noite Americana”, “A
Rosa Púrpura do Cairo”, “A Invenção de Hugo Cabret”, “Meu Melhor Inimigo” e o
recente “Os Fabelmans”. Mas há filmes
muito bons sobre a temática do cinema, que são menos conhecidos, como “Serbis”,
“Adeus, Dragon Inn”, “Salve o Cinema”, “Depois da Vida”, além de brasileiros,
como “Um Filme de Cinema”, “Matou a Família e Foi ao Cinema”, “Cine Marrocos”,
“Saneamento Básico, o filme” ou “A Mulher de Luz Própria”. O que não falta nessa mostra são bons
filmes. Reproduzo aqui o comentário
postado no cinema com recheio em outubro de 2022 sobre um desses filmes.
O DEUS DO CINEMA (Kinema
no Kamisama), Japão 2021, do diretor Yôji Yamada, que tem 91 anos (nasceu
em 1931) é, como o nome já indica, uma homenagem ao cinema. O cinema
percebido até como um bálsamo, uma cura para problemas de difícil
solução. Como o de Goh, apostador inveterado, que perde tudo e está
sempre à espera da bolada que vai saldar suas enormes
dívidas. Enquanto isso, a família sofre e resolve confiscar o
dinheiro da sua aposentadoria. Mas, sabendo do seu amor pelo cinema,
mantém a verba para que ele possa ver todos os filmes que quiser, retornar ao
cinema onde trabalhou com seu amigo Terashin, dono de uma sala e
projecionista. Goh chegou a tentar ser diretor de cinema e tinha
engavetado um belo roteiro, chamado “O Deus do Cinema”. Esse
roteiro, revisto e retrabalhado, pode ser a sua tábua de salvação, desde que
atualizado e modernizado, contando com a nova geração representada por seu
neto. Revemos, então, todo o passado que deu origem a isso, enquanto
a magia do cinema e aspectos da história do cinema japonês clássico e suas
estrelas são mostrados com admiração. Yoshiko, sua mulher desde há
muito, também faz parte importante dessa história, dá o toque não só romântico
como de disputa, ciúme e rompimento, entre os amigos. Exploram-se,
portanto, dois grandes momentos da vida de Goh: o seu passado no cinema e o seu
momento envelhecido, em que o cinema volta a ocupar o primeiro plano na sua
vida. Amor que é amor é assim: Goh queria morrer numa sala de
cinema, assistindo a um filme. Fez-me lembrar do nosso Jô Soares,
tão cinéfilo quanto, que preferia viver seus últimos dias em casa, vendo
filmes, em vez de estar numa UTI, isolado, entubado, com todos os equipamentos
à disposição, mas infeliz e prolongando algo já sem sentido. Com o
cinema, o sentido estaria lá até o último instante de vida. Com
Kenji Sawada, Masaki Suda, Mel Nagano, Nobuko Miyamoto, Keito
Kitagawa. 125 min.
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