sexta-feira, 28 de abril de 2023

JAIR E O CINEMA

   Antonio Carlos Egypto

 

Entrou em cartaz nos cinemas um documentário que comentei aqui por ocasião do festival É TUDO VERDADE de 2020 sobre o nosso saudoso cantor Jair Rodrigues. 

 


JAIR RODRIGUES – DEIXA QUE DIGAM, dirigido por Rubens Rewald, é um documentário muito competente sobre um artista cujo talento se evidencia por inteiro.  Jair Rodrigues (1939-2014) foi um excelente cantor de sambas, mas também dos mais diferentes gêneros, com um repertório muito bem escolhido e momentos memoráveis, quando, com seu primeiro sucesso, antecipou o rap com “Deixa Isso Prá Lá”, o Fino da Bossa, com Elis Regina, os Festivais e a inesquecível interpretação de “Disparada”, sucessos como “Tristeza”, “Majestade, o Sabiá” e tanta coisa mais, que o filme mostra com toda a clareza.  É possível conhecer e apreciar esse trabalho muitíssimo bem.  É isso o que importa, quando se focaliza uma obra artística de peso, como é o caso aqui. 90 min.

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A mostra AMOR AO CINEMA, que está acontecendo de 27 de abril a 10 de maio de 2023, no Cinesesc em São Paulo, permite rever filmes famosos e alguns recentes, que têm o cinema como protagonista.  Entre os que podem ser considerados clássicos, vale a pena rever na telona “Cantando na Chuva”, “Crepúsculo dos Deuses”, “A Noite Americana”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “A Invenção de Hugo Cabret”, “Meu Melhor Inimigo” e o recente “Os Fabelmans”.  Mas há filmes muito bons sobre a temática do cinema, que são menos conhecidos, como “Serbis”, “Adeus, Dragon Inn”, “Salve o Cinema”, “Depois da Vida”, além de brasileiros, como “Um Filme de Cinema”, “Matou a Família e Foi ao Cinema”, “Cine Marrocos”, “Saneamento Básico, o filme” ou “A Mulher de Luz Própria”.  O que não falta nessa mostra são bons filmes.  Reproduzo aqui o comentário postado no cinema com recheio em outubro de 2022  sobre um desses filmes.

 


O DEUS DO CINEMA (Kinema no Kamisama), Japão 2021, do diretor Yôji Yamada, que tem 91 anos (nasceu em 1931) é, como o nome já indica, uma homenagem ao cinema.  O cinema percebido até como um bálsamo, uma cura para problemas de difícil solução.  Como o de Goh, apostador inveterado, que perde tudo e está sempre à espera da bolada que vai saldar suas enormes dívidas.  Enquanto isso, a família sofre e resolve confiscar o dinheiro da sua aposentadoria.  Mas, sabendo do seu amor pelo cinema, mantém a verba para que ele possa ver todos os filmes que quiser, retornar ao cinema onde trabalhou com seu amigo Terashin, dono de uma sala e projecionista.  Goh chegou a tentar ser diretor de cinema e tinha engavetado um belo roteiro, chamado “O Deus do Cinema”.  Esse roteiro, revisto e retrabalhado, pode ser a sua tábua de salvação, desde que atualizado e modernizado, contando com a nova geração representada por seu neto.  Revemos, então, todo o passado que deu origem a isso, enquanto a magia do cinema e aspectos da história do cinema japonês clássico e suas estrelas são mostrados com admiração.  Yoshiko, sua mulher desde há muito, também faz parte importante dessa história, dá o toque não só romântico como de disputa, ciúme e rompimento, entre os amigos.  Exploram-se, portanto, dois grandes momentos da vida de Goh: o seu passado no cinema e o seu momento envelhecido, em que o cinema volta a ocupar o primeiro plano na sua vida.  Amor que é amor é assim: Goh queria morrer numa sala de cinema, assistindo a um filme.  Fez-me lembrar do nosso Jô Soares, tão cinéfilo quanto, que preferia viver seus últimos dias em casa, vendo filmes, em vez de estar numa UTI, isolado, entubado, com todos os equipamentos à disposição, mas infeliz e prolongando algo já sem sentido.  Com o cinema, o sentido estaria lá até o último instante de vida.  Com Kenji Sawada, Masaki Suda, Mel Nagano, Nobuko Miyamoto, Keito Kitagawa.  125 min.

 


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