terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

2 FILMES DE OSCAR

  Antonio Carlos Egypto

 



TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO (Everything everywhere all at once).  Estados Unidos, 2022.  Direção e roteiro: Daniel Qwan e Daniel Scheinert.  Elenco: Michelle Yeoh, Jamie Lee Curtis, Ke Hung Quan, Stephanie Hsu, James Hong.  139 min.

 

A ubiquidade não é uma capacidade humana.  Afinal, como se diz, só Deus está em todo o lugar, a toda hora.  E disso ninguém pode dar prova.  Cada um de nós só tem o seu tempo e lugar, mesmo no mundo virtual, em que se vai e se volta de um lugar a outro instantaneamente.  Tudo bem, mas e o tal conceito do multiverso, que abrangeria universos paralelos, todos os universos possíveis, incluindo aquele em que estamos?  Esses universos incluem tudo: espaço, tempo, matéria, energia, etc..  Poderíamos nos comunicar e interagir com nossos universos paralelos, indo e voltando, no tempo e no espaço?  A heroína Evelyn (Michelle Yeoh) de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” sim, consegue entrar e sair de seus universos paralelos, voltar, alterar configurações e até se perder nessa confusão toda.  No universo ficcional do cinema, isso possibilita um filme de ação constante -- e cansativo, diga-se –, aventura, ficção científica, comédia e até drama, tudo isso junto e misturado.  O que não deixa de ser bem original.  Mas haja paciência para suportar as mais de 2 horas de duração dessa epopeia.  A Academia do Oscar gostou tanto que indicou o filme em 11 categorias, o que o coloca acima dos outros concorrentes.  Por enquanto.  Vamos ver se o entusiasmo inicial se confirmará.  Para mim, o filme agradou bastante até um certo ponto, depois o tempo custava a passar e tudo aquilo já não fazia sentido nenhum.  Aliás, sentido o filme não tem, mesmo.  A não ser mostrar que, se podemos ser tudo o tempo todo, na verdade não somos nada e nada tem importância.

 



OS BANSHEES DE INISHERIN (The Banshees of Inisherin). Irlanda, 2022.  Direção: Martin McDonagh.  Elenco: Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon, Barry Keoghan, Sheila Flitton.  114 min.

 

O que deu nas distribuidoras desse filme, no Brasil, de lançá–lo como “Os Banshees de Inisherin”?  O que é isso?  O filme já é estranho, com esse título, então...  Bem, em Portugal, o filme foi lançado como “Os Espíritos de Inisherin”.  Melhor, mas tem a ver com uma mulher idosa que é mensageira da morte, antevê a morte, algo parecido com as nossas carpideiras, embora estas chorem e cantem a morte, mais do que a prevejam.  Inisherin não significa nada para nós, mas, como é uma ilha e fica na Irlanda, bastaria substituir esse nome pela característica geográfica ou pelo nome do país, para nos comunicar algo que fizesse algum sentido.  Títulos à parte, o filme nos remete à pequenez e às limitações da vida na ilha, nos anos 1920, onde a única coisa a fazer, além do trabalho rural, é ir ao bar, ritualmente frequentado por dois amigos, sempre nos mesmos horários e condições.  Quando um deles resolve romper com isso, ou seja, romper com a amizade que sempre os uniu, isso vai produzir problemas de toda a ordem, na vida de ambos.  O clima das relações mostrado na narrativa tem a ver com estranheza do papo óbvio e primitivo do personagem Pádraic (Colin Farrell), que esconde um mal aparentemente ingênuo.  Colm (Brendan Gleeson) expressa uma insatisfação com o decorrer da existência, investe na música  em busca de alguma transcendência, ao mesmo tempo em que se revela de forma abrupta e produz uma maldade autodestrutiva, que mergulha no terror. No pano de fundo, a guerra civil na Irlanda mostra que está por ali também. A morte ronda por lá. Tudo isso sem perder o ar de comédia, um humor negro que se nutre dessa estranheza a que estou me referindo.  O filme é agradável de se ver, até um certo ponto.  No momento em que o horror se precipita, começa a prevalecer um clima desagradável, em que se fica na expectativa do que efetivamente vai suceder e de como se resolverá a questão.  Aí, em sua parte final, o filme decepciona, a meu juízo.  Quanto aos dois atores principais: Colin Farrell está ótimo, encarnando com precisão seu personagem, e Brendan Gleeson faz um bom complemento da dupla, o que segura o filme. Kerry Condon, como Slobhan, a irmã de Pádraic, também tem ótimo desempenho. “Os Banshees de Inisherin” têm 9 indicações para o Oscar.




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