Antonio Carlos Egypto
TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO (Everything everywhere all at once). Estados Unidos, 2022. Direção e roteiro: Daniel Qwan e Daniel
Scheinert. Elenco: Michelle Yeoh, Jamie
Lee Curtis, Ke Hung Quan, Stephanie Hsu, James Hong. 139 min.
A
ubiquidade não é uma capacidade humana.
Afinal, como se diz, só Deus está em todo o lugar, a toda hora. E disso ninguém pode dar prova. Cada um de nós só tem o seu tempo e lugar, mesmo
no mundo virtual, em que se vai e se volta de um lugar a outro
instantaneamente. Tudo bem, mas e o tal
conceito do multiverso, que abrangeria universos paralelos, todos os universos
possíveis, incluindo aquele em que estamos?
Esses universos incluem tudo: espaço, tempo, matéria, energia,
etc.. Poderíamos nos comunicar e
interagir com nossos universos paralelos, indo e voltando, no tempo e no
espaço? A heroína Evelyn (Michelle Yeoh)
de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” sim, consegue entrar e sair de seus
universos paralelos, voltar, alterar configurações e até se perder nessa
confusão toda. No universo ficcional do
cinema, isso possibilita um filme de ação constante -- e cansativo, diga-se –,
aventura, ficção científica, comédia e até drama, tudo isso junto e
misturado. O que não deixa de ser bem
original. Mas haja paciência para
suportar as mais de 2 horas de duração dessa epopeia. A Academia do Oscar gostou tanto que indicou
o filme em 11 categorias, o que o coloca acima dos outros concorrentes. Por enquanto.
Vamos ver se o entusiasmo inicial se confirmará. Para mim, o filme agradou bastante até um
certo ponto, depois o tempo custava a passar e tudo aquilo já não fazia sentido
nenhum. Aliás, sentido o filme não tem,
mesmo. A não ser mostrar que, se podemos
ser tudo o tempo todo, na verdade não somos nada e nada tem importância.
OS BANSHEES DE INISHERIN (The Banshees of Inisherin). Irlanda,
2022. Direção: Martin McDonagh. Elenco: Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry
Condon, Barry Keoghan, Sheila Flitton.
114 min.
O que
deu nas distribuidoras desse filme, no Brasil, de lançá–lo como “Os Banshees de
Inisherin”? O que é isso? O filme já é estranho, com esse título,
então... Bem, em Portugal, o filme foi
lançado como “Os Espíritos de Inisherin”.
Melhor, mas tem a ver com uma mulher idosa que é mensageira da morte,
antevê a morte, algo parecido com as nossas carpideiras, embora estas chorem e
cantem a morte, mais do que a prevejam.
Inisherin não significa nada para nós, mas, como é uma ilha e fica na
Irlanda, bastaria substituir esse nome pela característica geográfica ou pelo
nome do país, para nos comunicar algo que fizesse algum sentido. Títulos à parte, o filme nos remete à
pequenez e às limitações da vida na ilha, nos anos 1920, onde a única coisa a
fazer, além do trabalho rural, é ir ao bar, ritualmente frequentado por dois
amigos, sempre nos mesmos horários e condições.
Quando um deles resolve romper com isso, ou seja, romper com a amizade
que sempre os uniu, isso vai produzir problemas de toda a ordem, na vida de
ambos. O clima das relações mostrado na
narrativa tem a ver com estranheza do papo óbvio e primitivo do personagem
Pádraic (Colin Farrell), que esconde um mal aparentemente ingênuo. Colm (Brendan Gleeson) expressa uma
insatisfação com o decorrer da existência, investe na música em busca de alguma transcendência, ao mesmo
tempo em que se revela de forma abrupta e produz uma maldade autodestrutiva,
que mergulha no terror. No pano de fundo, a guerra civil na Irlanda mostra que
está por ali também. A morte ronda por lá. Tudo isso sem perder o ar de
comédia, um humor negro que se nutre dessa estranheza a que estou me
referindo. O filme é agradável de se
ver, até um certo ponto. No momento em
que o horror se precipita, começa a prevalecer um clima desagradável, em que se
fica na expectativa do que efetivamente vai suceder e de como se resolverá a
questão. Aí, em sua parte final, o filme
decepciona, a meu juízo. Quanto aos dois
atores principais: Colin Farrell está ótimo, encarnando com precisão seu
personagem, e Brendan Gleeson faz um bom complemento da dupla, o que segura o
filme. Kerry Condon, como Slobhan, a irmã de Pádraic, também tem ótimo
desempenho. “Os Banshees de Inisherin” têm 9 indicações para o Oscar.
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