sexta-feira, 16 de setembro de 2022

5 CASAS

 ANTONIO CARLOS EGYPTO

                                



  

5 CASAS.  Brasil, 2021.  Direção: Bruno Gularte Barreto.  Documentário.  85 min.

 

“5 Casas”, documentário gaúcho de Bruno Gularte Barreto, se insere numa tendência atual de construir uma obra a partir de uma experiência pessoal, familiar, ou que inclua ou dialogue com essa experiência.

 

É o caso desse belo documentário que sabe explorar as emoções da vida pessoal com um talento visual muito claro.  Por exemplo, quando vai revelando fotos antigas, há muito guardadas, à luz de velas e quando fixa essas fotos nas paredes da casa sem reboque.  Ou, ainda, quando projeta uma foto do menino, tirada no estúdio de fotografia da pequena cidade, que ocupava uma parede da casa dos pais, por iniciativa da mãe.

 

Tudo tem início quando o cineasta é instado a voltar à sua pequena cidade natal, Dom Pedrito, no interior do Rio Grande do Sul, e cuidar de caixas de papelão abandonadas num galpão, cujo teto desabou.  Isso o obriga a mexer em fotos, objetos, lembranças do passado, que ali tinham ficado após a morte dos pais do diretor, há vinte anos. 

 

A partir disso, revisita sua cidade e algumas figuras marcantes para ele e para a comunidade.  Com isso, acaba explorando as características que marcam socialmente esse mundo e põem em evidência o chamado Brasil profundo, da simplicidade e do afeto, mas também da pobreza, do preconceito, da crueldade.

 



Filma uma velha professora que procura continuar a viver na casa onde sempre morou, tentando mantê-la em pé e a salvo da especulação imobiliária, que deseja demoli-la.   Entrevista um velho capataz, pouco antes de morrer, que viveu isolado numa antiga fazenda considerada assombrada.  E repercute essa solidão e os sonhos de poder voltar a cavalgar.

 

 Uma freira poderosa, que comandou uma instituição educacional, com competência e mão de ferro, é sumariamente obrigada pela Congregação, por voto de obediência, a deixar a cidade a contragosto e apesar dos apelos da comunidade para que pudesse ficar.  Reencontra um amigo de infância que nunca escondeu sua homossexualidade e que expõe as agressões que sempre sofreu e volta a sofrer, quando retorna à cidade.

 

A nostalgia dá lugar à pequenez e à sordidez das pessoas humanas que não abriram suas cabeças, não puderam ampliar seus horizontes e acabam se alimentando de pequenas e grandes crueldades.  Um caldo de cultura para alimentar o fascismo nosso de todos os dias, explorado por uma extrema direita que destrói e arrasa.  O pequeno universo de Dom Pedrito torna-se, assim, eloquente e representativo e a vida pessoal do cineasta ilustra o necessário e urgente caminho de saída rumo à oxigenação, sem se esquecer das raízes que o constróem, para o bem ou para o mal.



Um comentário:

  1. Aprecio documentários especialmente esse que tem como protagonista uma criança, ambientado no Rio Grande do Sul, região de fronteira com o Uruguai, região que conheci há muitos anos atrás. Bom.p

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