sexta-feira, 22 de outubro de 2021

FEMININO E NOVO NA # 45 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

Questões femininas recebem tratamento cinematográfico relevante em três filmes, dois, dirigidos por mulheres e um, por homem, todos novos diretores, em seu primeiro longa-metragem.

 



LUA AZUL, Romênia.  Direção: Alina Grigore.  Elenco: Ioana Chitu, Mircea Postelnicu, Mircea Silaghi, Vlad Ivanov.  90 min.

 

Uma família disfuncional, em que as pessoas se relacionam de forma ríspida, agressiva, umas mandando nas outras, vivendo em ambiente rural.  As evidências mostram que a opressão maior se dirige às mulheres, que não dispõem de poder sobre a propriedade e o trabalho na fazenda, nem liberdade sobre a sua própria vida pessoal.  Teoricamente, poderiam sair de lá, se quiserem, mas serão vistas como traidoras, cujo retorno será, então, indesejável.  Mesmo que o motivo da saída seja querer estudar em Bucareste.  Pelo valor libertador do conhecimento e para respirar os ares da cidade grande.  Quem já se comporta de forma a realizar alguns enfrentamentos com os homens da casa, é vista e tachada como descontrolada, perdida, louca.  A mulher nunca pode ser forte e inteligente num mundo marcado pelo machismo estrutural e conceitualmente apegado a preconceitos misóginos.  O tom duro do drama, que praticamente não comporta nenhum afeto, incomoda tanto quanto o nítido esmagamento da liberdade feminina, que ele mostra o tempo todo.  Não é, porém, um filme sem esperança.  Essas mulheres lutam com as armas que têm, se apoiam e tentam vencer esse processo de desumanização que estão vivendo.  As figuras masculinas ou estão atuando desesperadamente para se manter no poder pela atitude violenta ou se incomodam profundamente com virtudes femininas, como a inteligência, o conhecimento e a ousadia que os humilham.  Boa estreia da diretora Alina Grigore.

 



FORTE CLARÃO (Destello Bravio).  Espanha.  Direção: Ainhoa Rodriguez.  Elenco: Guadalupe Gutiérrez, Carmen Valverde, Isabel Mendonza.  96 min.

 

Aqui as mulheres se veem sem perspectivas, numa pequena cidade rural suspensa no tempo, que mingua ao invés de crescer.  A opressão ocorre pela apatia, pela falta de possibilidades de ser e de viver com prazer, realizando desejos, construindo uma existência interessante.  Mas a busca de vivências libertadoras está por trás desse cotidiano destruidor, pela esperança de um clarão muito forte e poderoso, capaz de mudar tudo.  Enquanto ele não vem, é a igreja, com seus santos, procissões, imagens de sacrifício, que ocupa a cena.  E casamentos que são verdadeiras prisões.  O que domina aqui é o tédio, até que a fantasia possa se realizar.  Uma boa imagem desse mundo que oprime pela ausência envolve a todos, mas mais fortemente as mulheres, é o que o filme da diretora Ainhoa Rodriguez nos oferece em sua estreia.

 



A TAÇA QUEBRADA (La Taza Rota).  Chile.  Direção: Esteban Cabezas.  Elenco: Juan Pablo Miranda, María Jesús González, Moisés Ângulo, Roman Cabezas.  73 min.

 

O filme chileno “A Taça Quebrada” focaliza um problema comum e bem dramático: o da separação de um casal, com um filho, em que o marido não consegue aceitar e superar a separação, enquanto a esposa reconstrói sua vida com outro homem.  O filho, ainda pequeno, é o elo que os liga e é sempre uma oportunidade para que o pai entre na casa onde morou, se imiscua na vida da mulher e tente reconquistá-la a qualquer preço.  Bem, o preço a pagar poderia ser terrível, descambar para a violência doméstica contra a mulher, produzir dramas que acabem em tragédia.  Não é o caso aqui.  O melodrama se desenvolve com baixa densidade, menos interessado nos gritos do que na sutileza dos sentimentos e atitudes, tanto dele, como dela, que está presa numa teia da qual não consegue se soltar.  Evidencia-se a vulnerabilidade da mulher nessas situações, mesmo que o homem seja o elo mais fraco da história.  Um bom roteiro do diretor Esteban Cabezas, em parceria com Álvaro Ortega, garante o interesse dessa estreia promissora.

@mostrasp



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