Antonio Carlos Egypto
O CHARLATÃO (Charlatan). República
Tcheca, 2020. Direção: Agnieska
Holland. Com Jan
Vlasák, Joachim Paul Assböck, Ivan Trojan, Juraj Loj, Martin Mysicka. 92 min.
“O Charlatão”, que concorreu como
representante da República Tcheca ao Oscar de filme internacional, desenvolve
sua história de modo clássico – narrativa linear mais flash backs -- mas inclui múltiplos elementos de interesse para o
público. O filme, dirigido pela
realizadora polonesa Agnieska Holland, baseia-se em fatos reais que envolveram
o curandeiro tcheco Jan Mikolásek, no período pós Segunda Guerra, em Praga.
Ele possuía um dom de diagnosticar e
curar, a partir da observação da urina dos pacientes, colocada em vidro
transparente, apenas com as informações de gênero e idade das pessoas. Jardineiro na adolescência, acumulou um
conhecimento do poder curativo das plantas, por meio de composições de
chás. Obteve grande êxito junto ao
público, que formava filas diárias de uma centena de interessados nesse
tratamento. Chegou a atender figurões
da república, tanto no período da ocupação nazista quanto no período comunista,
pelo menos até a morte do presidente Antonin Zapotochý, que chegou a ser seu
paciente.
Já se vê, portanto, que a sua saga vai
trazer implicações políticas e dialogar com um período histórico de grandes
mudanças para a humanidade. Os fatos
específicos que se passam na Tchecoslováquia de então envolvem alguns detalhes
pouco conhecidos por nós. Porém, o clima
geral do contexto histórico-político é bastante claro, visto em seu conjunto.
O drama desse personagem passa, ainda,
por uma questão pessoal, em função da relação homossexual que manteve com seu
assistente, que, concomitantemente, vivia um casamento heterossexual. Portanto, temos aí uma tensão no terreno
amoroso, com a agravante de que a homossexualidade era crime no país, nessa
época.
Todos esses elementos vão desaguar num
filme de tribunal, em que Mikolásek será julgado pela morte de dois de seus
pacientes, atendidos à distância (por meio do envio do vidro de urina
identificado), que acabaram morrendo com uma dose de veneno, supostamente
envolvida no medicamento.
A trama é hábil em combinar todos os
elementos na resolução dos conflitos na parte final do filme. E também em não tomar partido com relação aos
atos que definem o personagem, especialmente suas supostas atividades curativas.
Para nós, que por aqui acompanhamos o
tal João de Deus, curandeiro que praticava reiteradamente abuso sexual em
mulheres, o charlatanismo dos kits da covid-19 e a insistência em empurrar
cloroquina a pacientes, fica difícil ser tolerante com essas práticas. O fato é que curandeiros têm seu charme,
muito apelo popular e há tantas coisas mal explicadas ou inexplicadas que nem
mesmo os próprios envolvidos entendem, que fica difícil cravar uma
verdade. Como diria Shakespeare, “há
mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”. E acrescento uma ideia que ouvi do dr. Dráuzio
Varella, uma vez. Quer tomar passe, se
benzer, usar florais, terapias alternativas ou simplesmente rezar, faça isso,
mas nunca deixe de seguir as orientações da medicina, da ciência,.e fazer os
tratamentos devidos. As palavras não
seriam exatamente essas, mas o sentido sim. A propósito: não deixe de tomar vacina,
incluindo a segunda dose, certo?
Obrigada amigo.muito interessante t
ResponderExcluirTua analise. Nao estamos ainda indo ao cinema .so em casa por enquanto bjs