quinta-feira, 8 de julho de 2021

O CHARLATÃO

Antonio Carlos Egypto

 

 




O CHARLATÃO (Charlatan).  República Tcheca, 2020.  Direção: Agnieska Holland.  Com Jan Vlasák, Joachim Paul Assböck, Ivan Trojan, Juraj Loj, Martin Mysicka.  92 min.

 

“O Charlatão”, que concorreu como representante da República Tcheca ao Oscar de filme internacional, desenvolve sua história de modo clássico – narrativa linear mais flash backs -- mas inclui múltiplos elementos de interesse para o público.  O filme, dirigido pela realizadora polonesa Agnieska Holland, baseia-se em fatos reais que envolveram o curandeiro tcheco Jan Mikolásek, no período pós Segunda Guerra, em Praga.

 

Ele possuía um dom de diagnosticar e curar, a partir da observação da urina dos pacientes, colocada em vidro transparente, apenas com as informações de gênero e idade das pessoas.  Jardineiro na adolescência, acumulou um conhecimento do poder curativo das plantas, por meio de composições de chás.  Obteve grande êxito junto ao público, que formava filas diárias de uma centena de interessados nesse tratamento.   Chegou a atender figurões da república, tanto no período da ocupação nazista quanto no período comunista, pelo menos até a morte do presidente Antonin Zapotochý, que chegou a ser seu paciente.

 

Já se vê, portanto, que a sua saga vai trazer implicações políticas e dialogar com um período histórico de grandes mudanças para a humanidade.  Os fatos específicos que se passam na Tchecoslováquia de então envolvem alguns detalhes pouco conhecidos por nós.  Porém, o clima geral do contexto histórico-político é bastante claro, visto em seu conjunto.

 

O drama desse personagem passa, ainda, por uma questão pessoal, em função da relação homossexual que manteve com seu assistente, que, concomitantemente, vivia um casamento heterossexual.  Portanto, temos aí uma tensão no terreno amoroso, com a agravante de que a homossexualidade era crime no país, nessa época.

 

Todos esses elementos vão desaguar num filme de tribunal, em que Mikolásek será julgado pela morte de dois de seus pacientes, atendidos à distância (por meio do envio do vidro de urina identificado), que acabaram morrendo com uma dose de veneno, supostamente envolvida no medicamento.

 




A trama é hábil em combinar todos os elementos na resolução dos conflitos na parte final do filme.  E também em não tomar partido com relação aos atos que definem o personagem, especialmente suas supostas atividades curativas.

 

Para nós, que por aqui acompanhamos o tal João de Deus, curandeiro que praticava reiteradamente abuso sexual em mulheres, o charlatanismo dos kits da covid-19 e a insistência em empurrar cloroquina a pacientes, fica difícil ser tolerante com essas práticas.  O fato é que curandeiros têm seu charme, muito apelo popular e há tantas coisas mal explicadas ou inexplicadas que nem mesmo os próprios envolvidos entendem, que fica difícil cravar uma verdade.  Como diria Shakespeare, “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”.  E acrescento uma ideia que ouvi do dr. Dráuzio Varella, uma vez.  Quer tomar passe, se benzer, usar florais, terapias alternativas ou simplesmente rezar, faça isso, mas nunca deixe de seguir as orientações da medicina, da ciência,.e fazer os tratamentos devidos.  As palavras não seriam exatamente essas, mas o sentido sim.  A propósito: não deixe de tomar vacina, incluindo a segunda dose, certo?



  

Um comentário:

  1. Obrigada amigo.muito interessante t
    Tua analise. Nao estamos ainda indo ao cinema .so em casa por enquanto bjs

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