sábado, 22 de fevereiro de 2020

CINEDICAS:5 FILMES

Antonio Carlos Egypto


FRANKIE (Frankie).  França, 2019.  Direção: Ira Sachs.  Com Isabelle Huppert, Brendan Glesson, Marisa Tomei, Jerémie Renier, Pascal Greggory.  100 min.
“Frankie” trata de uma situação pesada, um encontro de despedida da vida de uma famosa atriz, com sua família e amigos.  No entanto, o diretor estadunidense Ira Sachs desenvolve esse evento, que poderia ser macabro, com beleza e sutileza.  Consegue leveza onde não se esperaria.  A começar pela própria Frankie, vivida lindamente por Isabelle Huppert, uma das maiores atrizes do nosso tempo.  Seu personagem lida com a perspectiva da morte iminente com o máximo de discrição, sem drama, mas sem negar a realidade e em busca de uma interação humana gratificante e tranquilizadora.  Além disso, o filme exibe a beleza da cidade portuguesa de Sintra, tão charmosa, elegante e diáfana, que dá uma moldura especial a esse encontro que, se fosse possível, muitos gostariam de viver.  Reflexivo, comovente e apaziguador, apesar de tudo o que envolve.  Um ótimo elenco contracena com Huppert em “Frankie”.

FRANKIE


MEU NOME É SARA (My Name Is Sara).  Estados Unidos, 2019.  Direção: Steven Oritt.  Com Zuzanna Surowy, Konrad Chichon, Pawel Królikowski, Eryk Lubos.  111 min.
A história, baseada em fatos reais, que se conta aqui, passa-se na Ucrânia, durante a ocupação alemã do país, na Segunda Guerra Mundial.  Porém, como o filme é norte-americano, o tempo todo fala-se inglês, exceto quando entram em ação os comunicados dos dominadores alemães, que chegam na cena a ser traduzidos para o inglês, para que a população os entenda (sic).  Sara (Zuzanna Surowy), aos 15 anos de idade, com sua família inteira morta pelos nazistas, assume a identidade de uma amiga, para conseguir ser acolhida para trabalhar numa fazenda, escondendo sua origem judaica, para poder sobreviver.  Só que o casal de fazendeiros e seus filhos que a acolhem têm outros problemas, além de serem roubados, saqueados, pelos alemães e pelos russos.  Eles têm questões familiares e amorosas que complicam a situação de Sara e exigem dela ajustes difíceis e um jogo de cintura que ela terá de aprender rapidamente.  Esses elementos complicadores é que despertam interesse numa trama que já foi bastante explorada pelo cinema.  A realização cinematográfica é boa e a atriz protagonista, uma revelação e um achado para o papel. 

DILILI EM PARIS (Dilili à Paris).  França, 2018.  Direção: Michel Ocelot.  Animação.  95 min.
Quem viu a trilogia “Kiriku” sabe do que é capaz Michel Ocelot.  Suas animações são belíssimas, requintadas, inteligentes.  “Dilili em Paris”, seu novo trabalho, é um luxo, ao homenagear Paris com a beleza plástica do seu traço artesanal e explorar os elementos vinculados à cultura francesa, que povoaram a cidade no final do século XIX e começo do XX. A chamada belle époque reuniu figuras como Sarah Bernhardt, Claude Debussy, Auguste Rodin, Toulouse Lautrec, Claude Monet, Louis Pasteur, Madame Curie, Pablo Picasso, Luís Buñuel, Santos Dumont, Marcel Proust e tantos mais.  Pois todos eles, de um modo ou de outro, participam da trama da garotinha Dilili e seu amigo entregador, que vão combater as forças do mal responsáveis por uma onda de sequestros de menininhas em Paris.  A animação tem um tom feminista, ao expor os absurdos a que podem estar submetidas as meninas, e as mulheres.  Um encanto.


CICATRIZES

CICATRIZES (Savovi).  Sérvia, 2019.  Direção: Miroslav Terzic.  Com Snezana Bogdanovic, Marco Bacovic, Jovana Stojiljkovic. 97 min.
O que se vê no desenrolar do filme sérvio, dirigido por Miroslav Terzic, em seu segundo longa, ambientado em Belgrado, são as cicatrizes de um passado que move os personagens.  Acompanhamos uma mulher, sua família, seu trabalho, seus contatos.  A cada sequência nos deparamos com impropriedades.  As relações humanas são estranhas, pesadas, ásperas.  Os comunicados, misteriosos ou simplesmente lacônicos.  Há perigos no ar.  E vamos descobrindo, aos poucos, o que está em jogo.  Sem nunca entender muito bem do que se trata.  Até que, no terço final do filme, a situação se esclarece.  Mesmo assim, não se resolve, porque é preciso encarar o que ficou para trás.  Então, novas ações vão trazer uma nova configuração ao conflito.  Cicatrizes eternas, ao que parece.  Um belo trabalho dramático, com um roteiro bem construído, que estimula o espectador a seguir a trama com interesse.  O tema abordado, que envolve maternidade, fatos e escolhas do passado, é bem relevante, do ponto de vista psíquico.

O JOVEM AHMED (Le Jeune Ahmed).  Bélgica, 2019.  Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne.  Com Idir Ben Addi, Olivier Bonnaud, Myriem Akheddiou, Victoria Bluck..  84 min.
Os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne dirigiram “O Jovem Ahmed” tratando de um personagem adolescente, de 13 anos, muçulmano religioso fanático.  E o fazem com muito talento ao descrever e desenvolver as situações e atitudes do personagem, que acaba se envolvendo numa tentativa de assassinato em nome de Alá.  No entanto, a forma como se conclui o drama ao final não chega a ser muito convincente.


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