terça-feira, 27 de agosto de 2019

BACURAU

Antonio Carlos Egypto






BACURAU.  Brasil, 2018.  Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.  Com Sonia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen, Thomás Aquino, Silvero Pereira, Karine Teles, Antonio Saboia.  132 min.


“Bacurau”, o novo filme de Kleber Mendonça Filho (de “O Som ao Redor”, 2013, e “Aquarius”, 2015) e Juliano Dornelles é um western  brasileiro.  Segue a trilha dos históricos “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, 1963, e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, 1969, de Glauber Rocha (1938-1981).  Filmes que já se pautavam por grande força política e preocupação social, tentando desvendar um universo nordestino, marcado pela violência opressora, de um lado, e resistente, de outro.  Dialoga também com a produção nacional que sempre teve nos cangaceiros uma fonte de inspiração permanente e oportunidade de pensar e de criar a partir da realidade do nordeste brasileiro, para alcançar o país.

“Bacurau” incorpora novos elementos a tudo isso.  Tem invasores agressores e poderosos.  Que chegam a tirar o povoado do mapa e produzem assassinatos aparentemente inexplicáveis, se valendo até de drones com aspecto de disco voador.  Falam inglês, seu comandante é um alemão com pinta e comportamento de nazista, e os colaboradores que atuam com eles falando português, além do inglês, são desprezados e descartados na primeira oportunidade.  Ou seja, estamos no terreno da alegoria política, que soa tão atual, mas talvez seja mesmo uma constante da nossa história.  Até porque nada se nutre do momento atual, embora pareça inspirado nele.  Percepção acurada?  Premonição?   Visão apurada do processo histórico, vista da relação entre a casa- grande e a senzala e na dimensão internacional que as envolve.




“Bacurau” mistura ação e reflexão no mesmo produto.  É um filme forte, intrigante, provocador, mas é também uma aventura, muito envolvente.  Por isso, pode ser visto como um filme de gênero, embora não esteja preocupado em seguir cartilhas ou convenções.  Fala ao sentimento do público, mostra uma violência que tem de ser decifrada e que, afinal, nos leva a algumas conclusões.  Talvez distintas, para cada grupo de espectadores.  Mas que deve mexer com todo mundo, de um  jeito ou de outro.

Um elenco enorme e dedicadíssimo a seus personagens passa uma sensação de grande veracidade e nos remete a um mundo tão familiar quanto parece distante.  Sonia Braga, como a dra. Domingas, reúne as dimensões da solidariedade e do descontrole, a nos indicar a profunda humanidade da figura que encarna.  Udo Kier é a maldade forasteira, mas também o impasse e a solidão.  Bárbara Colen faz Teresa, mulher forte e lutadora. Os forasteiros colaboracionistas são patéticos, mas a gente até se esquece disso porque Karine Teles e Antonio Saboia nos conquistam pela qualidade de seus desempenhos.  Thomás Aquino, como Pacote, e o inusitado bandido local Lunga, papel de Silvero Pereira, nos mostram como é estar no fio da navalha entre a fome e o crime.  Todos os personagens são bem construídos e têm um ator ou atriz à sua altura.

A trilha sonora é também bem marcante, vai de Gal Costa e o objeto voador não-identificado a Geraldo Vandré, passando por Sérgio Ricardo. Marcos reconhecíveis da resistência que marcou a nossa música e o nosso cinema, que combinam bem com a temática tratada no filme.




A comunidade do povoado da Barra, no Rio Grande do Norte, divisa com a Paraíba, onde a maior parte do filme foi gravada, participou ativamente dos trabalhos de apoio à produção e como figurantes, contribuindo para a autenticidade das situações mostradas.

“Bacurau” é um filme de peso da produção brasileira recente, que já vem recebendo o maior reconhecimento internacional, na forma de convites para mais de 100 festivais e mostras de cinema pelo mundo e já com prêmios conquistados nos festivais de cinema de Munique, na Alemanha, em Lima, no Peru, e o importante prêmio do Júri, do Festival de Cannes.

“BACURAU” ENTRA, EU SAIO
“Bacurau” entra nos cinemas na próxima 5ª., dia 29 de agosto, e eu saio em viagem por algumas semanas, dando uma folga para vocês dos meus textos.  Até breve!


2 comentários:

  1. Boa viagem para vocês. Aguardamos o retorno. Grande abraço

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  2. NOSSA...parece um filme muito bom....bem atualizado e com atores excelentes*** uma oportunidade para se ver e rever realidades nordestinas ***Mas...um tanto forte...né.

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