VARDA POR AGNÈS (Varda Par Agnès). França,
2018. Direção e roteiro: Agnès
Varda. Documentário. 115 min.
Agnès Varda (Bruxelas, 1928 – Paris, 2019) foi
uma das maiores diretoras do cinema, em toda a sua história de mais de 120
anos. Considerada precursora da nouvelle
vague, pelo filme “Le Pointe Courte”, em 1954, participou desse período
muito especial do cinema francês, que deixou frutos permanentes até hoje, ao
lado de seu marido, Jacques Demy (1931-1990), François Truffaut (1932-1984),
Jean-Luc Godard (nascido em 1930), Alain Resnais (1922-2014), Eric Rohmer
(1920-2010), Jacques Rivette (1928-2016), Claude Chabrol (1930-2010), Louis
Malle (1932-1995) e outros. Como se vê,
um time de peso, que tem nessa mulher feminista, preocupada com as causas
sociais, um de seus maiores destaques, como cineasta e multiartista.
Agnès realizou seu último filme, este “Varda
Por Agnès”, pouco antes de falecer, aos 90 anos. Está sendo lançado agora, postumamente. Quando um cineasta importante morre,
costumamos buscar na sua obra, sobretudo nas produções finais, um
filme-testamento, aquele que serviria de síntese ou deixasse a marca definitiva
de seu trabalho. No caso de Varda, ela
mesma se encarregou de fazer seu testamento artístico, por meio de um balanço
pessoal de seu legado cinematográfico, ao abordar seus filmes que obtiveram maior
destaque, já que sua obra é grande demais para ser toda lembrada. Foram 64 anos de dedicação ao cinema.
Em
“Varda Por Agnès”, ela expõe os três pilares do seu fazer cinematográfico: a
inspiração, a criação e o compartilhar.
E comenta o início de sua trajetória com “Le Pointe Courte”, fala de
“Cleo das 5 às 7”, de 1962, que se detém em duas horas de relógio de
perambulação de uma mulher jovem por Paris, enquanto aguarda o resultado de um
exame para saber se tem ou não câncer.
Passa por “As Duas Faces da Felicidade” (Le Bonheur), de 1965, que mexeu com os valores da época de forma
suave mas firme, ao questionar a possibilidade de amor simultâneo por duas
pessoas. Comenta os trabalhos dedicados
a Demy, o grande amor de sua vida, com quem viveu de 1962 até sua morte, em
1990. “Jacquot de Nantes” trata das
recordações de infância, 1990, e “O Universo de Jacques Demy”,1993, da obra
dele, que ela trabalhou bastante para restaurar e preservar.
Foto de Neusa Barbosa |
Trata
também do belo filme de ficção que fez em 1985, “Os Rejeitados” ou “Sem Teto
Nem Lei”, de “Jane B. por Agnès”, de 1987, dos magníficos documentários “Os
Catadores e Eu”, de 2002, “As Praias de Agnès”, de 2008, e “Visages Villages”,
de 2017, de outros trabalhos na fotografia, nas artes plásticas, com
instalações muito criativas, inclusive uma casa feita de películas de
filmes. Enfim, ela expõe com
simplicidade e consciência do que fez, uma obra artística monumental. Não por acaso, ela recebeu, em 2015, a Palma
de Ouro do Festival de Cannes, prêmio honorário, e também o Oscar honorário, em
2017, ambas premiações pelo conjunto da obra.
Agnès Varda deixa um grande legado para a
história do cinema, que merece ser visto e revisto, a começar, é claro, por
esse trabalho-testamento, que chega em boa hora aos nossos cinemas. “Varda Por Agnès” é um filme obrigatório para
quem gosta de cinema e para quem quer conhecer mais dessa senhora cineasta,
pequena no tamanho, imensa na arte.
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