quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

GUAXUMA

Antonio Carlos Egypto






Os curtas-metragens podem trazer novas ideias e experimentações técnicas, além de revelar novos talentos de cineastas.  A produção brasileira é importante e significativa no formato.  O acesso a eles é que é um pouco complicado.

É possível ver curtas em festivais, que dedicam espaços específicos para eles.  Há o Festival de Curtas, o Anima Mundi e outros.  Além disso, é possível vê-los em programações de alguns canais de TV pagos.  Ou encontrá-los disponíveis pela Internet.  É pouco.  Exige uma garimpagem, uma busca deliberada. Por isso é importante a iniciativa da distribuidora Arteplex Filmes e da programação dos cinemas Itaú de abrir espaço permanente aos curtas em sessões de cinema, a preços acessíveis (R$14,00 a inteira e R$7,00, a meia).

O programa que inaugura essa tendência não podia ser melhor.  É o curta-metragem GUAXUMA, agraciado com o prêmio Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) para o melhor curta brasileiro de 2018.  A sessão chamada de “GUAXUMA e Outras Histórias” mostra o trabalho da diretora alagoana Nara Normande.  Inclui o curta de ficção “Sem Coração”, de 2014, e o curta de animação, “Dia Estrelado”, de 2011.

GUAXUMA é um trabalho criativo, que envolve uma combinação de recursos e técnicas a serviço de uma narrativa em primeira pessoa, supostamente autobiográfica, da diretora.  Ela trata de memória, real ou imaginária, que remonta à sua infância, vivida na praia de Guaxuma, Alagoas, e de sua melhor amiga, Tayra, da mesma idade, com dez dias de diferença no nascimento.  Nara e Tayra formam uma dupla inseparável, que afinal se separa, mas mantém uma relação duradoura de amizade.  Com a separação, a praia idílica é substituída pela cidade, mas o mar vai dentro de Nara.  E ela sempre volta, até no inverno, quando uma praga nos cajus se espalha ao vento, produzindo uma espécie de neve.  A narração dá conta dos sentimentos, lembranças, perdas e mudanças.




A combinação de filmagens, do mar e da praia, com suas ondas e árvores, se associa aos bonecos, desenhos, origamis, fotos antigas e areia em relevo construindo esculturas, mais a aceleração de imagens gravadas, compõem um painel fascinante.  Associado a um uso muito criativo do som, produz uma pequena joia fílmica, de apenas 17 minutos, que justifica a ida ao cinema.

GUAXUMA estreou em Annecy, na França, foi premiado nos festivais Anima Mundi, de Gramado, de Brasília, e no de curtas em São Paulo, com o prêmio do público.  Foi escolhido como o melhor filme narrativo, no Festival de Animação de Ottawa, no Canadá, melhor curta-documentário em Hamptons, USA, em Amsterdã, Holanda, e em Toronto, Canadá.  Tão inovador, que classificá-lo em um único gênero fica difícil.

Quem for ver “GUAXUMA e Outras Histórias” poderá conferir o talento da diretora também em ficção com atores, ao tratar de meninos em iniciação sexual, fazendo de uma menina, a “sem coração” do título, um objeto e público, para seus desejos egoístas.  Mas o significado de dar e receber pode ir além do mero impulso.  “Sem Coração”, codirigido por Tião, tem 25 minutos de duração.  Também recebeu muitos prêmios.

“Dia Estrelado”, com 17 minutos, complementa o programa, mostrando a diretora já com domínio das técnicas de animação.  Com certeza, Nara Normande tem muito mais a oferecer ao cinema brasileiro, daqui para a frente.  Vale acompanhar.




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