sábado, 8 de dezembro de 2018

MARIA CALLAS EM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS


Antonio Carlos Egypto




MARIA CALLAS EM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS (Maria by Callas).  França, 2017.  Direção: Tom Volf.  Documentário.  113 min.


Maria Callas (1923-1977) tem sido reconhecida como a maior cantora lírica do século XX ou, mesmo, de toda a história do bel canto.  Um documentário que pretenda registrar sua figura humana e sua obra musical tem, antes de mais nada, que apresentar sua performance vocal às novas gerações.  Esse é o primeiro mérito do filme de Tom Volf: é possível vê-la e ouvi-la cantar vários números, do começo ao fim de cada canção.  Evita-se, assim, aquela sensação de colcha de retalhos, excertos musicais que não dão a dimensão real do trabalho artístico.

A vida de Maria Callas foi cercada de polêmicas, amores, frustrações, cobranças do público e da crítica.  A maneira encontrada pelo documentário para abordar tudo isso foi montar o filme todo por meio das palavras da própria cantora, como o título em portiuguês já entrega.  Entrevistas, depoimentos, cartas, gravações em vídeo, dão conta da dimensão dessa vida intensa e rica, totalmente dedicada à música e ao amor.

Callas, nascida em Nova York, de uma família de imigrantes gregos, se naturaliza grega, por conta de seu envolvimento amoroso com Aristóteles Onassis que, apesar de provocar grande decepção e frustração, acabou resistindo, pelo menos como forte amizade, até a morte dele.  Segundo o que se vê no filme, e o tempo decorrido em cada relacionamento confirma, o papel de Maria Callas na vida de Onassis foi muito mais forte do que o de Jacqueline Kennedy.  E o de Onassis para Callas, total e arrasador. 



O que “Maria by Callas” enfoca bem é o desgaste provocado por uma vida de constantes desempenhos espetaculares, exigidos e amados pelo público, que impõem um preço alto a pagar.  Quando uma doença e a perda da voz obrigam a suspensão de um espetáculo no meio, isso assume ares de tragédia e as críticas e incompreensões se estabelecem.

O conflito entre uma vida artística tão exigente e a vida pessoal e familiar que não se realizam nunca em plenitude é o que está na base da abordagem do filme.  Maria tem que levar Callas para todo lugar e para sempre, comprometendo sua intimidade e suas pretensões a uma vida simples e comum.  A celebridade engole a pessoa. 

Além  de excepcional cantora, Maria Callas era também boa atriz.  Aliás, condição indispensável para o seu retumbante êxito na ópera.  Daí para a experiência no cinema é um pulo.  Ela trabalhou para ninguém menos que Pier Paolo Pasolini (1922-1975), em “Medeia”, por exemplo.  Mas a carreira cinematográfica não chegou a decolar.  Sua missão maior – a difusão do canto lírico para diversas gerações – venceu tudo.  Já próxima da morte, Maria Callas buscava, mais uma vez, retornar aos palcos, lugar onde ela se sentia em casa.

O filme de Tom Volf emociona, ao resgatar essa bela história, incluindo imagens raras de arquivo, filmagens pessoais, cartas íntimas, e ao nos apresentar maravilhosas performances musicais da grande diva.  É daqueles filmes que colecionadores gostarão de ter em casa, para ver e rever.  A arte e a beleza são fascinantes para quem desenvolve a sensibilidade para apreciá-las.





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