Antonio Carlos
Egypto
OS INVISÍVEIS (Die Unsichtbaren). Alemanha,
2017. Direção: Claus Räfle. Com Max Mauff, Alice Dwyer, Ruby O. Fee,
Aaron Altaras, Sergej Moya. 110 min.
Em junho de 1943, o ministro Joseph Goebbels
declarou Berlim “livre de judeus”. Mas,
na verdade, cerca de 7000 judeus permaneceram na capital alemã, na
clandestinidade, a maior parte jovens.
1700 deles conseguiram sobreviver até o final da guerra. Para que isso fosse possível, era preciso que
muitos alemães – dezenas de milhares – ajudassem a escondê-los ou, pelo menos,
deixassem de denunciá-los. O que indica
que, apesar do maciço apoio ao regime nazista, havia uma oposição humanitária e
corajosa, agindo silenciosamente nos subterrâneos.
Esse fato histórico é o que é explorado em “Os
Invisíveis”, uma ficção não só inspirada na realidade comprovada, como mesclada
ao documentário, por meio de entrevistas com os sobreviventes retratados na
narrativa do filme de Claus Räfle. São
eles Cioma Schönhaus (1922-2015), interpretado por Max Mauff, Ruth Arndt
(1922-2013), papel de Ruby O. Fee, Hanni Lévy, nascida em 1924 e vivendo em
Paris, interpretada por Alice Dwyer, e Eugen Friede, nascido em 1926 e vivendo
na Suíça, papel de Aaron Altaras.
Pequena parte das entrevistas feitas com esses quatro sobreviventes, que
são os protagonistas da trama, aparece no filme entremeada com a evolução da
narrativa ficcional.
A sobrevivência de Cioma, Hanni, Ruth e Eugen
é mostrada alternadamente em histórias paralelas, sem encontro entre eles. Cada
um deles, todos muito jovens, se torna “invisível” de forma diferente, numa
clandestinidade que aparece à luz do sol.
Cioma, estudante de artes gráficas, acabou trabalhando como falsificador
de passaportes e se utilizou desse mesmo recurso para se salvar, chegando à
fronteira com a Suíça, onde passou a viver.
Hanni, de 17 anos, após a morte dos pais
encontrou refúgio ao ser acolhida por uma vendedora de ingressos de cinema em
sua casa, após pintar o cabelo de loiro, o que a tornava algo invisível. Passava a maior parte do tempo na rua.
Ruth vive uma odisseia de esconderijo em esconderijo, se disfarça de
viúva de guerra e trabalha como empregada doméstica na casa de um oficial das forças
armadas do Terceiro Reich.
Eugen, de 16 anos, único na família que
precisava usar a estrela amarela porque tinha mãe judia e padrasto cristão,
viveu escondido e se juntou a um grupo de resistência que, por meio de
panfletos, denunciava crimes nazistas.
O que eles vivem, mostrado realisticamente,
mas em tom poético, com suspense e até humor, traz um retrato humanista, muito colado á realidade,
e esperançoso, quase otimista, apesar de toda a barbárie. A forte sustentação documental do filme se
explica por anos de pesquisa, instituições alemãs que preservam a memória do
período e pela longa experiência anterior do cineasta como documentarista.
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