Antonio Carlos
Egypto
Alguns filmes latino-americanos se destacaram
na 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, como costuma acontecer em
todas as edições. Nessa, o que mais chamou
a atenção foram os muitos filmes argentinos exibidos. Vi vários deles, mas também filmes do Uruguai,
México e Guatemala.
TRAGAM
A MACONHA, do Uruguai, é dirigido por um trio: Denny
Brechner, Alfonso Guerrero e Marcos Hecht.
É uma comédia de ficção, baseada no fato de que a venda da maconha foi
legalizada no país. Sendo legalizada, é
preciso suprir a demanda, mas como conseguir 50 toneladas em pouco tempo, se o
país não tem produção da erva? A solução
é sair pelo mundo divulgando o assunto e tratando de obter vendedor, além de
conseguir transportar o produto ao Uruguai.
Para isso, cria-se, só na Internet, a Câmara Uruguaia da Maconha Legalizada. E todo mundo acredita que exista essa
instituição. O ex-presidente Pepe Mujica
participa do filme e apoia o seu humor, com simplicidade, como é o seu estilo
de ser. Bem divertido.
TRAGAM A MACONHA |
Outro uruguaio, EL CREADOR DE UNIVERSOS, é um documentário de Mercedes Dominioni
sobre seu filho, o jovem Juan, de 15 anos, com características autistas, que
faz filmes domésticos com Rosa, sua avó de 96 anos. É a sua forma de criar, viver e compartilhar
suas dificuldades e sua solidão com ela, já bem idosa e com doenças e
limitações. Uma produção modesta, mas
interessante.
JOSÉ,
da Guatemala, segundo longa do chinês Li Cheng, entra em cheio na questão
social: a pobreza, a exclusão, o papel da religião e do trabalho precário, numa
vida de muita carência e falta de segurança.
O caminho da prostituição masculina, aliado ao subemprego do jovem José,
de 19 anos, se mistura ao desejo homossexual, em meio à relação com a mãe e os
valores religiosos que ela e toda a sociedade local valorizam. Uma realidade que para nós é, também, bem
conhecida. O diretor nasceu na China,
estudou nos Estados Unidos e morou dois anos na Guatemala. Mostrou
sensibilidade para retratar a dura situação que viu por lá, por meio de uma
ficção bem construída.
Entre os filmes argentinos, LA QUIETUD, do experiente cineasta
Pablo Trapero, mostra muita força.
Conflitos familiares, sexualidade intensamente experimentada, traumas
emocionais, negócios escusos, decisões pesadas, fazem lembrar o universo de
Nelson Rodrigues. Mas sem histrionismo.
O estilo de Trapero é elegante, até discreto.
E coloca a sanguinária ditadura militar que a Argentina viveu de 1976 a
1983 como elemento fundamental da trama, que tem roteiro do próprio diretor.
LA QUIETUD |
O
ANJO, direção e roteiro de Luís Ortega, indicado pela
Argentina para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, é uma ficção baseada em
fatos reais. Mostra que crimes bárbaros
podem ser praticados não só por psicopatas estranhos, mas por gente jovem,
bonita e capaz de expressões emocionais.
É o caso do adolescente Carlitos, o anjo loiro da morte, que revelou
grande talento para cometer crimes. O
filme não vai muito além disso, não me parece à altura dos fortes concorrentes
usuais do país ao Oscar.
VIAJE
A LOS PUEBLOS FUMIGADOS, documentário do grande diretor
argentino Fernando Solanas, denuncia com muita competência as consequências
sociais e ambientais do chamado agronegócio, com sua produção de transgênicos à
base de agrotóxicos. As comunidades
atingidas pela prática das fumigações sofrem com contaminações e doenças muito
graves. Porém, o que resulta disso
atinge a todos nós, que nos alimentamos de venenos, quando cremos estar
consumindo uma comida saudável.
Alternativas existem e precisam ser melhor conhecidas, mais difundidas,
mais praticadas.
JULIA
E A RAPOSA, segundo longa de Inés María Barrionuevo, focaliza
uma ex-atriz que retorna à sua pequena cidade, na província de Córdoba, na
Argentina. A partir da retomada de uma
casa grande, ela se reencontra com seu passado e com o que marca a vida da
comunidade, seus problemas e idiossincrasias.
Bom trabalho.
MOCHILA
DE CHUMBO, segundo longa do argentino Darío Mascambroni, põe
em evidência um garoto de 12 anos, Tomás, que, sem a presença efetiva dos
adultos da família, vive na rua com sua mochila, que contém uma arma
carregada. E se propõe a desvendar o que
aconteceu com seu pai. As ações e os
riscos de se crescer ao desamparo e sem apoio educacional são o aspecto
principal do filme a ser considerado.
Ainda vou ver VERMELHO SOL, um outro filme argentino, que vem muito bem
recomendado. O mexicano ROMA, um dos
melhores da Mostra, comentarei na próxima postagem.
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