Antonio Carlos
Egypto
UM INSTANTE DE AMOR (Mal de Pierres). França,
Bélgica, 2016. Direção: Nicole
Garcia. Com Marion Cotillard, Louis
Garrel, Alex Brendemühl. 120 min.
Distúrbios mentais podem trazer comportamentos
extremados, contrastantes e mesmo opostos, na mesma pessoa, como, de um lado, a
exacerbação do desejo, de outro, o isolamento, a depressão, ou o binômio
agressividade e apatia. E, ainda, serem
recheados de sentimentos persecutórios e a presença de delírios ou
alucinações. Personagens assim costumam
ser muito explorados pelos roteiros cinematográficos em filmes de mistério,
suspense, fantasia ou terror, mas é menos frequente encontrá-los nas histórias
de amor.
A personagem Gabrielle, magnificamente interpretada
por Marion Cotillard, em “Um Instante de Amor”, de Nicole Garcia, é uma figura
assim, cheia de contrastes e incongruências, com reações que escapam ao seu
próprio controle e surpreendem os que com ela convivem.
Os pais dela buscam acalmar seu furor por meio de um
casamento arranjado, que vai complicar as coisas, envolvendo um contrato,
digamos, alternativo, que colocará em jogo a vida sexual, a questão da gravidez
e até mesmo a do aborto. O marido, o pedreiro José, em muito bom desempenho de
Alex Brendemühl, entra no jogo, mas mesmo assim sofre consequências inesperadas
e doloridas para sua vida.
O destino de Gabrielle acaba sendo um sanatório, que
se baseava na cura ou no alívio, proporcionado por águas termais. A razão desse rumo seriam dores renais, um
mal de pedras do título original de Milena Agus, Mal de Pierres, que inspirou “Um Instante de Amor” e que a
personagem apresentaria. Algo como o
deslocamento do problema mental para um elemento físico do corpo, este mais possível
de admissão e tratamento do que a “loucura”.
Lá, Gabrielle conhece um militar, o tenente André, papel de Louis
Garrel, doente em estado terminal. E
dessa relação algo importante surgirá.
O que é objetivo ou subjetivo nessa história acabará
sendo a grande questão do filme, uma vez que esses limites estão borrados pelas
características da personagem de Gabrielle e de suas circunstâncias.
Uma história de amor inusitada resulta dessa trama e
acaba por surpreender o espectador, oferecendo à grande atriz Marion Cotillard
uma oportunidade para explorar uma personagem complexa e intrigante. De Louis Garrel, ao contrário, se exige o
minimalismo interpretativo de alguém que já perdeu suas forças, e de Alex
Brendemühl, ambiguidade e contenção.
Esse trio de protagonistas é um dos pontos altos do filme. A personagem Gabrielle e a atriz que lhe dá
vida são a razão de ser e sustentáculo de “Um Instante de Amor”.
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