quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O LOBO DO DESERTO


Antonio Carlos Egypto




O LOBO DO DESERTO (Theeb).  Jordânia, 2014. Direção: Naji Abu Nowar.  Com Jacir Eid, Hassan Mutlag, Hussein Salameh, Marji Audeh, Jack Fox.  100 min.



“O Lobo do Deserto”, produção capitaneada pela Jordânia (com Emirados Árabes, Qatar e Reino Unido), concorre ao Oscar 2016 de filme estrangeiro.  Está entre os cinco selecionados para a disputa.  É produto de um diretor estreante, Naji Abu Nowar, que mostra inegável talento na filmagem de uma história centrada na figura de uma criança, o Theeb, do título original, que vive uma jornada de imenso perigo e sobrevive.

O contexto histórico não fica muito claro para nós, mas estamos no deserto da Arábia, em 1916, em meio à Primeira Guerra Mundial. 




Theeb (Jacir Eid), que significa lobo, vive numa tribo beduína em algum ponto distante do Império Otomano. O menino convive com seu irmão maior, que procura lhe ensinar o estilo de vida beduíno.  O sheik, seu pai, morreu recentemente.  E é da perspectiva iminente da morte, todo o tempo, que vive a narrativa centrada no menino.

Vemos a chegada de um oficial britânico àquelas paragens, pedindo ajuda para localizar um poço romano, no caminho para Meca, antiga rota de peregrinos, agora tomada por bandidos, mercenários, revolucionários e corsários. E Theeb, mesmo a contragosto dos viajantes, acompanha o irmão, o oficial e seu companheiro, numa jornada repleta de perigos, tiroteios e mortes, que remete ao gênero western.  As linhas de trem anunciam que os camelos vão cedendo a vez ao progresso.




O filme, ao se focar na figura do menino, se exime de explicar melhor o contexto.  Tanto quanto nós, espectadores, o menino não sabe o que está acontecendo.  Porque as pessoas se matam nesse local do deserto, o que está em jogo, que papel tem o oficial inglês nessa história e o que ele carrega consigo que parece valioso. A Theeb cabe, prematuramente, se defender, se esconder, sair de um poço onde caiu, manejar armas, conviver com um homem que não conhece e não sabe direito a que veio, escalar montanhas de pedra e, enfim, tentar sobreviver.

O clima de tensão é criado ao explorar em panorâmicas ao mesmo tempo um ambiente misterioso, belo e assustador, e ao focar bem de perto a figura de Theeb, seu irmão maior e outros personagens, colocando-nos dentro da ação.  Uma ação, como disse, um tanto incompreensível.  Estamos vivendo os fatos como se fôssemos uma criança, como é Theeb, com cerca de 10 anos de idade.  É evidentemente assustadora a jornada vivida pelo menino.




A trama não desvenda propriamente o mistério, mas constrói um conjunto de situações que não só envolve o espectador como o intriga.  Tudo vai ficando um pouco mais claro à medida que os eventos se sucedem.  A sequência final fecha bem a trama.  Até surpreende, mas o mistério das relações envolvidas permanece.

É uma bela produção, muito bem realizada.  Uma boa surpresa em termos cinematográficos esse filme da Jordânia, que já conquistou alguns prêmios importantes, como um BAFTA, distribuição garantida em muitos países e disputa o Oscar dentro de alguns dias.


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