Antonio
Carlos Egypto
v Sou fã do doce de feijão japonês.
Sempre que vou ao bairro da Liberdade, é obrigatório incluí-lo nas
compras. Há de vários tipos, todos deliciosos.
O filme “O Sabor da Vida”, de Naomi Kawase, mostra como se prepara um
deles, uma espécie de sanduíche de massa, com pasta de feijão. O filme é lindo,
delicado, mas nem tudo são flores, ou melhor, feijões. O assunto tratado inclui velhice, solidão,
isolamento, doença e discriminação.
v A Colômbia tem dois ótimos filmes na Mostra. “A Terra e a Sombra” mostra os terríveis
efeitos da queima da cana sobre o ambiente e as pessoas. Em escala destruidora. Não pude me esquecer dos efeitos dessas
queimas por aqui mesmo, em Piracicaba.
Quem circula por lá, sabe do que se trata. A situação melhorou, mas o filme lembra que é
preciso ficar atento.
v Quanto ao outro colombiano, “O Abraço da Serpente”, todo passado
na Amazônia, em busca de plantas divinas, com lendas e mistérios, concordo com
a observação do meu amigo, cinéfilo e crítico, Helcio Hirao. Com tanta beleza natural para mostrar, por
que fazer esse filme em preto e branco?
Tinha de ser colorido, claro.
v Uma coisa muito boa é a força do cinema latino-americano nessa
Mostra. Maria do Rosário Caetano,
companheira da Abraccine, que edita o famoso Almanakito na Internet, apontou bem. Onde mais, senão na Mostra, você lota
completamente, sem um único lugar vago, uma sessão de cinema do Shopping Frei
Caneca, para ver um filme da Venezuela.
Foi o caso de “Desde Allá”, indicado pelo país para a disputa do Oscar
de filme estrangeiro. E sabem
quando? Na segunda-feira (isso mesmo,
segunda), dia 26 de outubro, às 18 horas.
Inacreditável, não é?
v Tirei ingresso para ver o filme francês “É o Amor”, na sala 6 do
Frei Caneca, e não me dei conta de que tinha entrado na sala 5. Ninguém conferiu o ingresso e começou um
outro filme, também francês, que só quando apareceram os primeiros créditos eu
vi que estava assistindo a “Cruel” e não “É o Amor”. Acho que não fiz uma boa troca involuntária,
não. Era um policial daqueles de
assassinos em série, que matam sem razão alguma, ou por razões que estão na
infância comprometida do personagem. Até
que tem seu charme, mas é manjado e violento.
v Não costumo me interessar muito por filmes que se dedicam a
explorar o mundo dos mortos que se comunicam com os vivos. Percebi que era disso que se tratava no filme
polonês “Body”, embora a sinopse da Mostra não entregasse. O espiritismo aparece em destaque e, numa
cena, a medium fala da importância e disseminação que essa corrente tem no Brasil,
com números e tudo. Só que, pensando bem, pela abordagem do filme, o Brasil
ficou mal na fita.
v “Para o Outro Lado”, de Kiyoshi Kurosawa, é outro filme em que o
assunto é o relacionamento dos vivos com os mortos, no caso, um marido que se
afogou e volta para casa três anos depois.
A mulher o recebe e não estranha muito essa volta, eles partem em
missões. Bem realizado, mas
decepcionante. Para quem já não curte
muito essa temática, é overdose.
v Num mesmo dia, vi dois filmes que tratam das mazelas da igreja
católica, “O Apóstata”, da Espanha/Uruguai, e “O Culpado”, da Alemanha. São bons filmes, mas não vão fundo na
questão, ou tergiversam e perdem força.
Estão muito longe do chileno “O Clube”, de Pablo Larraín (ver crítica no
cinema com recheio), que continua em
cartaz nos cinemas.
v Da leva de filmes nórdicos, vi, por exemplo, “Vovó Está Dançando
na Mesa”, sueco, que conta com a animação de bonecos de massinha e tudo o
mais. Dá para acreditar que se trata de
um filme opressivo, violento e sufocante?
Não é nada do que parece ser.
v “Mistress América” é um filme que me lembrou daquela antiga frase
que virou letra de música de Marcos Valle: “Não confio em ninguém com mais de
30 anos”. É dirigido aos que têm 20 e
poucos anos, estão na faculdade ou vivendo em repúblicas de estudantes. Os demais podem ignorar.
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