terça-feira, 22 de setembro de 2015

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA


Antonio Carlos Egypto


João Miguel como Matraga


A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA.  Brasil, 1965.  Direção: Roberto Santos.  Com Leonardo Villar, Jofre Soares, Maurício do Valle, Maria Ribeiro, Flávio Migliaccio.  109 min.

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA.  Brasil, 2011. Direção: Vinícius Coimbra.  Com João Miguel, José Wilker, Vanessa Gerbelli, Irandhir Santos, Chico Anysio, José Dumont.  106 min. 


O terreiro lá de casa
Não se varre com vassoura
Varre com ponta de sabre
E bala de metralhadora.

“A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, baseado na obra de Guimarães Rosa, realizado em 1965 com a direção de Roberto Santos, é um dos maiores clássicos do cinema brasileiro.  Foi um dos filmes mais fortes e impactantes da minha juventude.  As interpretações de Leonardo Villar, Jofre Soares, Maurício do Valle, Maria Ribeiro e Flávio Migliaccio, inesquecíveis.  A música que Geraldo Vandré fez para o filme é espetacular, nunca poderia me esquecer dela porque a tenho em disco de vinil até hoje e ouço de quando em quando.


Leonardo Villar como Matraga


Só revi o filme há poucos meses, numa sessão da Cinemateca Brasileira, dentro da retrospectiva dedicada ao cineasta Roberto Santos, que o exibiu no telão em cópia restaurada.  O impacto foi o mesmo.  O filme é belíssimo.

Vencedor do Festival de Brasília de 1966, sua circulação obviamente sofreu muito com a ditadura militar/civil do período e muita gente não chegou a conhecê-lo.  Não houve lançamento em DVD.  Quem entrar no Google vai encontrar facilmente a cópia integral dele, mas não vale a pena ver.  A imagem é ruim e compromete essa obra-prima do cinema nacional.  Fiquem de olho em alguma outra exibição no cinema da cópia restaurada, que aí a história é outra.




Agora chega aos cinemas uma nova versão de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, sob a direção de Vinícius Coimbra.  O filme foi realizado em 2011, mas só em 2015 está sendo lançado em circuito regular. Ele foi premiado no Festival do Rio, em 2011, como melhor filme, pelo Júri Oficial e pelo Júri Popular.  Mesmo assim, questões de direitos e burocráticas o mantiveram fora de cartaz até hoje.

Nessa nova versão da obra de Guimarães Rosa, coube a João Miguel, grande ator, o papel de Augusto Matraga, que originalmente foi vivido pelo grande Leonardo Villar. Ele se sai muito bem na difícil empreitada de viver um personagem que se transforma de modo radical e tem agressividade e mansidão em proporções alternadas, crueldade e beatitude em escalas similares.




A nova versão traz também José Wilker, como Joãozinho Bem-Bem, e tem a participação especial de Chico Anysio, como o Major Consilva.  Dois grandes nomes que já se foram, figuras queridas e talentosas, que ver em cena é sempre muito bom. Vanessa Gerbelli e Irandhir Santos também compõem o ótimo elenco do filme, que ainda conta com participações especiais de José Dumont e Gorete Milagres.  Enfim, de grandes atores e atrizes o filme está cheio.

Para que possamos admitir a ausência da música de Geraldo Vandré, que dialogava tão diretamente com o texto e a história, na versão original, o novo Matraga põe a música sublime de Tom Jobim com grande orquestra, inundando a tela de um som magnífico.  Deu para compensar.




A versão atual de Matraga destaca e valoriza bem a prosa original de Guimarães Rosa e dá à saga do personagem uma dimensão de aventura ao estilo faroeste, capaz de envolver o público.  É um bom trabalho, que merece ser visto.

Quanto à inevitável comparação que farão todos os que conhecem o filme original, é preciso considerar que os tempos são outros, as intenções mudam, a própria tecnologia de filmar muda.  O Matraga original é um exemplar bem acabado do cinema novo brasileiro da época, que renovou a linguagem cinematográfica nessas plagas.  Para mim, incomparável.




O que não significa que não se possa revisitar essa obra tão importante da literatura, como é este conto de “Sagarana” e buscar uma nova forma de apresentá-la.  Seria preciso realizar esse trabalho com a competência e a dignidade que ele merece.  Isso, o filme de Vinícius Coimbra alcançou.




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