Antonio
Carlos Egypto
NABAT (Nabat). Azerbaijão, 2014. Direção: Elchin Musaoglu. Com: Fatemeh Motamed Arya, Vidadi Aliyev,
Sabir Mamadov, Farhad Israfilov. 105
min.
Um dos grandes prazeres em acompanhar a Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo é descobrir pérolas escondidas numa vasta
programação de mais de 300 filmes. São,
muitas vezes, pequenas produções de países distantes e que não se destacam
especialmente pelo cinema. As poucas
sessões dedicadas a filmes como esses podem ter sido mal localizadas, em salas
menos centrais, por isso menos concorridas.
Foi exatamente esse o caso do filme “Nabat”, produção
do Azerbaijão, do diretor Elchin Musaoglu, estreando em longas-metragens. Ele teve sessões na sala da biblioteca Mário
de Andrade, na Matilha Cultural, na Cinemateca e apenas uma, na região da Av.
Paulista: no cine Livraria Cultura. Como
gosto de garimpar em busca das tais pérolas, arrisquei essa escolha e fui até a
Cinemateca. Fiquei maravilhado com o que
vi. A começar pela qualidade da
projeção: impecável. A sala nem estava
cheia, mas tinha um público razoável. O
filme, de uma beleza incrível.
Cada plano daria um quadro, um filme luminoso, de
encantar o olhar. A locação, uma pequena
vila rural cercada de montanhas, de uma natureza exuberante, perfeita para
compor a obra cinematográfica do ponto de vista plástico.
Confesso que o que acontecia, ou deixava de
acontecer, me envolvia muito menos do que apreciar a fotografia, os
enquadramentos, a luz, a beleza do lugar.
Quem diria que um diretor de cinema estreante, da ex-república soviética
do Azerbaijão, seria capaz de produzir tanta beleza? Ele cursou o Instituto de Arte e Cultura do
seu país e o Instituto Estatal de Arte Teatral de Moscou, que devem ter sido de
grande valia para desenvolver o seu talento, sobretudo, visual.
A trama remete à vida numa pequena vila, que vai
sendo atingida por uma guerra que só cresce.
Nabat (Fatemeh Motamed Arya) vive com seu marido velho e doente,
afastada do centro da vila. O filho foi
morto em batalha. Mas não se vê a
guerra, só se ouvem os tiros, os animais que vão sumindo e as pessoas que vão
abandonando suas casas. Restará uma
loba.
A sobrevivência vai se tornando cada vez mais
difícil, à medida em que o leite da única vaca que possuem já não tem nem mesmo
quem pague para consumi-lo. Apesar
disso, a fome não é iminente: sobram coisas nas casas, há árvores frutíferas
despencando seus frutos. Mas Nabat vai
vivendo uma experiência cada vez mais solitária.
Acompanha-se essa narrativa sofrida e quase sem
diálogos, porque cada vez há menos gente, mas o filme se mantém forte e belo o
tempo todo. Duvido que mesmo os que não suportam o ritmo lento e
os tempos mortos no cinema consigam sair da sessão num filme tão belo como
esse. Na em que eu estive, ninguém
saiu. Todos apreciaram no maior silêncio
e, surpreendentemente, sem que os celulares acendessem, atrapalhando a
concentração dos demais. Bom sinal.
No entanto, vocês podem me perguntar: por que
escrever sobre um filme que ninguém mais vai ver e que não vai entrar no
circuito dos cinemas? E eu lhes
digo. Primeiro, porque eu gosto de
escrever sobre os filmes que têm a capacidade de me maravilhar. Até para não esquecê-los. Segundo, porque quem sabe assim eu contribua
para que algum exibidor brasileiro se anime a trazê-lo para o nosso circuito. Os cinéfilos certamente agradeceriam.
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