quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A OESTE DO FIM DO MUNDO


Antonio Carlos Egypto




A OESTE DO FIM DO MUNDO.  Argentina/Brasil, 2012.  Direção: Paulo Nascimento.  Com César Troncoso, Fernanda Moro, Nelson Diniz.  104 min.


Num tempo em que as pessoas são bombardeadas por imagens, estão plugadas o tempo todo, não há o tempo e o espaço indispensáveis para parar, observar, pensar em si mesmas e na vida, um filme que se propõe a ser uma experiência contemplativa cai muito bem.  Ou melhor, cairia, se as pessoas se dispusessem a isso.

É o caso, por exemplo, do filme “A Oeste do Fim do Mundo”, produção argentina e brasileira, rodada na região de Mendoza, em Uspallata, na majestosa Cordilheira dos Andes, na Argentina, nas proximidades do Chile.




A locação, por si só, já vale o filme.  A fotografia realça a beleza da paisagem.  Montanhas imponentes, de uma mansidão que contrasta com sua força.  Um lugar perdido no meio do nada.  Um homem solitário, um posto de gasolina, que recebe, ocasionalmente, algum caminhão ou outro veículo, que param para abastecer.  Numa das primeiras cenas do filme, um furgão  para, mas León (César Troncoso), o homem do posto, está comendo.  Termina calmamente de mastigar, antes de se dispor a atender o freguês.  Sem pressa.  Assim como a paisagem é completamente outra, o tempo também é.

Quem ali vive, ou por ali vai ficando, está fugindo de algo, de si mesmo, dos conflitos e culpas que carrega consigo ou de sua incapacidade de dar conta dos desafios que a vida lhe apresenta.  Ou, quem sabe, de crimes que cometeu.  Poderia até não ser assim.  Mas, no caso dos personagens de “A Oeste do Fim do Mundo”, é assim.



Lá estarão convivendo com o argentino León os brasileiros Silas (Nelson Diniz), motociclista sarcástico que passa sempre pelo posto, trazendo peças para consertar uma moto, e Ana (Fernanda Moro) que, circunstancialmente, teve de parar por ali e foi ficando. A presença dela modifica a vida não só de León como de Silas e, é claro, dela mesma.  Enfrentamentos podem doer muito, mas são coisas necessárias à nossa existência.

O filme faz tudo a seu tempo.  Pouco a pouco vai mostrando os personagens, seus silêncios, medos, suas poucas falas e os mistérios que escondem. A malfadada guerra das Malvinas se faz presente.  Não é uma história original a que vai se revelando.  É até previsível, pode-se inferi-la antes de que seja revelada, mas vale aproveitar esse tempo para conhecê-los, cercados pelas montanhas, apartados do mundo, na Ruta 7, Argentina, na imensidão da estrada transcontinental da Cordilheira.




O ótimo ator uruguaio César Troncoso faz o protagonista León, que contracena com o personagem brasileiro de Nelson Diniz, que se expressa em espanhol, e a personagem de Fernanda Moro, que só fala português com ambos.  A importância da língua como marca de um povo é explorada pelo filme, que se preocupa com a questão da identidade e do pertencimento a um agrupamento humano que dê sentido à vida.  Na origem, claro, está sempre a família.

Bom trabalho do diretor  gaúcho  Paulo Nascimento, que realizou “A Oeste do Fim do Mundo”, filmando a história na ordem e nos horários reais das cenas, já que a intensa mudança de luz na Cordilheira tornaria difícil a utilização de outro processo de filmagem.  O filme está sendo apresentado nos cinemas com uma sessão diária acessível, com audiodescrição e legendas.




Um comentário:

  1. Se há uma razão porque eu gosto deste filme é a participação do ator César Troncoso, um dos meus favoritos no cinema e teatro. Um filme com um enredo interessante que vale a pena ver.

    ResponderExcluir