quinta-feira, 10 de julho de 2014

VIVA A LIBERDADE

Antonio Carlos Egypto



VIVA A LIBERDADE (Viva la Libertá).  Itália, 2013.  Direção: Roberto Andò.  Com Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Valeria Bruni Tedeschi, Michela Cescon, Anna Bonaiuto. 97 min


Após o sucesso e o prestígio adquiridos com o filme “A Grande Beleza”, de Paolo Sorrentino, o ator Toni Servillo está de volta num filme em que se destaca por dois papéis de protagonista bem diferentes, “Viva a Liberdade”.

O primeiro deles é Enrico Olivieri, político, secretário do principal partido de oposição e candidato que não anda empolgando muito o eleitorado.  Está em baixa nas pesquisas, tem sido contestado em público e dentro de seu próprio partido.  Anda deprimido, sem capacidade de reação.  Na verdade, não tem muito a dizer.  Sua história política é medíocre, burocrática, suas mensagens parecem superadas, sem criatividade.




O outro protagonista do filme é o personagem Giovanni Ernani, irmão gêmeo univitelino do político, que é filósofo brilhante, tem transtorno bipolar, esteve uma temporada no manicômio.  É uma figura alegre, inteligente e inofensiva.  Mas que escapa aos controles, por sua mente ágil e lúcida e sua capacidade de improvisar.

Quando Enrico desaparece sem deixar vestígios, seu assessor e sua esposa saem em sua busca, sem sucesso, e se lembram de procurar por Giovanni, que adorará ocupar o lugar de seu irmão na campanha. Quando o candidato reaparece, repentinamente, para o eleitorado, surpreende pelo que diz e faz, mas sua mudança é aprovada pela opinião pública.  Está posto o imbroglio.



Toni Servillo modula os personagens Enrico e Giovanni de forma bem distinta, ambos inteiramente convincentes.  Enrico, acuado, depressivo, vai em busca de sua liberdade pessoal e encontra caminhos a trilhar distantes do jogo político.  Sua apatia vai se transfigurando em alegria, descobertas e afetividade.  Antigas lembranças amorosas preenchem seus dias, ele vai se transformando.

Enquanto isso, ele faz de Giovanni uma espécie de louco manso, que se compraz em expressar suas verdades de uma forma simbólica, sugerindo mais do que afirmando, fazendo pensar.  O que tem tudo para soar hermético, filosófico, diante do discurso político usual, parece especialmente claro, sincero e verdadeiro.  A mansidão e aparente segurança do orador dão muito bem o tom ao personagem.




Presente em todas as cenas do filme, alternando os dois protagonistas, Toni Servillo mostra do que é capaz um grande ator.  É ele que sustenta toda a narrativa.  A história é boa, o filme é bem dirigido, abre espaço para uma reflexão interessante sobre a realidade política e eleitoral, a comunicação entre candidato e eleitores e os limites da ação dos partidos.  Além disso, discute a dimensão pessoal das realizações humanas, em que poder e felicidade podem estar em desarmonia.  Também possibilita avaliar o poder da palavra, quando empregada no momento apropriado.  Mas o desempenho do ator faz toda a diferença.  Dá uma dimensão maior ao trabalho realizado pelo diretor Roberto Andò.

O momento em que “Viva a Liberdade” está sendo lançado nos cinemas brasileiros é muito apropriado: em ano eleitoral, a poucos meses do pleito nacional,  mostrando bastidores da política eleitoral, mas focalizando o debate por um outro ângulo.


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