Antonio
Carlos Egypto
VERMELHO BRASIL (Rouge Brésil). Brasil,
França, Canadá, 2013. Direção: Sylvain Archambault. Com Stellan Skarsgard, Joaquim de Almeida,
Théo Frilet, Juliette Lamboley, Giselle Motta.
100 min.
“Vermelho Brasil”, o longa-metragem que está
sendo exibido nos cinemas, provém de uma série de TV que envolve diferentes
países. Uma coprodução do Brasil com
França, Portugal e Canadá. O projeto da
série tem exibição já estabelecida para o Canadá, a Suíça, a Bélgica, a Itália,
a Espanha e a Alemanha, prevendo-se um público de 18 milhões de espectadores,
segundo informações da Conspiração Filmes.
O filme “Vermelho Brasil” se baseia no best
seller Rouge Brésil, do escritor
francês Christophe Rufin, e é dirigido pelo cineasta canadense Sylvain
Archambault. Trata da tentativa de
fundação de uma colônia, a chamada “França Antártica”, numa expedição comandada
por Nicolas Durand de Villegagnon, vivido pelo ótimo ator sueco Stellan
Skarsgard, em torno de 1550, que se estabeleceu por aqui durante algum tempo e
terminou rechaçada pelos portugueses.
É a oportunidade para contar uma aventura de
dois jovens franceses, Colombe e Just, vividos por Juliette Lamboley e Théo
Frilet, que vêm iludidos em busca do pai.
Mostra o encontro da chamada civilização europeia com o mundo indígena,
cheio de sensualidade e com conceitos de sagrado muito distintos dos
europeus. A brasileira Giselle Motta
vive a índia Paraguaçu e Pietro Mário, brasileiro de origem italiana, aparece
em dois papéis: o de um marinheiro e o de um francês que vive entre os
índios. O ator português Joaquim de
Almeida interpreta João da Silva, um lusitano já perfeitamente integrado com os
indígenas e que representa o seu país colonizador. O filme foi realizado no Rio de Janeiro, na
região de Paraty, e na França.
A produção é cara e até pomposa, mas com cores
excessivas e cultivando o exótico, a nos lembrar de que se trata mesmo de
produção televisiva. Não escapa de uns
tantos clichês sobre a relação entre civilizados
e primitivos, mas consegue gerar
belas imagens a partir da ideia de uma natureza intocada, que recebe
aventureiros de um mundo distante, mas que já encontram europeus vivendo com os
indígenas, os habitantes naturais desse novo mundo a ser desbravado.
Os jovens franceses Just e Colombe, de início,
têm a missão de aprender a língua indígena para com eles poderem se
comunicar. Supõe-se que, por serem
jovens, aprendam mais rápido. Mas, um
ano depois, isso aparece como totalmente dispensável. Todos já se entendem num mesmo idioma. E qual seria ele? O inglês.
Parece piada, mas não é. Um filme que trata de uma expedição francesa
que vai conviver com um português e índios não é falado nem em francês, nem em
português, muito menos em tupi-guarani ou similar. Todos já se entendiam em inglês. Isso, em 1555, por aí. Não dá para levar a sério. Tem um limite o interesse comercial de fazer
uma produção para divulgação internacional, na língua que mais vende nos dias
de hoje.
Fica ridículo e insustentável assistir a esse
filme falado em inglês. Perde qualquer
possibilidade de credibilidade histórica e de envolvimento com os
personagens. Quando o produto artístico
se submete ao mercado dessa forma, as boas intenções vão por água abaixo.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O filme está longe de ser uma obra digna de um Kubrick, de um Scorsese, todavia pode muito bem fundamentar uma discussão em sala de aula do fundamental e do médio sobre relações inter-étnicas e a colonização do Brasil. De fato, a opção pela língua inglesa dá um toque de artificialidade. Mas se é para ir à ferro e fogo com esta argumentação, não se pode apreciar filmes de ficção relativos ao Egito, Grécia e Roma Antiga, por que não são falados nas línguas destes povos.Noto que o conteúdo do filme propriamente dito não foi abordado e a resenha limitou-se ao problema do idioma.
ResponderExcluirQue o filme sirva a objetivos didáticos, para aulas de história, concordo. Desde que se faça a crítica dos clichês e do apelo ao exótico mencionados no texto, entre outras coisas. Destaquei o problema da língua porque foi uma escolha meramente comercial, sendo que o tema da comunicabilidade é proposto pelo filme. E muito mal resolvido.
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