ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (Tokyo Monogatari). Japão,
1953. Direção: Yasujiro Ozu. Com Chishu Ryu, Chieko Higashiyama, Setsuko Hara,
So Yamamura. 135 min.
Yasujiro Ozu (1903-1963) é um dos maiores cineastas
de todos os tempos. Ao lado de Kenji
Mizoguchi (1898-1956) e Akira Kurosawa (1912-1998) forma a trinca de ouro do
cinema japonês, pelo menos do ponto de vista do Ocidente. O Japão tem uma vasta e variada filmografia,
que já teve espaços de exibição privilegiados em São Paulo, nos cinemas que
existiam no bairro da Liberdade, e tem, obviamente, muitos autores
importantes. Ocorre que Kurosawa,
Mizoguchi e Ozu são geniais e o cinema que eles construíram abriu caminhos, fez
escola e deixou marcas inconfundíveis.
Ozu dedicou sua obra cinematográfica ao estudo das
interações humanas, a partir da família.
Intimista na abordagem, seguindo o ritmo lento da vida, ele se preocupa
com os detalhes, evita excessos dramáticos e assim capta o cotidiano. Retrata a tradição familiar a partir das
casas, sua relação com a natureza, a mudança das estações, os fenômenos
naturais, como o vento e a chuva, sempre em busca de captar o relacionamento
humano, os conflitos entre gerações.
Atento à tradição, mostra a mudança: a ocidentalização do Japão, o
avanço da tecnologia na época, a grande cidade e o tempo que se esvai,
transformando os contatos familiares.
É famoso por colocar a câmera fixa à altura do olhar
das pessoas sentadas no tatame. E a vida
se revela àquela câmera com uma profundidade psicológica que é
excepcional. Na aparente simplicidade da
técnica e da temática, emerge um cinema de grande profundidade.
Muitos são os filmes marcantes de sua filmografia,
que começa em 1927/1928, com “Zange No Yaba” e “Sonhos de Juventude”, ainda no
cinema mudo, e se encerra com o belíssimo “A Rotina Tem Seu Encanto”, de
1962. “Pai e Filha”, de 1949, “Também
Fomos Felizes”, de 1951, “Flor do Equinócio”, de 1958, “Bom-Dia” e “Ervas
Flutuantes”, de 1959, “Dia de Outono”, de 1960, são apenas alguns deles. Sua obra-prima, porém, é, reconhecidamente,
“Era Uma Vez em Tóquio”, de 1953. E é
justamente esse filme, que consta da lista dos melhores de todos os tempos da
crítica cinematográfica mundial, que está sendo relançado no cinema, numa bela
cópia restaurada digitalmente. É uma
oportunidade para não se perder.
A temática gira em torno de um casal de idosos que
mora numa pequena vila à beira-mar e decide visitar os filhos que foram viver
em Tóquio, onde cuidam de suas próprias vidas e famílias, do trabalho e da
subsistência. Eles constatam que os
filhos estão muito ocupados para recebê-los, vivem agora uma vida muito diferente
da deles. Mas uma nora, que perdeu o
marido na Segunda Guerra Mundial, os acolherá de um modo que seus filhos não
fizeram.
O interessante é que também está sendo exibido agora
nos cinemas “Uma Família em Tóquio”, do cineasta japonês Yoji Yamada, discípulo
de Ozu, realizado em 2013, que é uma refilmagem do clássico “Era Uma Vez em
Tóquio”, atualizada para o Japão de hoje, em que as relações familiares estão
mais esgarçadas e as consequências da modernidade, muito evidentes. Já as casas, o vestuário e, sobretudo, a
tecnologia mudaram radicalmente. É
também um belo filme, embora não possa se comparar a um original tão poderoso.
Uma Família Em Tóquio |
“Era Uma Vez em Tóquio” tem sido fonte de inspiração
para muitos outros filmes ao redor do mundo.
Um que é muito competente, partindo da inspiração de Ozu, é “Hanami –
Cerejeiras em Flor”, produção alemã de 2008, dirigida por Doris Dörrie, que
pode ser conferida em DVD. É um filme
encantador e emocionante, seguindo as pegadas do mestre Ozu e sua história
básica do casal de idosos, cujos filhos não têm tempo para eles, em
Berlim. Mas o Japão comparece por meio
da poesia.
Afinal, o que é o grande cinema de Ozu, senão poesia
pura? Seus seguidores bebem dessa fonte
inesgotável.
Parabéns pelo artigo, muito bom!!!
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