quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

MAZZAROPI

                        
Antonio Carlos Egypto




MAZZAROPI.  Brasil, 2013.  Direção e roteiro: Celso Sabadin.  Documentário.  97 min.


Amácio Mazzaropi (1912-1981) foi uma figura única e especial na história do cinema brasileiro.  Basta dizer que ninguém mais, antes ou depois dele, enriqueceu fazendo cinema no Brasil.  Ele, sim. Deixou um vasto patrimônio, conseguido com a renda de seus filmes, incluindo seu próprio estúdio e produtora.  Ele atuou em 32 longas-metragens, dos quais produziu 24, escreveu 21 e dirigiu 13 filmes.  E ainda cantava com frequência neles.  Vendeu cerca de 200 milhões de ingressos de cinema, numa época em que o Brasil tinha 70 milhões de habitantes.  Um fenômeno!



Mas, afinal, quem foi Mazzaropi?  Como entender essa trajetória?  Essa é a proposta do documentário “Mazzaropi”, dirigido e roteirizado por Celso Sabadin, conhecido crítico de cinema, que com muita eficiência nos revela o personagem, valendo-se da interação entre depoimentos e cenas de filmes.

Quem trabalhou ou conviveu com Mazzaropi fala sobre sua figura profissional, seu trabalho, sua personalidade, suas escolhas e possíveis frustrações, algumas vezes revelando detalhes inéditos, engraçados ou surpreendentes.  Gente como Pio Zamuner, Glauco Mirko Laurelli, Galileu Garcia, Moracy do Val, Ewerton de Castro, Selma Egrei, Marly Marley, Alfredo Sternhein, Máximo Barro, Gustavo Dahl, Paulo Duarte, seu biógrafo, o filho de criação André Luiz Toledo e outros que conviveram profissionalmente, trabalharam com ele nas diversas etapas de uma produção cinematográfica ou acompanharam de perto a carreira de Mazzaropi.  Depoimentos de pessoas muito conhecidas do público também aparecem: Hebe Camargo, Ary Toledo, Renato Teixeira, Agnaldo Rayol, Carlos Massa (o Ratinho).  Destacam-se as revelações de Ronnie Von sobre a solidariedade recebida durante uma enfermidade grave e a hilária entrevista com David Cardoso, ator de seus filmes, que imita o jeito caipira de falar de Mazzaropi e conta alguns lances de sua homossexualidade.



Entender o que é ser caipira é, por sinal, o começo da história e o diretor Celso Sabadin dedica alguns minutos, no início do filme, para revelar o que se pode entender como caipira, tanto numa compreensão sociológica quanto no entendimento artístico e no preconceito popular.  Um bom jeito de entrar no assunto.  A seguir, vamos conhecendo este humorista, ator cômico excepcional, homem de circo, de rádio e de TV, de negócios e, sobretudo, de cinema.  Dos primeiros filmes na Vera Cruz às suas produções próprias, sucessos absolutos de bilheteria, especialmente no centro-sul do país, o personagem surge por inteiro.  Um resgate importante e necessário.



O mistério do enriquecimento por meio do cinema brasileiro, de certo modo, persiste.  Cultura popular antenada com o mercado dá resultado, quando associada a um talento incomum.  O domínio e propriedade dos meios de produção, sua economia e simplicidade, também explicam muita coisa.  Mas o sucesso é sempre um tanto enigmático.  Ainda mais um êxito tão duradouro e marcante como o alcançado por Mazzaropi, que perdura até hoje nas vendas de seus filmes em DVD e na sua exibição pela TV.

O documentário “Mazzaropi”, de Celso Sabadin, foi exibido em festivais no Brasil e em Portugal e deveria ter sido lançado nos cinemas.  Infelizmente, saiu direto em DVD, de modo que essa é a forma de conhecê-lo agora.  Vale a pena ir atrás.

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