sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A FILHA DE NINGUÉM

                        
Antonio Carlos Egypto



A FILHA DE NINGUÉM (Nugu-ui Ttal-do Anin Haewon).  Coreia do Sul, 2013.  Direção e roteiro: Hong Sang-soo.  Com Jeong Eun-chae, Lee Seon Gyun, Kim Ja-ok, Yoo Joon-sang.  90 min.



“A Filha de Ninguém” é o novo trabalho do diretor coreano Hong Sang-soo, de quem já vimos nos cinemas o excelente “Hahaha” (veja crítica no cinema com recheio, dezembro de 2012). 

Haewon (Jeong Eun-chae), jovem universitária, está ás voltas com questões de relacionamento que mexem muito com ela.  Sua mãe (Kin Ja-ok) parece ser uma figura distante da família, mas cuida muito bem de tocar a própria vida.  Está indo embora, vai morar no Canadá.  Haewon vai se encontrar com a mãe e se despedir.  A partida será amanhã.  Vemos, então, o quanto essa mãe parece muito afetiva e bondosa.  Ambas estão felizes, aparentemente.  A mãe diz que não deixará de pensar na filha nem um dia e deseja o seu bem-estar. Mas isso é tudo, vai partir para tocar seu trabalho e quem sabe, um dia, se reencontrarão.  A jovem demonstra, com suas expressões, que sente o abandono, fica insegura, no entanto, tudo se dá de forma calma e até sorridente.  Um turbilhão por dentro, mas tudo muito civilizado por fora.



A outra questão, que é central no filme, diz respeito ao relacionamento amoroso de Haewon com Seongjun (Lee Seon Gyun), seu professor, casado há sete anos.  A relação tem de se manter secreta, isso dificulta tudo e deixa a jovem insatisfeita.  Tudo vai se complicar muito mais, quando a turma de alunos do professor, e colegas dela, descobre o caso.  E quando ela se afasta, mas ele vai atrás dela, numa fortaleza nas montanhas de Seul, num belo, distante e pouco frequentado local turístico, onde ela compartilha sentimentos com um casal.

As cenas se sucedem em baixa intensidade e num tom, ora, calmo, ora, controlado.  Revelando, de forma inequívoca, que nossas emoções são intensas, fortes, mas, nosso processo civilizatório as tolhe.  Cabe ao indivíduo o penoso papel de tentar controlar as emoções que brotam do seu ser.



Com efeito, os personagens se seguram, mas o controle lhes escapa.  Aparecem uma expressão de desagrado ou rejeição, uma palavra rude, uma saída intempestiva, uma fofoca, uma agressão verbal.  No entanto, não mergulhamos no melodrama, como a trama poderia indicar. O que importa é como lidamos com as emoções, as expectativas frustradas, as esperanças que temos de abandonar, as perdas e separações, a solidão.  E como fazemos isso dentro dos limites impostos pelo processo civilizatório.

O cinema de Hong Sang-soo é sutil, se passa num clima suave, apesar do drama e exige do espectador atenção aos detalhes.  É um cinema rico em sensibilidade e focado no relacionamento humano, além de visualmente muito bonito e delicado.

 

Dá gosto acompanhar a narrativa de um diretor em planos sequência que valorizam a simplicidade e a espontaneidade, sem fazer uso de cenas de sexo, violência, histeria, pessimismo atávico ou grandes efeitos especiais.  O filme nos conquista a cada instante, devagar e sempre.  Provando, em cada sequência, que realmente no cinema, assim como em muitas outras coisas da vida, menos é mais. 




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