terça-feira, 5 de novembro de 2013

CINEMA LATINO-AMERICANO - 2013

                         
Antonio Carlos Egypto

O cinema latino-americano teve presença significativa na 37ª. Mostra internacional de Cinema de São Paulo.  Consegui ver vários dos filmes programados para esta edição. Da Argentina, muito bom foi “Wakolda”, de Lucía Puenzo, sobre uma família na Patagônia que conviveu, sem saber, com Joseph Mengele, nos anos 1960.  Ele morreria em 1976 no Brasil, em Bertioga.  É uma história bem contada.  “El Crítico”, de Hermán Guerschuny, é uma comédia que brinca com a profissão de crítico de cinema.  É divertida, mas irregular.  “Habi, a estrangeira”, de Maria Florencia Álvarez, deixa a desejar, ao contar a história de uma adolescente que resolve assumir uma identidade muçulmana.  O cinema argentino, que tem sido apresentado regularmente no circuito comercial brasileiro, não chegou a ter grande destaque desta vez na Mostra.

Wakolda

Do Uruguai veio “O Militante”, de Manolo Nieto, que recebeu prêmio especial da crítica, mas que, a meu ver, não chega a lugar nenhum. Nem conta uma história, nem se aprofunda num clima que nos faça refletir de fato sobre alguma coisa importante.

De Cuba, vi “La Partida”, de Antonio Hens, um pouco mais ousado e com alguma inventividade, ao tratar de um relacionamento homossexual, em meio a carências sociais e familiares intensas.

“Casadentro”, de Joanna Lombardi, foi o filme do Peru e este me convenceu bem mais, ao falar de quase nada, ou seja, da rotina de uma mulher de 81 anos dentro de casa, às voltas com a cachorra e recebendo uma visita da família da filha.  Onde, aparentemente, nada acontece pode-se compreender o envelhecimento, as marcas emocionais do passado e o significado da rotina na sobrevivência psíquica.

Casadentro
 
O melhor da América Latina nesta Mostra, porém, veio do norte: do México.  “Las Horas Muertas”, de Aaron Fernandez, também aborda uma situação de espera, onde pouca coisa acontece.  Passa-se num motel, onde uma mulher aguarda seu amante e se encontra com um adolescente que cuida do estabelecimento, enquanto seu tio se restabelece de uma enfermidade.  Eles vão se descobrindo, se relacionando, lidando com suas fantasias e esperanças, longe da cidade, num local apropriadamente isolado.  O clima é tudo nesse filme.

La Jaula de Oro

Do México nos veio, também, “La Jaula de Oro”, de Diego Quemada-Diez, prêmio da crítica como melhor filme e menção honrosa de ficção pelo júri . O filme acompanha a jornada longa e perigosa de alguns adolescentes que saem de favelas da Guatemala e atravessam o México, em busca de chegar a Los Angeles, nos Estados Unidos.  À espera de uma espécie de paraíso que possa compensar o inferno de tal travessia.  A crueldade, a ganância e a sordidez humanas ficam mais evidentes diante de jovens migrantes ilegais que ainda ousam acreditar e sonhar.  Grande filme, que deve estrear brevemente nos cinemas.

Como se pode ver, se o cinema latino-americano não foi a grande expressão cinematográfica da atualidade, esteve longe de decepcionar.


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