sexta-feira, 2 de agosto de 2013

NA QUADRADA DAS ÁGUAS PERDIDAS

Antonio Carlos Egypto




NA QUADRADA DAS ÁGUAS PERDIDAS.  Brasil, 2011.  Direção: Wagner Miranda e Marcos Carvalho.  Com Matheus Nachtergaele.  74 min.



“Na Quadrada das Águas Perdidas” tem dois diretores, Wagner Miranda e Marcos Carvalho, e um só ator, o brilhante Matheus Nachtergaele.  E esse ator único não diz uma palavra durante todo o filme.  Emite sons, diferentes ruídos decorrentes de sua movimentação, grunhidos e até um grito, mas não palavras.



Não há falas, mas há belas imagens e uma trilha sonora espetacular do grupo Matingueiros, de Geraldo Azevedo e de Elomar Figuera Melo, que preenche toda a narrativa exclusivamente com música instrumental.  Essa bela trilha pode ser apreciada, também, independentemente da película.

O filme todo se passa na caatinga e mostra um nordestino lutando para sobreviver, em meio a uma natureza seca e inóspita, convivendo com os animais.  Entre eles, os urubus estarão sempre à espreita, trazendo o agouro da morte como perspectiva.



O catingueiro realiza sua odisseia pela sobrevivência naquele ambiente típico do nordeste brasileiro, marcado por pequenas árvores espinhosas, sem folhas durante a seca, mas ali também há cactus suculentos que podem servir de alimento e, apesar de escassa, alguma água pode ser encontrada.  A aridez não é absoluta, embora o custo da sobrevivência possa ser alto.  O burro que o catingueiro levava não resiste, assim como seu precário instrumento de locomoção.  Uma cabrita tem de ser entregue à onça, que irrompe no ambiente, para que seja possível prosseguir a caminhada.

Mas o convívio do ser humano com a natureza se mostra possível e até harmonioso, apesar de tudo.  Esse enfoque é um trunfo do filme.  Mostra algo conhecido por outro prisma, oferecendo ao espectador uma nova oportunidade de reflexão. 



A fotografia dessa poética produção pernambucana, rodada no vale do São Francisco, ressalta a inegável beleza da caatinga, além de sua originalidade.  A caatinga é considerada o único bioma exclusivamente brasileiro.

Um grande ator, Matheus Nachtergaele, viabiliza tudo isso por meio de uma interpretação visceral, valendo-se dos seus muitos recursos de expressão corporal, que dispensam quaisquer palavras, até mesmo as de uma poesia que poderia estar emoldurada numa letra de música.  Grande desempenho.


Um comentário:

  1. O filme não tem diálogos, não tem monólogos, não tem palavras. Tudo é dito com imagens, com as cores vivas e quentes do sertão. Assim atrai e encanta! Tem uma crítica em
    www.artigosdecinema.blogspot.com/2013/08/na-quadrada-das-aguas-perdidas.html

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