segunda-feira, 10 de junho de 2013

O COMANDANTE E A CEGONHA

Antonio Carlos Egypto






O COMANDANTE E A CEGONHA (Il Comandante e la Cicogna).  Suíça/Itália, 2012. Direção: Silvio Soldini.  Com Valerio Mastandrea, Alba Rohrwacher, Giuseppe Battiston, Claudia Gerini, Luca Zingaretti.  108 min.


Do alto da praça que o homenageia, o comandante Giuseppe Garibaldi (1807-1882), na forma de estátua equestre, observa o que se passa e pensa sobre a Itália de hoje, a perda de valores, se questiona sobre o patriotismo e se valeu a pena a unificação do país.  Outras estátuas importantes, como as de Verdi e Leopardi, também vão entrar na história.




Um garoto de 13 anos faz perguntas desconcertantes e vive arrumando cabeças de peixe e rãs para oferecer a uma cegonha, que é sua amiga.  Ou, seria melhor dizer, sua propriedade?  O fato é que ele fala com ela, a chama por meio de um apito e ela obedece.  Acostumado a contar sempre com ela, um belo dia, quando a cegonha some em direção à Suíça, ele terá de ir atrás dela.

Pelo que contei até aqui, já dá para entender o título do filme “O Comandante e a Cegonha”.  E por que a cegonha vai em direção à Suíça? É curioso que um cineasta como Silvio Soldini, que nasceu em Milão e é reconhecido por filmes marcadamente italianos, seja uma das atrações da Mostra de Cinema Suíço que acontece em São Paulo.  A história desse filme, como se vê, é igualmente italiana, já a produção é também suíça.  Daí o destino da cegonha.  Aliás, Soldini tem dupla cidadania, é suíço também.

“O Comandante e a Cegonha” é uma comédia surrealista que tem vários outros personagens e situações estranhos.  Mas se vale do surreal para refletir o real.  No caso, a crise europeia e, sobretudo, uma decadência que coloca a Itália virtualmente fora do pretendido Primeiro Mundo a que ela pensava pertencer.




O que parece estranho acaba sendo, na verdade, muito conhecido.  Trata-se de fraudes, falcatruas, jogadas suspeitas, corrupção.  Além disso, virações que lembram o jeitinho brasileiro de acomodar as coisas.

Há a adolescente, cujo vídeo postado on line mostra uma felação com o namorado.  O pai, mecânico, tem de lidar com isso, com o filho e sua cegonha e com um advogado que, em troca de livrar a jovem do pesadelo na Internet, quer que ele assine a compra de um imóvel em seu lugar.




Há também uma artista que não recebeu pelo trabalho realizado e vai atrás do mesmo advogado, já que não consegue pagar o aluguel.  O dono da casa que ela aluga não trabalha e é amigo do menino e, portanto, também da cegonha. Como se vê, no meio de toda essa parafernália de personagens improváveis, há uma realidade bem concreta que está sendo exposta.

Silvio Soldini, como de costume, realiza um bom trabalho nessa comédia um tanto bizarra, que flui bem e tem criatividade e originalidade.  Tem também um elenco muito adequado, tanto pelos tipos físicos, quanto pelas interpretações.  Não espere rir às gargalhadas, não é o caso.  Essa é uma daquelas comédias em que os sorrisos e as risadas trazem consigo a necessidade de pensar sobre um assunto, que é sério.  Diverte, é claro, mas vai além disso.


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