terça-feira, 9 de abril de 2013

O DIA QUE DUROU 21 ANOS


                         
 Antonio Carlos Egypto



O DIA QUE DUROU 21 ANOS.  Brasil, 2012.  Direção: Camilo Tavares.  Documentário.  80 min.

31 de março/1º. de abril de 1964.  Um dia triste, guardado na memória.  Eu era um adolescente interessado em política, que procurava me informar do que estava acontecendo.  Acreditava que a reforma agrária era urgente para resolver muitos problemas do país.  E que as reformas de base que o presidente João Goulart pregava seriam um caminho na direção da justiça social e da modernização do Brasil.
O golpe de Estado que derrubou Jango foi uma sombra que escondeu a luz carregada de esperança daqueles dias.  Chamavam essas coisas de subversão, comunismo.  E o golpe, de revolução.  Acho que eles tinham um dicionário próprio, diferente do que eu costumava consultar lá em casa.

Quem poderia imaginar que esse dia triste duraria tantos anos e traria dias muito mais tristes pela frente?  O filme de Camilo Tavares já começa bem pelo título, muito feliz: “O Dia Que Durou 21 Anos”.  Ele nos mostra, didaticamente, o que foi esse longo e tenebroso período da ditadura, desencadeada e mantida pelos militares, mas que teve todo o apoio das elites da época, dos jornais, depois censurados, aos empresários que financiavam a repressão e até assistiam a torturas.
O mais importante, no entanto, do que o documentário focaliza, é mostrar de forma categórica que o golpe foi concebido, apoiado e financiado pelo governo dos Estados Unidos.  Aponta o papel fundamental do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, do envolvimento da CIA, da operação Brother Sam, que poderia promover uma invasão naval do Brasil por Santos, e do envolvimento direto dos presidentes democratas John Kennedy, assassinado em meio a esses fatos, e Lyndon Johnson.

Eu me lembro de uma matéria ampla, de capa, de uma revista que tinha prestígio naqueles dias, com a manchete cínica: “A nação que se salvou a si mesma”.  Agora temos a clareza de que todo o plano posto em prática foi rigorosamente executado tal como foi planejado na Casa Branca.  Está tudo bem documentado pelo filme de Camilo Tavares, cujos argumento e consultoria ficaram a cargo de seu pai, Flávio Tavares, um dos presos políticos trocados pelo embaixador americano sequestrado no Brasil, Charles Elbrick.  Esse episódio também está no filme e faz todo o sentido, depois do que se vê do espírito golpista do governo norte-americano daquele período, para defender a democracia (sic) dos riscos do comunismo e de uma nova Cuba, na América Latina.

Ao longo dos anos, as coisas acabaram não saindo como o planejado e até alguns dos maiores apoiadores iniciais locais optaram por publicar receitas de bolo, em lugar de notícias censuradas.  No exterior, eram frequentes as denúncias de violações de direitos humanos pelo regime autoritário brasileiro, que se eternizava no poder à força.  As sombras viraram trevas e foi preciso muito esforço, muita luta e negociação, para que acabássemos finalmente caindo numa democracia, sem aspas e sem ironia.
Lembrar essa história, ou conhecê-la, no caso dos mais jovens, é fundamental.  Daí a importância do documentário lançado agora nos cinemas.  Aliás, pessimamente lançado: em poucas salas e só em alguns horários.  Acabará levando pouca gente aos cinemas.  Quem não alcançar vê-lo agora, poderá encontrá-lo brevemente em DVD. Indispensável.

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