sexta-feira, 1 de março de 2013

CÉSAR DEVE MORRER

                             
Antonio Carlos Egypto




CÉSAR DEVE MORRER (Cesare Deve Morire).  Itália, 2011.  Direção: Paolo e Vittorio Taviani.  Com Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio Frasca.  76 min.

Prisão de segurança máxima Rebibbia, em Roma.  Os detentos serão convidados a se preparar e receber treinamento para encenar o famoso “Júlio César”, de William Shakespeare, uma obra clássica de grande envergadura e um desafio para qualquer ator.  Que dirá para prisioneiros que, em muitos casos, sequer tinham assistido a uma única peça no teatro?

Numa prisão de segurança máxima, estão pessoas que cometeram crimes pesados e que, em princípio, podem representar risco ao convívio social.  Além disso, têm longas penas, até mesmo prisão perpétua.  Os irmãos Taviani não se preocuparam com nada disso.  Fizeram testes com todos os interessados, que tiveram de se apresentar, utilizando diferentes estilos e emoções.  Nem sequer texto havia.  Aproveitaram todos, selecionando os melhores para os papéis centrais, como o de César, Brutus e outros.




O filme “César Deve Morrer” relata o trabalho de preparação dos “atores”, a dedicação deles aos papéis, a decoração das falas marcantes do texto de Shakespeare e, sobretudo, o entusiasmo deles com esse trabalho e as mudanças que gerou nos presidiários-atores. A partir de um registro de caráter documental, o filme mostra, na forma ficcional, o que acontece por trás da trama da montagem teatral.

É impressionante observar como a experiência mexe com as pessoas.  A ponto de que uma determinada parte do texto não conseguiu ser expressa, apesar de decorada, porque o ator prisioneiro se identificava com o personagem e se recordava de um vínculo que pôs à prova seus conceitos e sentimentos.  Para outro, a mudança foi tão grande que ele expressou com uma frase genial todo o processo mostrado pelo filme: “Agora que conheço a arte, esta cela tornou-se uma prisão”.




Os octogenários irmãos Tavianni, Paolo e Vittorio, são cineastas que já deixaram sua marca na história do cinema mundial.  Basta lembrar alguns de seus melhores trabalhos, que atravessaram décadas de dedicação ao melhor cinema: “Um Grito de Revolta” (San Michele aveva um gallo), de 1971, “Kaos”, de 1974, “Pai Patrão”, de 1977, “A Noite de São Lourenço”, de 1981, “Bom-Dia, Babilônia”, de 1986, “Aconteceu na Primavera”, de 1993, e “Afinidades Eletivas”, de 1996.

“César Deve Morrer”, novo trabalho deles, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2012, faz jus à trajetória desses irmãos, que trabalham brilhantemente a quatro mãos, há tanto tempo.




O caminho de recuperar a autoestima e a dignidade das pessoas por meio da arte, que o filme celebra, aponta para o que se pode construir de muito positivo, mesmo em situações aparentemente desoladoras.  Criminosos trancafiados têm todo o tempo do mundo para evoluir. Se a arte puder chegar até eles, podemos ter novas e fundadas esperanças.  E o que quem vir o filme perceberá é que eles podem ser atores competentes e dedicados, a quem as palavras de Shakespeare podem inspirar e transformar.



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