sexta-feira, 15 de março de 2013

ANNA KARENINA

                               
Antonio Carlos Egypto
ANNA KARENINA (Anna Karenina). Inglaterra, 2012.  Direção: Joe Wright.  Com Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Matthew MacFadyen, Olivia Williams.  130 min.
Anna Karenina, o clássico romance de Leon Tolstói (1828-1910) é uma história de amor épica, que reflete a Rússia do século XIX.  Amor, fidelidade, traição, ousadia, renúncia, são elementos dessa tragédia que já recebeu muitas encenações e adaptações cinematográficas.  Duas delas são facilmente encontradas em DVD no Brasil.  Uma é a versão inglesa de 1948, dirigida por Julien Duvivier, que tem Vivien Leigh como protagonista.  A outra, uma produção dos Estados Unidos de 1935, dirigida por Clarence Brown, que tem ninguém menos do que Greta Garbo no papel de Anna Karenina.  Ambos são ótimos filmes, em preto e branco, clássicos que fazem com o drama de Tolstói um belo trabalho, sobretudo emocionante.

Por que uma nova versão de “Anna Karenina” no cinema?  As questões que envolviam os comportamentos da época, com suas máscaras e amarras, que tornavam tudo pesado e difícil, e o seu rompimento, uma tragédia, o que era exigido da mulher e os papéis sociais envolvidos por tanta hipocrisia, são reflexões importantes para o mundo de hoje?  Justificam uma volta ao romance?
É sempre bom revisitar os clássicos e a história sempre tem muito a nos ensinar.  Além disso, a criatividade no cinema anda em baixa.  E uma trama como essa não se encontra facilmente.  Só que seria necessário pensar em algo novo, para justificar uma nova “Anna Karenina”.  O diretor Joe Wright, afeito a narrativas clássicas, como “Orgulho e Preconceito”, de 2005, e “Desejo e Reparação”, de 2007, encontrou um caminho muito interessante para dar sentido a essa nova adaptação do texto de Tolstói, escrito entre 1873 e 1877.

O set de filmagem, onde praticamente tudo acontece, é um teatro que vai mudando, à medida que as sequências de cena assim o exigem.  Três palcos, um auditório, passagens e bastidores, comportam toda a história filmada, interiores e exteriores, o que inclui palácios, cavalos, neve...  Há também algumas cenas filmadas em exteriores, mas são poucas e raras.  Apenas para complementar a narrativa.
O resultado disso é bastante convincente e o envolvimento com a história é pleno, total. Para tal, um impressonante trabalho de criação se impôs.  Sabemos que estamos num teatro, em alguma parte dele, mas a introdução dos diferentes ambientes, cenários, figurinos, uma direção de arte impecável, faz com que mergulhemos na trama.


Grandes atores e atrizes num palco às vezes só precisam do seu corpo e da sua voz para nos remeter a dimensões inteiramente distintas da realidade. O teatro é mágico e o papel do ator é central.  No cinema, adotar uma encenação teatral envolve sempre um risco de artificialismo, excesso, ritmo inadequado à tela, tédio.  “Anna Karenina” não padece de nenhum desses problemas.  Tudo se passa num set teatral, mas com todos os recursos cinematográficos para dotar a narrativa de dinamismo, emoção, drama e tragédia.  A parte técnica, que recebeu merecidas indicações ao Oscar (fotografia, figurino, trilha sonora original e direção de arte) garante o espetáculo.  O roteiro, de Tom Stoppard, baseado no romance original, trouxe atualidade e ritmo aos diálogos e ao desenrolar das cenas.  A produção é grandiosa, a direção, eficiente,  e o elenco dá bem conta do recado.

Keira Knightley está muito longe de Greta Garbo ou Vivien Leigh.  Ainda assim, é possível sofrer e ousar amar com a personagem Anna Karenina nessa nova versão.  Não custa aproveitar a oportunidade para rever as antigas versões cinematográficas.  E suspirar, sempre, sempre mais 


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