Antonio Carlos Egypto
ANNA KARENINA (Anna Karenina). Inglaterra, 2012. Direção: Joe Wright. Com Keira Knightley, Jude Law, Aaron
Taylor-Johnson, Matthew MacFadyen, Olivia Williams. 130 min.
Anna
Karenina, o clássico romance de Leon
Tolstói (1828-1910) é uma história de amor épica, que reflete a Rússia do
século XIX. Amor, fidelidade, traição,
ousadia, renúncia, são elementos dessa tragédia que já recebeu muitas
encenações e adaptações cinematográficas.
Duas delas são facilmente encontradas em DVD no Brasil. Uma é a versão inglesa de 1948, dirigida por
Julien Duvivier, que tem Vivien Leigh como protagonista. A outra, uma produção dos Estados Unidos de
1935, dirigida por Clarence Brown, que tem ninguém menos do que Greta Garbo no
papel de Anna Karenina. Ambos são ótimos
filmes, em preto e branco, clássicos que fazem com o drama de Tolstói um belo
trabalho, sobretudo emocionante.
Por que uma nova versão de “Anna
Karenina” no cinema? As questões que
envolviam os comportamentos da época, com suas máscaras e amarras, que tornavam
tudo pesado e difícil, e o seu rompimento, uma tragédia, o que era exigido da
mulher e os papéis sociais envolvidos por tanta hipocrisia, são reflexões
importantes para o mundo de hoje?
Justificam uma volta ao romance?
É sempre bom revisitar os
clássicos e a história sempre tem muito a nos ensinar. Além disso, a criatividade no cinema anda em
baixa. E uma trama como essa não se
encontra facilmente. Só que seria
necessário pensar em algo novo, para justificar uma nova “Anna Karenina”. O diretor Joe Wright, afeito a narrativas
clássicas, como “Orgulho e Preconceito”, de 2005, e “Desejo e Reparação”, de
2007, encontrou um caminho muito interessante para dar sentido a essa nova
adaptação do texto de Tolstói, escrito entre 1873 e 1877.
O set de filmagem, onde
praticamente tudo acontece, é um teatro que vai mudando, à medida que as
sequências de cena assim o exigem. Três
palcos, um auditório, passagens e bastidores, comportam toda a história
filmada, interiores e exteriores, o que inclui palácios, cavalos, neve... Há também algumas cenas filmadas em
exteriores, mas são poucas e raras.
Apenas para complementar a narrativa.
O resultado disso é bastante
convincente e o envolvimento com a história é pleno, total. Para tal, um
impressonante trabalho de criação se impôs.
Sabemos que estamos num teatro, em alguma parte dele, mas a introdução dos
diferentes ambientes, cenários, figurinos, uma direção de arte impecável, faz
com que mergulhemos na trama.
Grandes atores e atrizes num
palco às vezes só precisam do seu corpo e da sua voz para nos remeter a
dimensões inteiramente distintas da realidade. O teatro é mágico e o papel do
ator é central. No cinema, adotar uma
encenação teatral envolve sempre um risco de artificialismo, excesso, ritmo
inadequado à tela, tédio. “Anna
Karenina” não padece de nenhum desses problemas. Tudo se passa num set teatral, mas com todos
os recursos cinematográficos para dotar a narrativa de dinamismo, emoção, drama
e tragédia. A parte técnica, que recebeu
merecidas indicações ao Oscar (fotografia, figurino, trilha sonora original e
direção de arte) garante o espetáculo. O
roteiro, de Tom Stoppard, baseado no romance original, trouxe atualidade e
ritmo aos diálogos e ao desenrolar das cenas.
A produção é grandiosa, a direção, eficiente, e o elenco dá bem conta do recado.
Keira Knightley está muito longe
de Greta Garbo ou Vivien Leigh. Ainda
assim, é possível sofrer e ousar amar com a personagem Anna Karenina nessa nova
versão. Não custa aproveitar a
oportunidade para rever as antigas versões cinematográficas. E suspirar, sempre, sempre mais
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