sábado, 16 de março de 2013

SUPER NADA

                           
Antonio Carlos Egypto

SUPER NADA. Brasil, 2012.  Direção e roteiro: Rubens Rewald.  Codireção: Rossana Foglia.  Com Marat Descartes, Jair Rodrigues, Clarissa Kiste, Iacov Hillel.  94 min.
Guto (Marat Descartes) é um ator em busca de uma oportunidade, que sobrevive como pode, fazendo pequenos trabalhos.  Ele tem lá suas pretensões artísticas, não quer fazer qualquer coisa.  Mas se submete desde a testes para comerciais até a performances de rua, para levantar uns trocados.  A vida é dura para quem quer viver de cultura.  É o que o filme mostra.
Ocorre que Guto acaba sendo aprovado num teste para participar de um famoso e antigo programa de humor, na TV.  É certo que é só num dia do programa.  Mas vem a esperança.  Se der certo, com a visibilidade que tem a TV, pode ser a oportunidade que ele esperava.  Além do mais, ele é fã do humorista Zeca (Jair Rodrigues).

Acontece que Zeca e o seu programa Super Nada estão em decadência.  “Não está fácil pra ninguém” é um bordão que o personagem interpretado por Jair Rodrigues repete várias vezes. Não está fácil, mesmo, e pode ser mais complicado, se fatores pessoais no terreno amoroso, como ciúmes, separação ou então alcoolismo, entram na história.  Aí é que as coisas desandam de vez.  Ou não.  Quando o estrago é muito grande, e todo mundo perde o rumo, é mais fácil aceitar as maluquices do outro.
Marat Descartes é um ator muito competente, tem dado vida a personagens tão ou mais estranhos e interessantes do que esse Guto.  A presença do cantor Jair Rodrigues no filme é emblemática.  Ele não é ator, mas é um artista de sucesso, que já teve o seu auge.  Continua querido e animado, mas o tempo passou e a idade acaba pesando.   Tem a vivência que o aproxima do personagem Zeca.

Jair é uma figura espontânea e que se dedica muito a tudo o que faz.  Isso fica patente no seu desempenho em “Super Nada”.  O sambista brincalhão que ele sempre foi gerou, nos anos 1960, uma brilhante interpretação de um clássico da MPB, que venceu o Festival da TV Record, em 1966: Disparada.  Uma música forte e séria, que aparentemente nada tinha a ver com sua persona.  Geraldo Vandré, o autor da música, ficou preocupado com a escalação de Jair para defender sua canção e falou seriamente sobre isso com ele, na época.  Ele deu conta do recado, magnificamente.  De forma inesquecível, aliás.  Aqui, o registro é mais difícil, porque é um desempenho de ator, não de cantor.  Mas é legal vê-lo tão empenhado em seu personagem.
Clarissa Kiste faz Lívia, a mulher de Guto, que se envolve também com Zeca e instala-se o conflito, que rompe o aparente equilíbrio possível, mesmo sob os efeitos etílicos.  Está muito bem no papel.
A ideia de um programa de humor tradicional de TV se chamar Super Nada não poderia ser mais direta.  O que essa programação popular de TV tem a oferecer é nada mesmo.  No superlativo.  Por essas e por outras é que, para quem quer trabalhar na cultura, “não está fácil pra ninguém”.

O roteiro e direção do filme são do cineasta e professor da USP, Rubens Rewald, que tem um nome muito próximo do de Rubens Ewald Filho, o crítico de cinema mais conhecido da atualidade.  Um não tem nada a ver com o outro, a não ser a paixão pelo cinema, que eu saiba.  O filme foi apresentado nos Festivais do Rio e de Gramado, na Mostra Tiradentes e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  Recebeu prêmios no Rio e em Gramado.


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