segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O MESTRE

                         
 Antonio Carlos Egypto




O MESTRE (The Master).  Estados Unidos, 2012.  Direção e roteiro: Paul Thomas Anderson.  Com Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams.  143 min.


Fareis tudo que seu mestre mandar?  A frase que ilustra uma brincadeira infantil pode ser vivida por muita gente que abdica da própria liberdade, em busca da hipotética segurança do mestre, visto como um ser superior.  Não importa muito se divino, mítico ou uma personalidade carismática e dominadora. Um punhado de gente à procura de quem decida por eles sobre a sua própria vida é do que necessitam pregadores dispostos a fundar uma seita, que pode se tornar uma religião forte e poderosa um dia.

Como se dá esse processo é o que pretende abordar o filme “O Mestre”, de Paul Thomas Anderson.  O diretor gosta de temas controversos, que podem ser explorados por vários ângulos, como demonstram seus filmes “Magnólia”, de 1998, “Boogie Nights”, de 1999, ou “Sangue Negro”, de 2007.


Um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, Freddie (Joaquin Phoenix), volta destroçado psicologicamente dos campos de batalha.  Descontrolado, com a sexualidade exacerbada e dependente do álcool, ele será presa fácil de um mestre-guru, como Lancaster Todd (Philip Seymour Hoffman), físico e filósofo, que trabalha com uma espécie de hipnose e, na busca por autocontrole e cura espiritual, evoca vidas passadas.  Isso, associado à dependência do mestre, que cria as coisas a seu bel-prazer e as muda como e quando quiser, forma a base de uma organização religiosa demoninada A Causa.  A partir daí, não se pode estranhar mais nada, já que a racionalidade perde espaço para verdades esotéricas que flertam com o absurdo e o non-sense, o que dá um tom até mesmo divertido à trama.  E, claro, é uma provocação.  Muito bem colocada, aliás.

As personalidades dos personagens de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman dão margem a interpretações espetaculares dos dois atores, que são a alma do filme.  Amy Adams, no papel da mulher do mestre, também tem um desempenho brilhante.  Não por acaso, o filme tem três indicações ao Oscar 2013, todas referentes aos atores e à atriz. 


Essas performances é que dão força ao filme, já que a boa história que ele conta pressupõe um monte de maluquices pretensamente vividas pelos personagens, como se fossem coisas aceitáveis ou admissíveis.  Não é só a dependência do mestre que é absurda, é o que ele diz e faz, em conflito permanente com o bom senso e a racionalidade, e de forma incoerente.  Mas seus seguidores não enxergam isso, ou se omitem cinicamente.  E Freddie, o ex-combatente, ultrapassa todos os limites na adesão à causa e na defesa de seu líder.  Se o papel revela o quão bom ator Joaquin Phoenix é, o mal-estar que ele causa é tão ou mais grave do que o que nos mostra o mestre alucinado que Seymour Hoffman faz com enorme brilho.


A Paris Filmes, no cartaz de divulgação, informa que o filme é sobre a cientologia.  Supostamente, o guru Lancaster Todd seria inspirado no criador dessa doutrina, o escritor L. Ron Hubbard (1911-1986).  Difícil saber quanto o que se mostra no filme tem a ver realmente com a vida de Hubbard, ou se a forma como ele prega e se comporta de fato reflete a cientologia.  O filme não é centrado na exposição ou na crítica direta às ideias da cientologia ou de seu criador. 

É muito mais uma reflexão sobre o que é e o que significa seguir cegamente um mestre e no que isso pode dar.  Nesse sentido, pode valer para a cientologia, mas também para as seitas e religiões, de um modo geral, que se baseiam na figura de uma liderança isolada, onipotente e onisciente.



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