Antonio Carlos Egypto
VIOLETA FOI PARA O CÉU (Violeta se Fue a los Cielos). Chile, 2011. Direção: Andrés Wood. Com Francisca Gavilán, Cristián Quevedo, Thomas Durand, Luis Machin, Gabriela Aguilera. 110 min.
Violeta Parra (1917-1967) foi um dos maiores talentos da história da música chilena. Ainda assim, poucos a conhecem no Brasil, na condição de compositora e intérprete de um tipo de música de fortes raízes na cultura popular e engajamento social e político inequívocos. Seu lema era “criar a partir do que existe”, recriando a cultura tradicional chilena, ao produzir obras-primas musicais a partir desse material, geralmente esquecido.
Duas gravações brilhantes realizadas no Brasil, a partir de músicas dela, atestam isso facilmente. Elis Regina, no show e disco “Falso Brilhante”, de 1976, gravou “Gracias a la Vida” de forma tão competente e exuberante que quem conhece não esquece. Outra gravação marcante de música de Violeta Parra foi feita por Milton Nascimento, com a cantora argentina Mercedes Sosa, em “Volver a los 17”, no LP “Geraes”, também em 1976. Quem conhece essas gravações, mesmo que não conheça mais nada sobre Violeta Parra, pode aquilatar a importância do seu trabalho.
“Violeta foi para o céu” é uma cinebiografia, um filme homenagem dedicado a ela, realização do cineasta chileno Andrés Wood, o diretor de “Machuca”, um belo filme de 2004, que teve boa divulgação no Brasil. O roteiro teve como base o livro homônimo de Ángel Parra, filho de Violeta e grande cantor e compositor, que sobreviveu à perseguição do regime de Pinochet e teve de viver no exílio. A produção tem participação brasileira, por meio da Bossa Nova Films.
Se o trabalho musical de Violeta Parra é pouco identificado no Brasil, imagine a sua produção de artista plástica. Além de cantora, autora, poetisa, ela foi também pintora, escultora, bordadeira e ceramista. Em 1964, teve uma exposição de seus trabalhos no museu do Louvre, em Paris, a primeira latino-americana a conseguir esse espaço. O jornal “Le Figaro” publicou uma matéria, na época, com o título: “Leonardo Da Vinci terminou no Louvre, Violeta Parra começa nele”.
É evidente que Andrés Wood, ao filmar, e Ángel Parra, ao escrever o livro da vida de sua mãe, devem ter sido ambos motivados pela admiração à figura que ela foi. Isso não impediu, no entanto, que, na trajetória relatada na película, viessem à tona as contradições, a inquietude e desespero da pessoa, sua volubilidade afetiva e um destemor e arrojo que se aproximavam da irresponsabilidade e geravam consequências sérias.
“Violeta foi para o céu” vai mostrando, por meio de cenas, que percorrem diferentes tempos e momentos da vida da artista, um ser complexo, apaixonado e comprometido com seu tempo e, sobretudo, com seu povo. A figura de Violeta Parra emerge, se constrói, a partir de uma narrativa sem preocupação didática ou em estabelecer muitas informações solidamente. E nós, brasileiros, que pouco a conhecemos, captamos perfeitamente a dimensão humana e artística dessa mulher. Méritos do roteiro e da direção, mas também da intérprete de Violeta no filme, a atriz Francisca Gavilán, que, por sinal, se revela também boa cantora. A trilha sonora do filme é preciosa.
A película é inteiramente competente em delinear a figura humana e artística da homenageada. Procura seguir os passos dela, ao apresentar a plateias de todo mundo a tradição musical chilena que emana do seu trabalho.
Há uma entrevista por meio da qual conhecemos a postura dela, ideias centrais que a moveram e sua expressão poética. Veja só essa sugestão que ela faz a novos artistas, instada pelo entrevistador:
“Escreva como você gosta, use os ritmos que aparecerem, tente diferentes instrumentos, sente-se ao piano, destrua o que é linear, grite, ao invés de cantar, arrase na guitarra e toque a buzina. Odeie matemática e ame redemoinhos. Criação é um pássaro sem um plano de voo, que nunca irá voar em linha reta”.
“Violeta foi para o céu” foi vencedor do Grande Prêmio do Júri Internacional do Cinema Mundial Dramático, no Sundance Film Festival, 2012.
A Francisca está impecável no papel de Violeta, porém acho que foi pouco explorado, o papel social da Violeta, seu lado marxista. O filme apenas mostrou a fragilidade da mulher em Violeta Parra, suas frustrações e decepções amorosas... Violeta é muito mais que isso!
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