domingo, 10 de junho de 2012

O VENDEDOR

   Antonio Carlos Egypto


O VENDEDOR (Le Vendeur).  Canadá, 2011. Direção: Sébastien Pilote.  Com: Gilbert Sicotte, Nathalie Cavezzal, Jérémy Tessier.  107 min.


O filme começa nos mostrando uma pequena cidade, Lac Sain-Jean, na província de Quebec, Canadá.  Suas casas, lojas, edifícios públicos e ruas estão tomados pela neve.  E o inverno da estação se coaduna com o momento invernal da economia mundial.  A crise chegou e atinge todos, de um jeito ou de outro.  Isso exige de todo mundo mudanças no jeito de viver e de consumir.  Até aqueles que parecem estar firmemente instalados em seus patamares econômicos sentirão o abalo.

Marcel Léves (Gilbert Sicotte) é um vendedor de carros tão experiente que é, simplesmente, “o vendedor do mês” de sua concessionária há dezesseis anos consecutivos.  Já está na hora de se aposentar, mas ele gosta do que faz, não sabe fazer outra coisa e sua vida repousa sobre essa glória.

Toda gente já se deparou com alguém como o personagem Marcel.  Ele convence o comprador potencial com um estilo sutil, mas eficiente. É visto como amigo pelo consumidor.  Como esse vendedor poderá encarar a crise que se estabelece na cidade, com a derrocada que viverá a fábrica responsável por gerar empregos para a maioria dos habitantes dali?  Bem, Marcel talvez seja capaz de vender carro a desempregados, produzindo uma dívida que não poderá ser paga.  Manterá a aura de melhor vendedor, mas e o custo ético dessa história?

A crise econômica, a falta de perspectivas imediatas quanto ao futuro, o envelhecimento e a morte, são desafios que o nosso personagem terá de encarar.  Há horas em que o chão cede aos nossos pés e ainda com tanta neve parece impossível não escorregar.



Marcel tem na filha e no neto, que também vivem na cidade, seu esteio e compensação afetiva para sua solidão de viúvo.  E algum alento para se distrair da falta de trabalho e de clientes.  A vida segue seu rumo e ele trabalha, apesar de tudo.  Mas isso também pode mudar um dia...

A trama simples de “O Vendedor” nos coloca em contato emocional com mais esta crise do capitalismo globalizado e mostra seus contornos humanos, o sofrimento que produz, os dilemas que daí emergem e a quebra da autoestima até dos chamados “vencedores”.  O filme se centra na figura do vendedor Marcel, vivido pelo ótimo ator Gilbert Sicotte, compartilhamos de sua rotina, de seus sucessos e fracassos, de seus desafios, de seus afetos e medos.  Sem nunca nos esquecermos de que o meio onde ele se move lhe é hostil, ainda que isso apareça com brandura, na maior parte do tempo.  Tudo vai acontecendo pouco a pouco, de forma discreta, porém, inexorável.

“O Vendedor” é uma película que reflete o tempo que estamos vivendo, as agruras de um presente incerto e nevado.  Em outros lugares, as coisas podem se dar de um modo um pouco diferente.  Em outros momentos, lá mesmo, alguma esperança poderá surgir com o verde ocupando o lugar do branco.  Afinal, a vida não para de se renovar.

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