quinta-feira, 15 de março de 2012

SHAME

Antonio Carlos Egypto



SHAME  (Shame).  Inglaterra, 2011.  Direção: Steve McQueen.  Com Michael Fassbender, Carey Mulligan, James Badge Dale, Hannah Ware.  99 min.


Brandon (Michael Fassbender), um homem jovem, é compulsivo por sexo.  Seus computadores estão permanentemente ligados em sites sexuais, até mesmo o do trabalho.  Ele tem coleções de revistas pornográficas, costuma seguir meninas que o atraem no metrô e é cliente conhecido de prostitutas.

Nós vamos conhecendo esses hábitos e a forma como Brandon lida com eles, pouco a pouco, e isso é mostrado com realismo e crueza.  Não há charme nenhum nisso, só sofrimento.  Também não se vislumbra prazer nesses comportamentos.  Tudo fica ainda mais claro quando uma relação afetiva tenta se estabelecer.  Sexo e amor são compartimentos completamente diferentes, que não se comunicam, em Brandon.

A relação com a irmã também traz à tona esse universo de aridez afetiva em que está metido nosso personagem.  Ela aparece para morar com ele e tudo se complica.  Mais do que poderia se esperar.

A sexodependência é a outra face da incapacidade de estabelecer vínculos afetivos genuínos.  Essa é a “vergonha” de fato: a imaturidade emocional que incapacita para a vida.

O diretor britânico Steve McQueen, homônimo do ator norte-americano falecido em 1980, é bem econômico e discreto ao revelar esse personagem sofredor.  Nada se mostra imediatamente.  É todo um clima, um modo de viver que vai se estabelecendo diante das câmeras, que buscam cuidadosamente o que colocar em primeiro plano.  Há muitas cenas de nudez e sexo, mas tudo muito seco e complicado.  E há poucas palavras.  Os personagens falam por seus rostos, gestos, atitudes.  As imagens se impõem sobre a fala, revelando um cinema de ótima qualidade.


Sexo e sofrimento às claras podem incomodar algumas pessoas.  “Shame”, de fato, não se esquiva em incomodar.  Pelo contrário, acha necessário isso, para mostrar a realidade nua e crua do personagem.  A crueldade está lá presente.  Assim como sendo uma coisa inevitável, em situações como as mostradas no filme.

Conflitos podem ser, ou parecer, insolúveis, algumas vezes.  Estamos num terreno de patologias sérias de comportamento, não só do protagonista, mas de algumas de suas relações mais próximas, como a irmã e o chefe.  É a soma e a interação de atitudes estranhas nos relacionamentos que se estabelecem entre eles que torna tudo tão difícil de se lidar.  Para todos eles, por certo.  E que causam um inevitável mal-estar no espectador.

Quem se aventurar nessa experiência encontrará um filme forte, denso e honesto, que não faz concessões ao mercado de entretenimento.  Pode ser sofrido, pessimista, talvez, mas não engana o espectador, nem o manipula.

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