BORBOLETAS NEGRAS (Black Butterflies). Holanda, 2010. Direção: Paula van der Oest. Com Carice van Houten, Rutger Hauer, Liam Cunningham, Grant Swanly. 100 min.
“Borboletas negras” retrata a vida da poetisa Ingrid Jonker, na África do Sul, durante a década de 1960, em pleno Apartheid.
Ela, artista precoce, começa a escrever poemas aos 6 anos de idade e não para mais. Desorganizada e muito instável emocionalmente, seus poemas estão dispersos por todos os lados. No filme, eles aparecem em múltiplos papéis, escritos nas paredes, nos vidros. Uma criatividade que tinha de se expressar a qualquer preço.
Evidentemente, uma pessoa com essa característica criativa e a sensibilidade à flor da pele não poderia deixar de resistir, de alguma forma, ao ignominioso regime do Apartheid.
Ocorre que o pai dela era ninguém menos do que o chefe do departamento de censura do governo. Vai daí que as relações dela com ele só poderiam ser conturbadas. Mas uma filha sempre busca o reconhecimento do pai, o que torna tudo ainda mais complexo.
Ingrid, sua poesia, seus amores e seus desencontros pela vida, formam a matéria-prima de “Borboletas negras”. A protagonista que vive a poetisa é a ótima atriz Carice van Houten. Liam Cunningham está no papel do escritor Jack Cope, um desses amores, o mais central deles, na realidade. E o veterano e talentoso ator Rutger Hauer encarna com dureza e alguma crueldade o pai de Ingrid.
A diretora holandesa Paula van der Oest realiza um filme que envolve, pela intensidade do drama da protagonista, pelos fortes e competentes desempenhos do elenco e pela beleza das locações na cidade do Cabo e as lindas praias em que se desenvolve boa parte das cenas.
A questão política da África do Sul desse período, embora já bastante conhecida, sempre mexe com as emoções de quem quer que, como Ingrid, ame a liberdade. Mesmo reconhecendo que o jeito atabalhoado com que a personagem lida com a sua vida não ajude muito.
Seus poemas, no entanto, estão lá, sobreviveram a todo o drama e um deles foi citado no primeiro discurso ao parlamento, proferido por Nelson Mandela: “A criança que foi assassinada pelos soldados de Nyanga”. É a partir daí que se dá o amplo reconhecimento artístico de Ingrid Jonker como um símbolo da África livre.
O filme foi selecionado para o Tribeca Film Festival 2011, que conferiu a Carice van Houten o prêmio de melhor atriz, merecidíssimo.
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