quinta-feira, 22 de setembro de 2011

BORBOLETAS NEGRAS

Antonio Carlos Egypto

BORBOLETAS NEGRAS (Black Butterflies).  Holanda, 2010.  Direção: Paula van der Oest.  Com Carice van Houten, Rutger Hauer, Liam Cunningham, Grant Swanly.  100 min.

“Borboletas negras” retrata a vida da poetisa Ingrid Jonker, na África do Sul, durante a década de 1960, em pleno Apartheid.

Ela, artista precoce, começa a escrever poemas aos 6 anos de idade e não para mais.  Desorganizada e muito instável emocionalmente, seus poemas estão dispersos por todos os lados.  No filme, eles aparecem em múltiplos papéis, escritos nas paredes, nos vidros.  Uma criatividade que tinha de se expressar a qualquer preço.

Evidentemente, uma pessoa com essa característica criativa e a sensibilidade à flor da pele não poderia deixar de resistir, de alguma forma, ao ignominioso regime do Apartheid.  

Ocorre que o pai dela era ninguém menos do que o chefe do departamento de censura do governo.  Vai daí que as relações dela com ele só poderiam ser conturbadas.  Mas uma filha sempre busca o reconhecimento do pai, o que torna tudo ainda mais complexo.

Ingrid, sua poesia, seus amores e seus desencontros pela vida, formam a matéria-prima de “Borboletas negras”.  A protagonista que vive a poetisa é a ótima atriz Carice van Houten.  Liam Cunningham está no papel do escritor Jack Cope, um desses amores, o mais central deles, na realidade.  E o veterano e talentoso ator  Rutger Hauer encarna com dureza e alguma crueldade o pai de Ingrid.

A diretora holandesa Paula van der Oest realiza um filme que envolve, pela intensidade do drama da protagonista, pelos fortes e competentes desempenhos do elenco e pela beleza das locações na cidade do Cabo e as lindas praias em que se desenvolve boa parte das cenas.

A questão política da África do Sul desse período, embora já bastante conhecida, sempre mexe com as emoções de quem quer que, como Ingrid, ame a liberdade.  Mesmo reconhecendo que o jeito atabalhoado com que a personagem lida com a sua vida não ajude muito.

Seus poemas, no entanto, estão lá, sobreviveram a todo o drama e um deles foi citado no primeiro discurso ao parlamento, proferido por Nelson Mandela: “A criança que foi assassinada pelos soldados de Nyanga”.  É a partir daí que se dá o amplo reconhecimento artístico de Ingrid Jonker como um símbolo da África livre.

O filme foi selecionado para o Tribeca Film Festival 2011, que conferiu a Carice van Houten o prêmio de melhor atriz, merecidíssimo.

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