quarta-feira, 15 de junho de 2011

MEIA-NOITE EM PARIS

Antonio Carlos Egypto

MEIA-NOITE EM PARIS (Midnight in Paris). Estados Unidos, 2011. Direção: Woody Allen. Com Owen Wilson, Rachel Adams, Marion Cotillard, Kathy Bates, Adrien Brody, Michael Sheen, Carla Bruni. 100 min.

Adorável. Foi esse o adjetivo que me veio à mente ao término da projeção de “Meia-Noite em Paris”. O filme já começa seduzindo, ao mostrar Paris linda, exuberante, em imagens de cartão postal, antes mesmo de entrarem os créditos iniciais. E, ao longo de toda a película, o deslumbramento da cidade continua presente e respira-se cultura.

“Eu amo Paris na primavera, no outono, no inverno, no verão”, dizia a canção de Cole Porter, não por acaso lembrada aqui, suas canções se destacam no filme. Paris é adorável a cada instante, para o personagem Gil (Owen Wilson), especialmente quando chove. Mas Paris à meia-noite, bem, aí ela vira simplesmente mágica.

Gil é um escritor norte-americano que está prestes a se casar, vai a Paris a negócios e descobre que devia viver lá. Não exatamente nos tempos atuais, mas na Paris mítica dos anos 1920, em que por lá transitavam escritores, pintores, compositores, cineastas. Gente como Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Luís Buñuel, o próprio Cole Porter e muitos mais.

Já imaginou se o romance que ele está escrevendo recebesse críticas e sugestões de Stein e Hemingway? E andar naqueles carros antigos, cheios de charme, visitar os cabarés, o Moulin Rouge, ver o can-can, incluindo Toulouse Lautrec em pessoa?

É o máximo do sonho a idade de ouro da fabulosa Paris. À meia-noite, tudo é possível, até Paris voltar magicamente aos anos 1920. Como será que viviam e sentiam os personagens desse tempo de esplendor? Estariam satisfeitos com suas vidas? Alguém, fatalmente, vai achar que a vida está barulhenta e complicada e terá saudades dos bons tempos do fin-de-siècle e da belle époque.


Woody Allen constrói aqui uma deliciosa fábula do tempo. O presente é fortemente influenciado pelo passado que está em cada um de nós. Não só o da nossa história pessoal, mas o da aventura humana na História, especialmente aqueles tempos e lugares que nos impressionam e seduzem.

Se estamos atrelados ao possível glamour do passado, também algo nos remete ao futuro tecnológico inimaginável. E o que virá, depois e depois, na nossa história pessoal de expectativas em relação ao futuro próximo ou distante, sem dúvida nos afeta e muito.

Só que, para escapar do presente, somos extremamente seletivos: só nos lembramos do melhor ou imaginamos o melhor no futuro, o que torna os outros tempos invariavelmente superiores ao de hoje. Nos autoenganamos assim. Claro que há os que só veem o pior no passado ou no futuro, mas para eles o presente também não é bom, é o triunfo da desesperança.

Woody Allen brinca com esse passado de Paris anos 1920, fazendo uma bela reconstituição de época e, ao mesmo tempo, selecionando tudo de forma tão significativa que não há como não questionar: cadê a vida comum das pessoas, com sua rotina, seu tédio, suas ansiedades, os problemas, a falta de higiene, as doenças, as carências banais (não só as amorosas e existenciais)? Ao omiti-las, ele aponta o quanto essa Paris de puro glamour e cultura do personagem Gil é uma fantasia, como são todas as épocas e lugares imaginados por nós, em que pesem as evidências que a História registre. Aliás, quanto menos evidências, mais fantasiosa a percepção do período, mais ela será o que a gente desejar que ela seja. Ou terá mais a forma do nosso olhar do presente.

O melhor lugar do mundo é aqui e agora ou, pelo menos, o mais saudável, do ponto de vista psíquico. O que não significa que fantasiar não seja, também, adorável, como o filme que Woody Allen nos traz agora. Que bom, também, que dessa vez não tivemos de esperar quase nada para ver o novo trabalho do diretor. Já houve tempo em que seus filmes demoravam anos para aportar por aqui.

O elenco de “Meia-Noite em Paris”,fita exibida no Festival de Cannes, está cheio de bons atores e atrizes, famosos e conceituados por seus trabalhos no cinema, e tem uma celebridade como a primeira dama francesa Carla Bruni. O ponto de vista do filme é o do personagem Gil. Owen Wilson participa de todas as cenas da fita e dá bem conta do recado. Ainda assim, é uma pena que o próprio Allen não esteja em cena.

2 comentários:

  1. Oi Egypto,

    Assisti ontem o "Meia noite em Paris" e posso dizer que tive a mesma sensação que você. O filme é adorável, encantador e devo ter assustado algumas pessoas pois estava sozinha e saí sorrindo, inebriada e agradecida com a possibilidade de poder tê-lo visto.
    Sua crítica complementou lindamente a sensação de não me furtar de desejar de ter ficado em Paris para sempre e com aquela sonoplastia...
    Grande abraço,
    Maria

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