sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O SOL DO MEIO DIA

                     
        Antonio Carlos Egypto

O SOL DO MEIO DIA. Brasil, 2009. Direção: Eliane Caffé.  Com Luiz Carlos Vasconcelos, Chico Diaz, Cláudia Assunção, Ary Fontoura.  106 min.


“O Sol do Meio Dia” é a jornada de três personagens em busca de sua própria identidade e de um mundo para viver em paz.  Artur (Luiz Carlos Vasconcelos) procura se reinventar, após cometer um crime passional.  As profundezas do Brasil amazônico servem de cenário para sua viagem de reconstrução e redenção ao encontro de si mesmo e da superação da angústia em que vive, mascarada por um misto de gentileza, rudeza e destemor.

Matuim (Chico Diaz) é um barqueiro que transporta pelos rios amazônicos o que pode lhe valer alguns trocados, quando não está metido em confusões, pequenos negócios escusos ou tentando sobreviver de forma bufa. É cômico e trágico seu esforço para simplesmente continuar existindo.  Sua identidade parece estar na peruca que o provê de longos cabelos e que vive expondo suas vergonhas.  Uma espécie de Sansão atrapalhado, de cabelos postiços e poucas habilidades.

O que Artur e Matuim podem ter em comum, que os possa unir, ao menos temporariamente? A perda de referência e o caminho anárquico que percorrerão juntos, inicialmente na velha embarcação de Matuim, depois, em terra firme.

Ciara (Cláudia Assunção) é a terceira personagem da trama.  Frustrada pela “escolha” da filha pela prostituição, caminho de resto bastante comum em terras onde a pobreza e o machismo imperam, também erra pelo ambiente amazônico, em busca do seu espaço e do necessário afeto para viver.  É ainda relativamente jovem e bonita, pode reconstituir sua história a partir do ponto em que a filha a afasta de si e de sua atividade.

Esses três personagens vão percorrendo seus caminhos erráticos, em direção à cidade grande, Belém, no caso.  E acabarão por viver um estranho e desengonçado triângulo amoroso, cheio de idas e vindas, daqueles que se perdem mais do que se encontram.  Há drama e humor, mas tudo é seco, contido, até que venha a explodir.

Grandes atores dão contornos firmes e fortes a esses personagens e mantêm a atenção e o interesse pela trama.  Mas o que mais se destacou, para mim, foi a belíssima fotografia de Pedro Farkas, a utilização do claro escuro, das sombras, e o enquadramento das imagens.  É um trabalho a se apreciar com atenção

A diretora Eliane Caffé faz um filme poético, valendo-se dos cenários e paisagens da região amazônica e realçando os sons no tratamento dramático das situações, dispensando a música.  É uma película esteticamente superior à sua “Narradores de Javé”, de 2002, em que pese aquela história ser mais original e envolvente do que esta.

“O Sol do Meio Dia” foi rodado integralmente no estado do Pará, nos municípios de Belém, Castanhal, Vila Trindade, Vila Pernambuco e Rios.  Foi escolhido pela crítica da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, de 2009, como o melhor longa-metragem brasileiro ali apresentado.  E os atores Chico Diaz e Luiz Carlos Vasconcelos receberam prêmio conjunto de atuação masculina no Festival do Rio, de 2009.

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