TERRA DEU, TERRA COME. Brasil, 2009. Direção: Rodrigo Siqueira. Colaborou na direção: Pedro de Alexina. Com: Pedro de Alexina, Dona Lúcia, João Batista, Dolores, seu Pidrim Peçanha, Admilson, Geovani, Adilson, Nei, Edinho, Sineca e familiares do seu Pedro. 88 min.
Ao assistir um documentário, o que é que se busca? Conhecer ou refletir sobre uma dada realidade, atual ou histórica, próxima ou distante. Mas, em todo caso, aproximar-se de alguma forma da verdade. Aí é que é está o problema: o que é mesmo essa verdade documental?
“Terra Deu, Terra Come” é o vencedor do Festival Internacional de Documentários “É Tudo Verdade”, 2010. Pois é, está aí a “verdade”, de novo. Será que é mesmo tudo verdade?
O diretor mineiro Rodrigo Siqueira estava envolvido com o universo de Guimarães Rosa e foi em busca do sertão mítico e profundo do autor. Encontrou o senhor Pedro Vieira, conhecido como Pedro de Alexina, de 81 anos, um dos últimos guardiães de tradições africanas e mineiras da região de Diamantina, vivendo em Quartel do Indaiá, comunidade remanescente de um quilombo, e partiu para a realização do filme.
Capaz de entoar os cantos conhecidos como vissungos, outrora ouvidos dos africanos nos trabalhos dos garimpos de Diamantina e utilizados em rituais fúnebres, coube a Pedro de Alexina dar o tom do que fazer e dizer e ciceronear o espectador, para fazê-lo imergir nesse mundo à parte.
O fio condutor principal era o cortejo fúnebre e enterro de João Batista, que teria vivido 120 anos. O sepultamento se dá após dezessete horas de velório, choro, riso, farra, reza, silêncios e tristeza. Com direito a gotas de cachaça, do gênero daquelas que o povo costuma dar para o santo.
Garimpeiro, descendente de escravos, conhecedor dos mitos e lendas da região, além dos vissungos, Pedro vai desfilando e encenando suas histórias, algumas do tempo em que “Cristo mais São Pedro andavam pelo mundo”. Nos ensina o que a morte é e as desculpas que arranjamos para entendê-la. E é claro que não poderiam faltar as histórias mais extravagantes dos diamantes enormes sumidos ou enterrados por aí, não se sabe onde.
Um mergulho no universo etnológico do garimpo de Diamantina, que remonta aos séculos XVIII e XIX. A essa altura, vocês podem estar perguntando: Mas será que isso segura um filme? Ou é coisa que possa interessar a alguém mais do que antropólogos ou historiadores? Foi algo semelhante o que pensou o diretor de fotografia, Pierre de Kerchove, inicialmente. Mas o filme vai muito além disso.
O que é e onde está a verdade? Mitos, contos e lendas são verdades, por certo. Contados ou encenados, nos remetem a dimensões de realidade distintas da experiência cotidiana. Mas até onde isso pode ir? Como se dá essa experiência? Como ela pode ser vivida e que relação tem com a ficção?
“Terra Deu, Terra Come”, o documentário, embaralha tudo e também pode ser visto como ficção ou até mesmo como farsa ou, ainda, como disse João Moreira Salles: “É uma trapaça maravilhosa”. De fato.
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