Antonio Carlos Egypto
A MELHOR MÃE DO MUNDO. Brasil,
2025. Direção: Anna Muylaert. Elenco: Shirley Cruz, Seu Jorge, Rihanna
Barbosa, Benin Ayo. 106 min.
“A Melhor Mãe do Mundo” já está em cartaz há algum tempo nos cinemas, mas
só consegui ver o filme agora. Foi algo
circunstancial, já que o trabalho da diretora Anna Muylaert sempre me
interessou. De longa data, aliás. O seu curta-metragem de 1995, “A Origem dos
Bebês Segundo Kiki Cavalcanti”, eu utilizei no trabalho de orientação sexual nas
escolas com estudantes, era divertido e as coisas estavam bem colocadas.
Um outro curta, “Chamado a Cobrar”, de 2012, me divertiu muito. Seus
longas são, reconhecidamente, filmes que se destacam no cinema brasileiro. Especialmente, “Que Horas Ela Volta?”, de
2015, “É Proibido Fumar”, de 2009, e “Durval Discos”, de 2002. Seu filme de 2022, “O Clube das Mulheres de
Negócios”, no entanto, me decepcionou.
Talvez por isso eu tenha sido leniente em buscar este seu novo
trabalho. Mas sem razão.
“A Melhor Mãe do Mundo” é um filme consistente, bem realizado, como
sempre, no caso dela, e tem uma narrativa abrangente. A trama mostra a violência doméstica contra a
mulher na ambiguidade dos sentimentos e desejos femininos frente ao
agressor. Vê sua fraqueza que se escora
na força bruta descontrolada da embriaguez.
E põe a grande figura de Seu Jorge nos convencendo disso, sem que seja
preciso mostrar nem exigir dele agressão nenhuma visível. Perfeito o que está subentendido. A relação dele, parceiro da mãe, mas não pai,
com duas crianças, também é explorada com sutileza, tranquilidade aparente e
muito significado.
A grande personagem que é Gal, vivida pela excelente Shirley Cruz, é
muito bem desenvolvida no seu périplo pela vida de catadora, sem teto após uma
separação e sequestrando seus próprios filhos para viver com eles em situação
de rua, tendo como único instrumento sua carrocinha. Aí o filme empresta de “A Vida É Bela”, de
Roberto Benigni, de 1997, a ideia de as limitações, opressões e agruras serem
apresentadas por Gal e aceitas pelos filhos como grandes aventuras.
Só que aqui, como o isolamento não acontece, a realidade se imiscui na
aventura e o destino final do périplo, buscado com realismo e esperança, acaba
se revelando uma armadilha. Uma
reviravolta, então, se impõe à narrativa.
E tudo isso se resolve muito bem, no final das contas.
O elenco, ponto forte do filme, tem, além de Shirley e Seu Jorge, duas
crianças ótimas, magnificamente bem trabalhadas em desempenhos deliciosos:
Rihanna e o garotinho Benin.
CLÁSSICOS
DO TERROR
Aproveito para deixar aqui uma dica para quem gosta de filme de terror,
de alta categoria (o que é raro). É a
mostra Clássicos do Terror, em São Paulo, no mês de setembro, às 5as. feiras, às 21:00 h, no
Espaço Petrobrás de Cinema, e também no Cinesala, em outros dias. Serão exibidos: ’O Iluminado”, de Stanley
Kubrick, 1980, “Carrie, a Estranha”, de Brian De Palma, 1976, “Os Pássaros”, de
Alfred Hitchcock, 1966, “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, 1968. Como se vê, a fina flor do terror na telona.