sábado, 16 de novembro de 2024

AINDA ESTOU AQUI e OS ITALIANOS

Antonio Carlos Egypto


 


AINDA ESTOU AQUI, grande destaque do nosso cinema em 2024, estreou na 48ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.  A primeira sessão nacional do filme foi aqui, no Espaço Augusta de Cinema, em 18 de outubro de 2024, com a presença do diretor Walter Salles, de Fernanda Torres, de Selton Mello e da diretora da Mostra, Renata de Almeida. 

Segundo a plataforma Filme B, até 15 de novembro de 2024 o filme já alcançou 655.300 espectadores e ingressos vendidos nos cinemas.  É daqueles filmes indispensáveis e o público percebeu isso.

 

Reproduzo aqui o comentário que fiz e publiquei durante a Mostra 48 em 19/10/24. 

 

 AINDA ESTOU AQUI, o filme de Walter Salles, que está sendo muito valorizado e reconhecido em festivais internacionais e que está indicado a representar o Brasil na corrida pelo Oscar de filme internacional, teve sua primeira exibição no Brasil na Mostra 48, com entusiasmo e sessões cheias e disputadas.  Não é para menos.  O filme é excelente, ao retratar um dos casos mais emblemáticos da ditadura militar no Brasil: o caso Rubens Paiva, engenheiro e deputado cassado na época, que foi torturado, morto, e cujo corpo desapareceu nas mãos do Estado totalitário.  O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice, contou a história da família vivendo esse drama no livro homônimo, que serviu de base e deu título ao filme.  No centro da narrativa, a figura de Eunice Paiva, uma mulher corajosa, lutadora, determinada.  Que foi capaz de enfrentar tudo isso, incluindo a sua própria prisão e a de sua filha mais velha, por um tempo, educando cinco filhos.  Marcelo, então, um garotinho.  O papel de Eunice é vivido com brilhantismo por Fernanda Torres, num desempenho que deve lhe render muitos prêmios.  No elenco, Selton Mello no papel de Rubens e uma participação especial de Fernanda Montenegro.  Importantíssimo conhecer, por meio da revoltante história vivida pela família Paiva, os meandros cruéis e ilegais do regime ditatorial que foi imposto ao país por um golpe cívil-militar em 1964 e que durou 21 anos.  Para que não se repita. Apesar do tema pesado e difícil, o filme tem respiro, alguma leveza e humor, o que torna a experiência de assisti-lo muito gratificante.  135 min.

 


                           FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO

Já começou mas vai até 08 de dezembro o 19º. Festival de Cinema Italiano, que acontece gratuitamente em mais de 70 salas de cinema em vários Estados do Brasil e com uma programação de streaming também gratuita, acessando os filmes no próprio site do Festival.

São 32 filmes na programação, sendo 17 inéditos, incluindo uma retrospectiva de sucessos, com destaque para as famosas comédias italianas.

Para assistir aos filmes e se informar sobre tudo o que acontece no Festival de Cinema Italiano é só acessar https://festivalcinemaitaliano.com/

 

Por enquanto só vi on line um filme dos inéditos da programação do Festival.

 

ADEUS, GAROTO (Ciao Bambino), dirigido por Edgardo Pistone, de 2024.  Drama com 109 minutos.  O filme focaliza um adolescente de 17 anos, num bairro popular de Nápoles, Attilio (Marco Adamo), que se envolve com roubos e, consequentemente, se relaciona com criminosos.  Acaba trabalhando na função de proteger uma jovem prostituta, Anastasia (Anastasia Kaletchuk), do leste europeu, e se envolve com ela. Enquanto isso, seu pai acumula dívidas consideráveis por conta do uso de drogas.  Essa dupla carga de preocupações pesa muito para ele, projetando uma vida adulta que se complica a cada passo.  É um bom filme, bem realizado, com destaque para uma esplêndida fotografia em preto e branco.  E uma trilha sonora muito boa, também.

 

 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

BRASILEIROS NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 

Para encerrar minhas postagens sobre a 48ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vou comentar rapidamente sobre os filmes brasileiros que vi na Mostra, uma vez que eles estarão disponíveis para serem assistidos oportunamente, por quem não os viu no festival.

 

Começando pelos prêmios decorrentes da votação do público, com os quais estou plenamente de acordo.  A melhor ficção eu já comentei anteriormente, AINDA ESTOU AQUI, de Walter Salles, grande destaque não apenas entre os brasileiros, mas entre todos os filmes da Mostra.

 


3 OBÁS DE XANGÔ

3 OBÁS DE XANGÔ, vencedor do melhor documentário pelo público, foi também o vencedor da categoria no Festival do Rio 2024.  O filme, dirigido por Sérgio Machado, recupera matérias gravadas dos três grandes criadores baianos: Jorge Amado, na literatura, Dorival Caymmi, na música, e Carybé, na pintura.  A amizade e as ideias deles tomam a tela e nos enchem de talento e beleza.  77 min.

 

Dois outros vencedores do Festival do Rio 2024 estiveram por aqui, também: MALU e BABY.

 

MALU, de Pedro Freire, lida com a personagem complexa de uma atriz que foi poderosa, em momento de declínio, atuando de forma destrutiva e delirante, a partir de uma visão generosa dela e da sua geração e do trabalho importante desenvolvido no teatro de resistência à ditadura militar.  A crise se torna aguda nas relações com a mãe e com a filha. No elenco: Yara de Novaes, Juliana Carneiro da Cunha, Carol Duarte, Átila Bee.  100 min.

 

MALU

BABY, de Marcelo Caetano, trata de um personagem ainda adolescente, que, saído de um centro de detenção juvenil, se vê perdido, sem parentes ou recursos para tocar sua vida.  Uma relação homoafetiva com um homem maduro, a imersão no mundo do tráfico e da prostituição, farão parte dessa reconstrução, com muitos conflitos e muita paixão, também.  No elenco: João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Ana Flávia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo, Patrick Coelho.  106 min.

 

MANAS, dirigido por Marianna Brennand, que levou o prêmio da crítica para filme brasileiro, aborda casos de abuso sexual de meninas, em balsas, na ilha do Marajó, no Pará.  Inspirada em casos reais que foram relatados, Marianna construiu uma ficção vigorosa e feita com muita sutileza.  Nada é diretamente mostrado, tudo fica subentendido, sugerido.  Mas é tudo muito claro e a denúncia, muito importante.  No elenco, Jamielli Correa, Rômulo Braga, Fátima Macedo, Dira Paes.  101 min.

 


MALÊS

MALÊS, dirigido por Antonio Pitanga, retrata a revolta dos escravizados em Salvador, em 1835, que é pouco conhecida e estudada.  A Revolta dos Malês foi a maior insurreição do gênero, na história do Brasil.  E parte de dois jovens muçulmanos, arrancados de sua terra natal na África, em pleno casamento, vendidos como escravos no Brasil.  A presença da crença muçulmana e a língua e a tradição árabes presentes na história são mais um dado relevante que precisa ser melhor conhecido.  No elenco: Camila Pitanga, Rocco Pitanga, Antonio Pitanga, Samira Carvalho, Patrícia Pillar, Edvana Carvalho, Bukassa Kabenguele.  113 min.

 

VIRGÍNIA E ADELAIDE, filme dirigido por Jorge Furtado e Yasmin Thayná, aborda o encontro histórico de duas mulheres que estão no início da psicanálise no Brasil.  Virgínia, mulher negra, vem a ser a primeira psicanalista do país.  Começou fazendo análise com Adelaide, psicanalista judia alemã, que veio para o Brasil, fugindo do nazismo.  Isso, no ano de 1937, quando começou a ditadura do Estado Novo getulista.  O filme é didático, ao contar a história delas, apresentando conceitos psicanalíticos aplicados às sessões vividas por elas. Destaque para a questão do preconceito racial, que marcou toda a vida de Virgínia.  No elenco: Gabriela Correa e Sophie Charlotte.  96 min.

 


APOCALIPSE NOS TRÒPICOS

APOCALIPSE NOS TRÓPICOS, documentário de Petra Costa, faz a pergunta: quando uma democracia termina e uma teocracia começa?  O filme perpassa todos os fatos recentes da política brasileira, do impeachment de Dilma Rousseff às tentativas de golpe de Estado, que culminaram na violência de 08 de janeiro de 2023.  Mas o faz seguindo o fio condutor das lideranças evangélicas, destacando o pastor Silas Malafaia e os fundamentalistas que sustentaram a experiência política negacionista do governo Bolsonaro, tentando entender seu modo peculiar de interpretar os fatos e seus fundamentos religiosos apocalípticos.  110 min.

 

O PALHAÇO DE CARA LIMPA, de Camilo Cavalcante, também retoma o ano de 2016, quando o país entra na crise política que levaria ao impeachment de Dilma Rousseff e suas consequências danosas, especialmente para a arte.  Aqui, o personagem é um ator em crise pela falta de palco para atuar, que apresenta suas obras pelas ruas do Recife, seus conflitos familiares e sua tristeza pelo momento que vive o país.  No elenco, Flávio Renovatto, Maria da Guia de Oliveira da Silva, Alex Lucena, Daniela Câmara e Sílvio Pinto.  80 min.

 

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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

O QUARTO AO LADO

                     

Antonio Carlos Egypto

 


O QUARTO AO LADO (The Room Next Door). Espanha, Estados Unidos, 2024.  Direção: Pedro Almodóvar.  Elenco: Tilda Swinton, Julianne Moore, John Turturro, Alessandro Nivola.  107 min.

 

“O Quarto ao Lado” é o primeiro longa-metragem de Pedro Almodóvar falado em inglês.  A ação se passa em Nova York, com duas atrizes extraordinárias na língua inglesa: a britânica Tilda Swinton e a norte-americana Julianne Moore.  No cartaz do filme a gente encontra a informação de que ele é escrito e dirigido por Almodóvar.  No entanto, ele é baseado na obra literária de Sigrid Nunez.  Trata-se, portanto, de um roteiro adaptado.  É que sabemos que o cineasta espanhol retrabalha o texto original e o torna almodovariano, como já fez outras vezes.

 

O que vemos em “O Quarto ao Lado” é uma reflexão sobre os caminhos da vida e da morte.  Um trabalho feito com profundidade, delicadeza, afeto, e, por que não esperança?  O tema é nada menos do que a eutanásia, que pode ser entendida como um direito humano fundamental, mas geralmente é tratada como crime.  E o suicídio costuma ser visto de modo intolerável pelas religiões.  Isso aparece claramente no filme, mas não é o ponto principal.

 

A questão central é o que se passa entre duas mulheres jornalistas, muito amigas e que se conhecem muito bem: Martha (Tilda Swinton) e Ingrid (Julianne Moore).  Distanciaram-se por um tempo, em função das circunstâncias de seus trabalhos, mas no reencontro a química e a cumplicidade entre elas se reestabelece quase que instantaneamente.

 


Só que Martha, agora, sofre com uma doença incurável que lhe traz dores terríveis e que motivou sua difícil decisão de querer partir.  Mas ela precisa de ajuda, tentou junto a outras amigas que rejeitaram o pedido e não considera sequer solicitar isso à sua filha, de quem se mantém distante.  Ingrid, no entanto, a entende, a aceita, tem empatia profunda com ela.  Nem por isso a decisão é fácil.  Aliás, todo o processo é muito difícil, embora tudo seja mostrado com beleza, com sutileza, sem excessos ou arroubos.  Na medida certa dos sentimentos que são expressos com precisão em cada gesto, tom de voz, postura ou silêncio.  Vivemos com elas, como espectadores, todas as nuances dessa história, com extrema sensibilidade.  Reconhecemos ali pessoas verdadeiras se relacionando.

 

O ambiente é mais do que bonito, é requintado.  A morte pode se dar com humanidade e com conforto.  É uma aspiração legítima.  Possível em alguns casos.  Sempre pressupõe condição econômica para isso, o que não invalida a aspiração.

 

Acompanhamos com interesse “O Quarto ao Lado” do começo ao fim, já que o filme exala humanidade, enfatiza a cumplicidade e a amizade, sem nunca esquecer os conflitos, os medos, as indecisões, as dificuldades todas que envolvem o viver, o morrer e a perda. 

 

A música de Alberto Iglesias, colaborador habitual de Almodóvar, dá ênfase às emoções que estão subjacentes à atuação das atrizes.

 


Almodóvar declarou que teve muita sorte ao poder contar com as duas grandes atrizes, que deram um show no filme.  Sorte é fruto de trabalho, empenho, busca criteriosa de soluções, abertura para o que vem.  Nesse caso, pode-se dizer que Pedro Almodóvar costuma ter muita sorte nos seus filmes.  Que começam pelas ideias em profusão que saem do seu imaginário de autor.

 

“O Quarto ao Lado” foi aplaudido no Festival de Veneza 2024 por 17 minutos e venceu o Leão de Ouro, o prêmio maior do Festival.





sexta-feira, 1 de novembro de 2024

GRAND TOUR NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 


GRAND TOUR.  Portugal, Itália, França, 2024.  Diretor e corroteirista: Miguel Gomes.  Elenco: Crista Alfaiate, Gonçalo Waddington, Cláudio da Silva, Lang-Khê Tran.  129 min.

 

“Grand Tour” é um filme que impressiona por qualquer ângulo que o observarmos.  É uma grande aventura que nos leva ao mundo do Oriente, no pós-guerra, 1918.  Parte de Rangum, na Birmânia, onde supostamente Edward e Molly vão se casar, após sete anos de noivado sem se encontrarem.  Edward, que é funcionário do Império Britânico, que nem se lembra dela com clareza, foge do compromisso e passa a viajar sem rumo, ao sabor das circunstâncias.  Mas interage em cada cidade que passa com os elementos culturais locais. E olha que ele vai percorrer, além de Rangum, Bangcock, Saigon, no Vietnã, e chegará ao Japão e à China.

 

Toda essa carreira oriental dá margem para que o filme faça magníficas  tomadas de cena, enquadramentos sofisticados, e capte a realidade local em alguns elementos definidores ou de ocasião.  A fotografia, em esplêndido preto e branco, alternando com cores, é deslumbrante.  A música, tanto a oriental quanto a ocidental, com valsas de Strauss, My Way, La Mer e outras, preenche a tela, nos deliciando.  É puro prazer acompanhar o desenrolar do filme, que quase não tem história.

 

Para voltar a ela, enquanto Edward se perde pelo mundo oriental e foge do casamento, Molly, partindo de Londres e logo de Rangum, o persegue o tempo todo, o que caracteriza toda uma segunda parte da saga, em que não se sabe bem o que esperar dos eventos que vão surgindo.  O fato é que, à procura de resgatar o noivo, ela encontra outro homem, que a pede em casamento.  Os percalços da viagem, tanto dela quanto dele, tornam impraticável um encontro entre ela e Edward.  Por exemplo, ambos adoecem e flertam com a morte, em momentos distintos.

 


A cada passo, descobrimos novos elementos que vão fazendo sentido e, ao mesmo tempo, nos surpreendendo.  É uma narrativa para lá de envolvente, que nos acolhe.  Tanto quanto Edward se insere com facilidade em diferentes contextos.  E Molly, com seu jeito decidido e engraçado, também é muito bem recebida e manda e desmanda por aí. É a colonização se expressando?  Os conflitos existem, mas são administráveis.  Ou melhor, nem sempre. 

 

O filme é lindo, uma viagem maravilhosa, só que é preciso deixar fluir, sem se preocupar com a história, com o que vai dar.  Tudo vai aparecer a seu tempo.  E o que interessa é o caminho, o que se desvenda pelo caminhar.  Dispostos a tudo, como os personagens.

 

O filme do diretor português Miguel Gomes é uma pérola cinematográfica.  Eu só o assisti no último dia oficial da Mostra, em sessão noturna.  Ou seja, bem ao final.  E foi aí que eu descobri o melhor filme dessa 48ª. Mostra, na minha opinião.  Eu já conhecia e admirava esse diretor, mas aqui ele se superou.  Contou com uma produção internacional de peso, também.  “Grand Tour” não aparece entre os vencedores, mas espero que apareça, e logo, nos nossos cinemas (tem distribuição Mubi).  Não é a toda hora que se pode apreciar um filme assim.

 

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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

VENCEDORES DA MOSTRA 48

 


Mostra divulga lista dos filmes premiados nesta edição


Cerimônia de encerramento com a premiação ocorreu no Espaço Petrobras, na Cinemateca Brasileira


A 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo realizou na noite desta quarta-feira, 30 de outubro, a cerimônia de encerramento do evento no Espaço Petrobras, na Cinemateca Brasileira. 


Com apresentação de Renata de Almeida e Serginho Groisman, a solenidade realizou a entrega dos prêmios desta edição, entre eles o Prêmio Leon Cakoff para o cineasta Francis Ford Coppola, que estava presente no evento. A premiação foi seguida da exibição do filme mais recente do diretor americano, Metrópolis.


Veja abaixo a lista completa dos títulos premiados:


PRÊMIO DO JÚRI
Os filmes da seção Competição Novos Diretores mais votados pelo público foram submetidos ao Júri, formado nesta edição pela atriz brasileira Camila Pitanga, pelo ator e cineasta português Gonçalo Waddington, pela curadora e produtora Hebe Tabachnik, pelo produtor Kyle Stroud, pelo diretor e escritor iraniano Mohsen Makhmalbaf e pelo crítico de cinema francês Thierry Meranger.
Os jurados escolheram Familiar Touch, de Sarah Friedland, e Hanami, de Denise Fernandes, como os melhores filmes de ficção. Como melhor documentário, premiaram No Other Land, de Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham, e Sinfonia da Sobrevivência, de Michel Coeli. Também concederam o prêmio de melhor direção para Adam Elliot, do filme Memórias de um Caracol.



PRÊMIO DO PÚBLICO
O público da 48ª Mostra escolheu, entre os longas internacionais, O Caso dos Estrangeiros, de Brandt Andersen, como melhor filme de ficção, e Balomania, de Sissel Morell Dargis, como melhor documentário. Entre os brasileiros, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, recebe o prêmio de melhor ficção, e 3 Obás de Xangô, de Sérgio Machado, o de melhor documentário.
A escolha do público é feita por votação. A cada sessão assistida, o espectador recebe uma cédula para votar com uma escala de 1 a 5, entregue sempre ao final do filme. O resultado proporcional dos filmes com maiores pontuações determina os vencedores.


PRÊMIO DA CRÍTICA
A imprensa especializada que cobre o evento e tradicionalmente confere o Prêmio da Crítica também participou da premiação elegendo Manas, de Marianna Brennand, como melhor filme brasileiro, e Levados Pelas Marés, de Jia Zhangke, como o melhor longa entre os estrangeiros.



PRÊMIO DA ABRACCINE
A Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema também realiza tradicionalmente uma premiação que escolhe o melhor filme brasileiro. Neste ano, o eleito foi Intervenção, de Gustavo Ribeiro



PRÊMIO NETFLIX
Pela segunda vez, a Netflix vai entregar um prêmio no festival, que será concedido a um filme brasileiro participante da Mostra deste ano que ainda não tenha contrato com um serviço de streaming.   
O longa premiado nesta 48ª edição foi Serra das Almas, de Lírio Ferreira.



PRÊMIO PARADISO
O prêmio do Projeto Paradiso Mostra dá apoio à distribuição nos cinemas a um dos filmes da seção Mostra Brasil que recebeu maior votação do público. O aporte serve para complementar a distribuição da obra nas salas de cinema brasileiras e ajudar a sua estreia nas telas nacionais. Neste ano, o Prêmio Paradiso foi concedido ao filme Malu, do diretor Pedro Freire.



PRÊMIO BRADA - Prêmio de Melhor Direção de Arte
O Coletivo de Diretoras de Arte do Brasil premia pela terceira vez na Mostra o trabalho de um diretor de arte que tenha se destacado no festival. Neste ano, Mathé recebe o prêmio pela Direção de Arte pelo seu trabalho no filme Hanami, de Denise Fernandes.



A programação da repescagem da Mostra, de 31 de outubro a 6 de novembro, inclui quase todos os vencedores, e ocorre no Cinesesc e no cine Satyros Bijou. Consulte em mostrasp.org


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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

ORIENTAIS NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 



LEVADOS PELAS MARÉS (Feng Liu Yi Dai), China, 2024, é o novo trabalho do grande diretor chinês, de Fenyang, Jia Zhang Ke.  A cinematografia desse diretor tem sido a de mostrar o lado B da China, essa potência atual do mundo, que cresce e se desenvolve econômica e tecnologicamente.  Ocorre que as mudanças que vão se concretizando a todo vapor têm um caráter autoritário, com consequências para a população mais pobre e desprotegida do país.  O povo tem de tolerar os efeitos de políticas públicas que demolem verdadeiras cidades, a constituição de uma represa gigantesca que desloca a população e tantas outras questões que aparecem documentalmente em seus filmes, como a pandemia e as máscaras onipesentes. Aliás, neste, ele reaproveita muitas cenas de seus outros filmes, ao colocar seus personagens viajando, em busca de se reencontrar, por várias partes da China.  Alguém precisa se lembrar de se preocupar com o povo quando manobras expansionistas não respeitam seus direitos e seus interesses.  O cinema de Jia Zhang Ke tem essa sensibilidade.  111 min.

 

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SOL DE INVERNO (Boku No Ohisama), Japão, 2024, tem direção de Hiroshi Okuyama, Competição Novos Diretores.  O filme se debruça sobre um menino que se encanta com uma garota que brilha na patinação artística no gelo.  No inverno, ele joga hóquei no gelo, mas vê com muito mais interesse a ginástica artística e a possibilidade de se aproximar da menina talentosa.  O treinador dela percebe esse interesse e ajuda o garoto a adquirir técnica para atuar junto com ela numa competição.  Alguns problemas vão complicar essa história, tanto pelo envolvimento afetivo, quanto pelos preconceitos que emergirão daí.  Na verdade, o grande interesse do filme é mostrar a dança, a patinação artística no gelo, o empenho para aprender e realizar os movimentos corretos, já que a maior parte do tempo é isso que o filme mostra.  90 min.

 



ATRAVÉS DO FLUXO (Suyoocheon), Coreia do Sul, 2024, é o mais novo trabalho do prolífico diretor Hong Sang-soo.  Esse cineasta faz muitos filmes, todos marcados pela simplicidade, pela conversa ao redor da mesa, com comida e bebida.  Por meio desse recurso constante, ele traz questões de relacionamento humano verdadeiras e tocantes.  Às vezes, também ingênuas, revelando os desapontamentos e frustrações das pessoas, as escolhas difíceis, mas sempre questões humanas psicologicamente relevantes.  Aqui, uma jovem professora pede ao tio, encenador teatral, que dirija uma dramatização com alunas da universidade. Ele, surpreendentemente, aceita, porque se remete a algo semelhante que ele fez lá mesmo, quarenta anos atrás. Ocorre que a experiência anterior não tinha sido muito bem sucedida.  Quem conhece o estilo do diretor vai adorar.  Quem não conhece, pode estranhar.  Mas vale a pena tentar.  É só se preparar para o estilo oriental das ações e comportamentos, onde tudo flui mais devagar e cerimoniosamente.  111 min.

 



PERMANÊNCIA EM LUGAR NENHUM (Wu Suo Zhu), Taiwan, 2024, dirigido pelo malaio Tsai Ming-Liang.  É muito bom constatar que, ao contrário do que anunciou o cineasta, ele não parou de fazer filmes.  Seria uma pena o cinema perder o seu talento e estilo tão característicos.  O filme, de caráter documental, focaliza Xuanzang, o monge da dinastia Tang, que vagou a pé pelo mundo.  Papel do ator Lee Kang-Sheng, colaborador habitual do diretor.  A proposta do filme é radical, o monge caminha lenta e firmemente, passando por ruas, igrejas, pradaria, museus, monumentos, sem diálogos, com som ambiente e música só ao final. Em paralelo, outro personagem cozinha um macarrão (chop suey?) e depois o vemos comendo na mesma panela.  Um filme zen, belo, mas exigente para o espectador.  79 min.


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sábado, 26 de outubro de 2024

MAIS DESTAQUES DA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 



VERMIGLIO, dirigido por Maura Delpero, indicado pela Itália ao Oscar de Filme Internacional 2024, é uma joia fílmica que será certamente reconhecida pelo público.  Trata de uma região rural, uma aldeia nos Alpes italianos, Vermiglio, em 1944, quando a Segunda Guerra Mundial caminhava para o seu final.  A região não chegara a ser atingida diretamente pela guerra, embora ela estivesse lá.  O filme mergulha nas relações familiares e na dinâmica da sociedade local com a chegada de um soldado desertor.  O que encanta no filme é seu clima acolhedor, afetivo, sua simplicidade aparente, os diálogos, gestos, atitudes.  Sua humanidade transbordante, enfim. Belas sequências e uma fotografia esplendorosa compõem a obra.  119 min.

 



ERNEST COLE: ACHADOS E PERDIDOS
(Ernest Cole: Lost and Found).  Estados Unidos, 2024, de Raoul Peck, de “Eu Não Sou Seu Negro” (2016) e “O Jovem Karl Marx” (2017), é um belíssimo documentário.  Aborda o trabalho do fotógrafo da África do Sul, Ernest Cole (1940-1990), que registrou de forma contundente e pela primeira vez os horrores do apartheid.  Consequentemente, amargou um exílio nos Estados Unidos e na Europa e continuou registrando em fotos magníficas a sociedade e, em especial, o racismo. Pelo tempo em que ele passou na Suécia é redescoberto um vasto material fotográfico guardado surpreendentemente por anos num banco sueco. O filme é todo composto das fotos de Cole, as que já estavam em circulação e as que agora vieram à tona.  O cineasta Raoul Peck está sendo homenageado pela 48ª.Mostra com o Prêmio Humanidade. 106 min.

 




A REDAÇÃO (Redaktsiya), dirigido por Roman Bondarchuk, da Ucrânia, 2024, conta uma história que remete aos nossos tempos de pós-verdade, explorando todo o cinismo aí envolvido.  Sabemos como é, estamos vivendo isso por aqui.  No filme, o personagem central é um jovem cientista à procura de uma espécie de marmota ameaçada de extinção que flagra e fotografa gente botando fogo na floresta, intencional e criminosamente. Acha que, com essas provas, levando a uma redação de jornal, a denúncia surtirá efeito.  Ledo engano.  Aprende que, no jornalismo atual, isso se perde numa montanha de mentiras, notícias falsas, e que se pode vender fotos e textos para obter dinheiro e criar a narrativa que interessa aos pagadores.  Conviverá com uma impressionante eleição municipal inteiramente fraudulenta, outras coisas mais, e descobrirá que sua ingenuidade não cabe nesses novos tempos. Não adianta mais divulgar nem provar verdade alguma.  Mas, cinicamente, a gente pode aproveitar a terra arrasada para forjar uma campanha pelo meio ambiente, plantando árvores para exibir na TV.  Ótimo trabalho. 126 min.

 




DYING – A ÚLTIMA SINFONIA (Dying), produção alemã de 2024, direção de Mathias Glasner, é uma saga de desagregação familiar, música e morte.  A família Lunies vive ao longo de seu tempo experiências de rejeição, conflito aberto, separação, declínio físico e emocional, evidências de que a morte está à espreita. Tom, o filho do casal septuagenário, é maestro e trabalha numa composição sobre a morte. De algum modo, é a morte que poderá aproximá-los.  Longo e dolorido, mas bom cinema.  180 min.

 

                                     PRÊMIO LEON CAKOFF

Francis Ford Coppola estará em São Paulo no dia 30 de outubro, quando receberá o prêmio Leon Cakoff da 48ª. Mostra.  E lançará seu novo filme, “Megalópolis”.

 

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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

FRANCESES NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto


O cinema francês tem estado bem presente no circuito comercial, mas é sempre bom conferir o que veio da França para a Mostra.

 


Começando por GAROTA POR UM DIA (Um Jour Fille), de Jean-Claude Monod, cineasta e filósofo, da Competição Novos Diretores. O filme aborda um tema poucas vezes tratado no cinema: um caso de intersexo.  Chamamos de intersexo aquelas situações em que há, biologicamente, elementos dos dois sexos, obviamente não plenamente desenvolvidos.  É uma forma de hermafroditismo com prevalência masculina ou feminina, a critério médico.  Pois bem, o filme aborda um caso real, registrado nos anais jurídicos da França do século XVIII, em que a jovem Anne adquire nome, postura e vestimentas masculinas, tornando-se Jean-Pierre, e se casa com uma mulher.  O julgamento foi pelo casamento, considerado uma afronta às instituições.   O filme mostra como isso se deu numa época em que o padre, o médico e o juiz, com os recursos de que dispunham, limitados, decidiam pela vida da pessoa sem sequer consultá-la, o que só complica e prolonga o sofrimento, gerando injustiça.  O filme é bem realizado, numa narrativa clássica adequada a um assunto que demanda algumas explicações para ser bem entendido.  Com Marie Toscan muito bem como protagonista. 93 min.


 


AS PESSOAS DO LADO (Les Gens D’a Côté), dirigido por André Téchiné, brilhante cineasta com uma vasta obra cinematográfica, tem Isabelle Huppert como protagonista.  Ela faz Lucie, uma policial já em declínio de carreira, que vê sua vida solitária mudar quando os vizinhos da casa ao lado se aproximam e desenvolve-se uma amizade.  Um casal e uma criança muito simpáticos.  Ocorre que o homem, Yann, é nada menos do que um blackbloc, um ativista contra a polícia, com longo histórico criminal. O filme explora o conflito, mostrando que convicções políticas, concepções de mundo e afetividade ocupam lugares diferentes e que certezas sempre podem ser abaladas, de parte a parte. O filme é envolvente, inteligente, tem ritmo e uma boa história, além de um elenco muito bom.  85 min.

 



A PRISIONEIRA DE BORDEAUX (La Prisionnière de Bordeaux), dirigido por Patricia Mazuy, tem também Isabelle Huppert como protagonista.  E mais uma vez em grande atuação, compartilhada com Hafsia Herzi.  A história gira em torno de Alma e Mina, que têm os respectivos maridos na prisão, e aproximam-se a partir do encontro delas em dia de visita à cadeia. Elas pertencem a mundos muito distintos, do ponto de vista econômico.  Alma, esposa de um médico famoso, vivendo sozinha num casarão sofisticado. Mina mora num modesto conjunto habitacional, muito longe da prisão.  É a partir daí que Alma generosamente recebe Mina e seus filhos para morarem com ela, pelo menos até que seu marido seja solto.  O relacionamento que resulta dessa amizade improvável traz novos elementos para todos e consequências que resultarão complicadas, de parte a parte, com implicações policiais.  Ou quase.  A história está bem desenvolvida.  O filme conquista atenção, tem bom ritmo e, novamente, o elenco se destaca. 108 min.


 


QUE DEUS ESTEJA COM ELES (Ainsi Soient-Ils), direção Riss.  Documentário.  Riss, cartunista e diretor da revista satírica Charles Hebdo, que sofreu atentado em Paris há alguns anos, sai a campo para dialogar e tentar entender a visão das três grandes religiões monoteístas.  Para isso, vai a Jerusalém e conversa com representantes cristãos, judeus e muçulmanos para perguntar, tentar entender e questionar a respeito de assuntos como intolerância religiosa, humor, dúvidas, dogmas, crenças e seus limites e aberturas a mudanças. Faz um excelente trabalho de problematização que realmente traz muita luz a esse debate tão relevante. E ele o faz por conta própria, não em nome da revista e sem qualquer sentido revanchista.  Com tranquilidade e espírito aberto.  Um belo documentário.  90 min.

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terça-feira, 22 de outubro de 2024

FOCO ÍNDIA NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 

Vi 3 filmes recentes da Índia que estão na Mostra, além da retrospectiva de Satyajit Ray.

 


TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ (All We Imagine as Light), Índia, 2024, competição Novos Diretores. 

O filme, dirigido por Payal Kapadia, tem duas etapas distintas, ao apresentar uma trama centrada na figura da enfermeira Prabha.  Na primeira, o destaque é para Mumbai, cidade grande, de oportunidades ou de ilusões, com muita agitação, problemas, desgastes, que se refletem na rotina do hospital.  Uma cidade que tem muito a oferecer, mas que se tem de suportar.  Na segunda parte, há o oposto, a ida a um pacato lugarejo litorâneo, onde se pode obter mais liberdade ou intimidade, ainda que o controle venha a ser maior, após a expressão inicial dos desejos.  Mas aqui está se falando também de fantasias, imaginação, elementos mágicos e destino.  Isso dá um sabor diferente à trama, embora também a disperse um tanto.  O filme foi o vencedor do prêmio do júri, no Festival de Cannes.  115 min.

 


SEGUNDA CHANCE (Second Chance).  Índia, 2024.  Competição Novos Diretores. Filme dirigido por Subhadra Mahajan.

O filme se passa numa casa de veraneio, no Himalaia, na verdade, na neve, em pleno frio.  A jovem Nia, que há muito não ia lá, passa um bom tempo sem que possamos saber de que se trata. Mas o assunto central acaba aparecendo e, se eu não falar dele, não tenho nada a dizer. Por isso, se não quiser saber, pare a leitura aqui e também não leia a sinopse oficial do filme.

Bem, o que se passa é uma gravidez não planejada, não desejada, e a busca por uma pílula que possa impedi-la, depois do que já aconteceu. Não fica claro se seria a opção da chamada pílula do dia seguinte ou, mais provável, de uma medicação com efeito abortivo.  O fato é que algo não deu certo.  E o filme, em magnífico preto e branco, nos leva aos sentimentos que daí surgem, colocando em cena um menino, cuja mãe morreu no parto, para interagir com ela num momento desses.  É a infância ocupando o espaço.  Por outro lado, ela está muito bem cuidada pela sabedoria de Bheni, uma mulher calejada que também tem conhecimentos ancestrais de povos originários e suas deusas das montanhas.  Há ainda a questão das diferenças de classes e castas entre os personagens principais.  Um trabalho digno de atenção.  104 min.

 


O CATADOR DE SONHOS (The Scavenger of Dreams), Índia, 2023, dirigido pelo experiente cineasta Suman Ghosh, mostra de forma ultrarrealista o que é uma sociedade desigual, separada por distâncias abissais dos pontos de vista econômico e social.  Um casal de lixeiros vive com sua filha de 6 anos numa favela de Calcutá, em situação de miséria absoluta.  E, pelo jeito, não há uma Bolsa Família para lhes assegurar as condições mínimas de uma vida digna.  Isso, apesar do trabalho remunerado do dia-a-dia, sem qualquer garantia.  Mas eles são seres humanos que não só lutam para sobreviver como têm esperanças e sonhos, como todo mundo.  Mudanças na estrutura do trabalho podem afetar o pouco que resta a essa família, já que não é possível reclamar, questionar, lutar por direitos, impunemente.  A sequência em que a catadora de lixo precisa subir a uma casa grande para fazer a coleta escancara de forma escandalosa a desigualdade existente na Índia. Não só na Índia, claro. A Índia também é aqui. O filme é muito competente em abordar essa temática de forma emocionante, envolvente, em econômicos 83 minutos de duração.

 

Mas quem quiser aproveitar o embalo do foco na Índia deste ano não pode deixar de ver ao menos 2 ou 3 filmes de um dos maiores cineastas da história do cinema: o indiano Satyajit Ray (1921-1992).  “Canção da Estrada” (1955), “O Invencível” (1956), “O Mundo de Apu” (1959), “A Grande Cidade” (1963) e “O Herói” (1966) são verdadeiras obras-primas.

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