Antonio Carlos Egypto
BOLERO,
A MELODIA ETERNA (Bolero). França, 2024.
Direção: Anne Fontaine. Elenco:
Raphaël Personnaz, Doria Tillier, Jeanne Balibar, Emmanuelle Devos. 120 min.
Maurice
Ravel (1875-1937) compôs a música mais executada de todos os tempos no mundo: o
seu famoso Bolero, lançado em 1928 e
que até hoje é ouvido sempre em todos os cantos do planeta. Impressionante!
Uma
música clássica/popular que vai num ritmo sempre crescente, uma repetição
obstinada de seu tema, uma orquestração original brilhante.
Se os
anos 1920 parisienses foram os anos loucos, da maior vibração nas artes, não se
pode dizer que Ravel tenha sido dos mais entusiasmados. Pelo menos, a julgar pelo filme de Anne
Fontaine, que o mostra na caracterização de Raphaël Personnaz como alguém
comedido, contido, exigente com sua própria obra. E que jamais teria avaliado o Bolero como sua obra-prima. Ele até se assustou com o sucesso da música.
Concebida
com dificuldades durante todo o processo de sua criação, postergada ao máximo,
superando uma crise criativa, foi encomendada pela coreógrafa Ida Rubinstein
para seu próximo balé. A inspiração para
Ravel estava no movimento e no som das máquinas de uma fábrica. Mas o balé revelou seu lado empolgante,
carnal, erótico. São os subterrâneos tempestuosos da música que transcendem o
próprio espírito do compositor. Fruto de
imaginação e de perfeição técnica.
Igor
Stravinsky (1882-1971) descreveu Ravel como “o mais preciso relojoeiro
suíço”. Mas sua música tem também muito
impacto e emoção. Bem maior do que a sua
vida, ao menos se tomarmos como referência essa cinebiografia.
Na
verdade, o filme se dedica a contar a história do Bolero mais do que a de Ravel.
Como cinebiografia, o filme não empolga.
Mas tem a música maravilhosa de Ravel, não só o Bolero, as composições para piano e orquestra, suas orquestrações extraordinárias
(a mais famosa sendo a versão de “Quadros de Uma Exposição”, de Mussorgsky) e
alguns trechos de outros compositores clássicos. Isso torna o filme delicioso, fascinante para
os amantes da música erudita e sua relação com a música popular. Ravel, de certo modo, rompeu os limites entre
a chamada música ligeira e a música considerada mais séria.
Se sua
vida, o amor impossível por sua musa Misia e a dificuldade com as mulheres, não
lhe trouxe muito prazer, sua música nos oferece um enorme prazer estético. A começar pelo infatigável Bolero, que nos arrebata sempre.
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