domingo, 30 de março de 2025

OESTE OUTRA VEZ

                                     Antonio Carlos Egypto

 


OESTE OUTRA VEZ.  Brasil, 2024.  Direção: Erico Rassi.  Elenco: Ângelo Antônio, Rodger Rogério, Babu Santana, Antônio Pitanga.  97 min.

 

“Oeste Outra Vez”, filme brasileiro, realizado em Goiás, por Erico Rassi, que saiu premiado do Festival de Gramado, chega agora aos cinemas.  Como o nome já indica, é um faroeste nacional, que se vale de belas locações de natureza como paisagem, como a Chapada dos Veadeiros.  Mas sua estética não esconde, aliás ressalta, a pobreza, a sujeira, o descaso com o meio ambiente.

 

É um filme essencialmente masculino, e machista, como costumavam ser os personagens do western.  É, ao mesmo tempo, irônico e crítico em relação ao mundo masculino aí retratado.  Os homens são frágeis, têm vulnerabilidades que escapam ao controle deles.  Não são capazes de construir ideias, planos de ação.  Reflexões, então, nem pensar.

 

Uma curiosidade é que os diálogos, ao refletirem tudo isso, tornam-se tão completamente banais e vazios de conteúdo que esse é um dos pontos altos do filme.  Eles são inusitados, até engraçados, retratam com fidelidade aquele mundo de frustrações masculinas.

 

A frustração maior, e a única destacada pelo filme, é em relação às mulheres.  Elas abandonam os homens porque não se sentem felizes, consideradas, respeitadas.  Isso fica implícito nas falas deles.  Mas uma cena, logo no início, resume o filme.  Enquanto dois homens se batem intensamente numa briga prolongada, a mulher que seria o objeto dessa peleja sai do carro e caminha indiferente àquela contenda e aos dois contendores.

 


São homens rudes, despreparados, grosseiros, incapazes de cuidar de si mesmos, acabam relegados inevitavelmente à solidão.  Para eles a mulher é apenas um objeto que serviria para cuidar da casa, sempre suja e abandonada, cuidar dos interesses e desejos deles.  E só, sem nenhuma consideração. Que mulher pode querer isso?

 

A decorrência disso tudo é que, para tentar recuperar uma mulher perdida para um outro, o mais comum é querer matar o concorrente, ou melhor, mandar matá-lo.  A crença é a de que desse modo ela voltaria ao “lar” anterior.  Nada mais pueril e primitivo.  Ocorre que, nem nesse quesito, os homens são competentes: eles erram os tiros, não têm pontaria ou coragem de se aproximar o tanto que seria necessário para o êxito de um assassinato.  Assim, o drama, praticamente, vira comédia.  Não exatamente no registro cênico, mas no significado evidenciado.  É uma história interessante, embora não se aprofunde nas questões que cercam tudo isso.  Falta um pouco mais de contexto.  Em todo caso, a descrição dos personagens dá um recado claro.

 

Além disso, o filme explora um clima de forma lenta e pausada, deixando sempre coisas no ar e, surpreendentemente, prende a nossa atenção de espectador o tempo todo.  A inspiração seria o trabalho de Sérgio Leone, em “Era Uma Vez no Oeste”, por exemplo.  O resultado é bem mais modesto, mas funciona.

 

O trabalho do elenco é bem eficiente para a obtenção do clima pretendido.  Ângelo Antônio e Babu Santana, em disputa por uma mulher, e um querendo matar o outro, Rodger Rogério como o pistoleiro que não chegou a ser capanga, o ermitão, papel de Antônio Pitanga, e todos os demais membros desse mundo masculino tóxico e frustrante compõem bem a trama, rarefeita mas intrigante, de “Oeste Outra Vez”.  



 

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