Antonio Carlos Egypto
OESTE
OUTRA VEZ. Brasil, 2024. Direção: Erico Rassi. Elenco: Ângelo Antônio, Rodger Rogério, Babu
Santana, Antônio Pitanga. 97 min.
“Oeste
Outra Vez”, filme brasileiro, realizado em Goiás, por Erico Rassi, que saiu
premiado do Festival de Gramado, chega agora aos cinemas. Como o nome já indica, é um faroeste
nacional, que se vale de belas locações de natureza como paisagem, como a
Chapada dos Veadeiros. Mas sua estética
não esconde, aliás ressalta, a pobreza, a sujeira, o descaso com o meio
ambiente.
É um
filme essencialmente masculino, e machista, como costumavam ser os personagens
do western. É, ao mesmo tempo, irônico e crítico em
relação ao mundo masculino aí retratado.
Os homens são frágeis, têm vulnerabilidades que escapam ao controle
deles. Não são capazes de construir
ideias, planos de ação. Reflexões,
então, nem pensar.
Uma
curiosidade é que os diálogos, ao refletirem tudo isso, tornam-se tão
completamente banais e vazios de conteúdo que esse é um dos pontos altos do
filme. Eles são inusitados, até
engraçados, retratam com fidelidade aquele mundo de frustrações masculinas.
A
frustração maior, e a única destacada pelo filme, é em relação às
mulheres. Elas abandonam os homens
porque não se sentem felizes, consideradas, respeitadas. Isso fica implícito nas falas deles. Mas uma cena, logo no início, resume o
filme. Enquanto dois homens se batem
intensamente numa briga prolongada, a mulher que seria o objeto dessa peleja
sai do carro e caminha indiferente àquela contenda e aos dois contendores.
São
homens rudes, despreparados, grosseiros, incapazes de cuidar de si mesmos,
acabam relegados inevitavelmente à solidão.
Para eles a mulher é apenas um objeto que serviria para cuidar da casa,
sempre suja e abandonada, cuidar dos interesses e desejos deles. E só, sem nenhuma consideração. Que mulher
pode querer isso?
A
decorrência disso tudo é que, para tentar recuperar uma mulher perdida para um
outro, o mais comum é querer matar o concorrente, ou melhor, mandar
matá-lo. A crença é a de que desse modo
ela voltaria ao “lar” anterior. Nada
mais pueril e primitivo. Ocorre que, nem
nesse quesito, os homens são competentes: eles erram os tiros, não têm pontaria
ou coragem de se aproximar o tanto que seria necessário para o êxito de um
assassinato. Assim, o drama,
praticamente, vira comédia. Não
exatamente no registro cênico, mas no significado evidenciado. É uma história interessante, embora não se
aprofunde nas questões que cercam tudo isso.
Falta um pouco mais de contexto.
Em todo caso, a descrição dos personagens dá um recado claro.
Além
disso, o filme explora um clima de forma lenta e pausada, deixando sempre
coisas no ar e, surpreendentemente, prende a nossa atenção de espectador o
tempo todo. A inspiração seria o
trabalho de Sérgio Leone, em “Era Uma Vez no Oeste”, por exemplo. O resultado é bem mais modesto, mas funciona.
O
trabalho do elenco é bem eficiente para a obtenção do clima pretendido. Ângelo Antônio e Babu Santana, em disputa por
uma mulher, e um querendo matar o outro, Rodger Rogério como o pistoleiro que
não chegou a ser capanga, o ermitão, papel de Antônio Pitanga, e todos os
demais membros desse mundo masculino tóxico e frustrante compõem bem a trama,
rarefeita mas intrigante, de “Oeste Outra Vez”.
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