domingo, 23 de fevereiro de 2025

O BRUTALISTA

Antonio Carlos Egypto

 


 O BRUTALISTA (The Brutalist).  Estados Unidos, 2024.  Direção: Brady Corbet.  Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Raffey Cassidy, Alessandro Nivola.  215 min. com intervalo.

 

“O Brutalista” é uma peça de ficção roteirizada pelo diretor Brady Corbet e por sua esposa Mona Fastvold.  O personagem central é László Tóth (Adrien Brody), um arquiteto judeu húngaro, que sobreviveu ao Holocausto nazista, escapou do domínio soviético em Budapeste, durante a Segunda Guerra Mundial e imigrou para os Estados Unidos, em busca do chamado sonho americano.

 

O filme explora, em toda sua longuíssima duração, uma série de questões ligadas à imigração: a difícil sobrevivência inicial, mesmo contando com um parente no local, a oportunidade que surge, sim, na figura de um mecenas que reconhece o talento do arquiteto e lhe oferece uma grande obra a ser feita, ao mesmo tempo em que desfila preconceitos diversos e desrespeitos flagrantes à figura de László. É o papel de Harrison Van Buren, vivido com brilhantismo por Guy Pearce.  A batalha para conseguir trazer para a América a mulher, Erzsébet (Felicity Jones), e a sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy), os problemas com as doenças e a dependência de drogas necessárias para aguentar o tranco.  Enfim, o sonho americano pode ser muito amargo e estranho, como a figura, óbvia, da Estátua da Liberdade de cabeça para baixo.

 

A questão do judaísmo e o então recém-fundado Estado de Israel visto como o lar “obrigatório” dos judeus cria conflitos familiares, que voltam a separar a família que acabara de se reunir nos Estados Unidos.  A religiosidade também se destaca na criação do arquiteto para uma capela em que uma cruz se forma, a partir dos reflexos do sol no teto da obra.  Judaísmo e cristianismo perpassam a vida e o trabalho do arquiteto, mesmo ele não sendo uma pessoa religiosa.

 


A arquitetura está no foco central de tudo, desde o primeiro trabalho de László na América, ao criar uma formidável biblioteca, de início rejeitada. Trata-se aqui da arquitetura brutalista, de formas geométricas gigantes, ousadas, de concreto bruto e aparente.  Uma estética crua e muito resistente, sobreviveu à própria guerra, conforme comenta o personagem do arquiteto.  É uma espécie de design para a reconstrução sólida da Europa do pós-guerra, de inspiração germânica, que remete ao passado, mas com toques modernistas.  Vem daí o nome do filme. Mas há um brutalismo simbólico fluindo também pelo filme.

 

Outro ponto de destaque é a relação entre o artista criador e seu mecenas, seus patrocinadores.  Essa relação é sempre marcada pelo choque de visões, pelo poder que tanto impulsiona quanto censura ou destrói a criação. As idas e vindas, negociações e concessões e até mesmo humilhações que daí resultam, são a base de um conflito permanente em que os sucessos e fracassos se alternam continuamente.  E os limites, tanto de um lado quanto do outro, são postos à prova.  Pesando mais contra o artista, evidentemente.

 

É, sem dúvida, um trabalho competente, uma história contada de uma forma adequada e envolvente, especialmente na primeira parte, onde o convívio ainda corre bem, apesar dos ruídos.  Na segunda parte, quando os conflitos se projetam, as coisas ameaçam passar um pouco do ponto, aproximando-se dos excessos tão característicos do cinema atual.  No entanto, a eficácia do discurso prevalece. 

 

A estupenda trilha sonora se destaca, assim como uma bela fotografia, dão a “O Brutalista” um salto de qualidade que valoriza ainda mais o excelente elenco, liderado por Adrien Brody, em grande desempenho, o que pode lhe valer o Oscar 2025 de ator.  Além dele, o filme concorre em outras 9 categorias: melhor filme, diretor, ator e atriz coadjuvantes, roteiro original, trilha sonora, fotografia, montagem e design de produção.




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