Antonio Carlos Egypto
O BRUTALISTA (The Brutalist). Estados
Unidos, 2024. Direção: Brady
Corbet. Elenco: Adrien Brody, Felicity
Jones, Guy Pearce, Raffey Cassidy, Alessandro Nivola. 215 min. com intervalo.
“O
Brutalista” é uma peça de ficção roteirizada pelo diretor Brady Corbet e por sua
esposa Mona Fastvold. O personagem
central é László Tóth (Adrien Brody), um arquiteto judeu húngaro, que
sobreviveu ao Holocausto nazista, escapou do domínio soviético em Budapeste,
durante a Segunda Guerra Mundial e imigrou para os Estados Unidos, em busca do
chamado sonho americano.
O
filme explora, em toda sua longuíssima duração, uma série de questões ligadas à
imigração: a difícil sobrevivência inicial, mesmo contando com um parente no
local, a oportunidade que surge, sim, na figura de um mecenas que reconhece o
talento do arquiteto e lhe oferece uma grande obra a ser feita, ao mesmo tempo
em que desfila preconceitos diversos e desrespeitos flagrantes à figura de László.
É o papel de Harrison Van Buren, vivido com brilhantismo por Guy Pearce. A batalha para conseguir trazer para a
América a mulher, Erzsébet (Felicity Jones), e a sobrinha Zsófia (Raffey
Cassidy), os problemas com as doenças e a dependência de drogas necessárias
para aguentar o tranco. Enfim, o sonho
americano pode ser muito amargo e estranho, como a figura, óbvia, da Estátua da
Liberdade de cabeça para baixo.
A
questão do judaísmo e o então recém-fundado Estado de Israel visto como o lar
“obrigatório” dos judeus cria conflitos familiares, que voltam a separar a
família que acabara de se reunir nos Estados Unidos. A religiosidade também se destaca na criação
do arquiteto para uma capela em que uma cruz se forma, a partir dos reflexos do
sol no teto da obra. Judaísmo e
cristianismo perpassam a vida e o trabalho do arquiteto, mesmo ele não sendo
uma pessoa religiosa.
A
arquitetura está no foco central de tudo, desde o primeiro trabalho de László
na América, ao criar uma formidável biblioteca, de início rejeitada. Trata-se
aqui da arquitetura brutalista, de formas geométricas gigantes, ousadas, de
concreto bruto e aparente. Uma estética
crua e muito resistente, sobreviveu à própria guerra, conforme comenta o personagem
do arquiteto. É uma espécie de design para a reconstrução sólida da
Europa do pós-guerra, de inspiração germânica, que remete ao passado, mas com
toques modernistas. Vem daí o nome do
filme. Mas há um brutalismo simbólico fluindo também pelo filme.
Outro
ponto de destaque é a relação entre o artista criador e seu mecenas, seus
patrocinadores. Essa relação é sempre
marcada pelo choque de visões, pelo poder que tanto impulsiona quanto censura
ou destrói a criação. As idas e vindas, negociações e concessões e até mesmo
humilhações que daí resultam, são a base de um conflito permanente em que os
sucessos e fracassos se alternam continuamente.
E os limites, tanto de um lado quanto do outro, são postos à prova. Pesando mais contra o artista, evidentemente.
É, sem
dúvida, um trabalho competente, uma história contada de uma forma adequada e
envolvente, especialmente na primeira parte, onde o convívio ainda corre bem,
apesar dos ruídos. Na segunda parte,
quando os conflitos se projetam, as coisas ameaçam passar um pouco do ponto,
aproximando-se dos excessos tão característicos do cinema atual. No entanto, a eficácia do discurso
prevalece.
A
estupenda trilha sonora se destaca, assim como uma bela fotografia, dão a “O
Brutalista” um salto de qualidade que valoriza ainda mais o excelente elenco,
liderado por Adrien Brody, em grande desempenho, o que pode lhe valer o Oscar
2025 de ator. Além dele, o filme
concorre em outras 9 categorias: melhor filme, diretor, ator e atriz
coadjuvantes, roteiro original, trilha sonora, fotografia, montagem e design de produção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário