quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

CONCLAVE e KASA BRANCA

Antonio Carlos Egypto

 



CONCLAVE (Conclave).  Reino Unido/Estados Unidos, 2024.  Direção: Edward Berger.  Elenco: Ralph Fiennes, Isabella Rossellini, Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castelito, Carlos Diehz.  120 min.

 

Conclave é o evento antigo e cheio de segredos que marca a escolha de um novo papa, pelos cardeais da Igreja Católica, após a morte do que estava em atividade (ou a sua renúncia, o que também pode acontecer).  O filme “Conclave”, baseado em livro de Robert Harris, é uma ficção, que incorpora fatos e situações possíveis, prováveis de ocorrer, numa situação de disputa de poder, frequentemente negada pelos envolvidos, e a escolha, que tem de ser por ampla maioria, quase unanimidade, atribuída à inspiração do Espírito Santo.  O filme explora esses meandros com foco totalmente na figura do cardeal decano do Vaticano, Lawrence (Ralph Fiennes), que tem a responsabilidade de conduzir o conclave. É ele quem, genuinamente, tem de administrar os problemas que surgem envolvendo os possíveis escolhidos, cujos erros e “pecados” do passado vêm à tona, sua avidez pelo poder se evidencia ou suas ideias preconceituosas e ultrapassadas incomodam seus pares.  As diversas votações e suas variações, às vezes enormes, vão acontecendo, sem que se esteja conseguindo chegar ao veredito final, marcado pela saída da fumaça branca.  “Conclave” é um filme bem realizado, na forma tradicional, com uma história contada linearmente no tempo, em que acompanhamos os passos, dúvidas, hesitações e decisões do decano, e que nos levará a surpresas muito eloquentes.  É um filme que mexe no vespeiro da Igreja Católica, com um roteiro muito bem concebido, que é um dos seus pontos altos.  O outro é o elenco, muito forte. E uma coisa importante: num filme tão marcado pelos homens, o papel da mulher na Igreja ganha relevo.  O diretor Edward Berger se concentra na história e no suspense do enredo, mas tem algumas sequências que inserem beleza e leveza no filme, em alguns momentos.  No geral, são os bastidores do poder da Igreja os elementos centrais e definidores da narrativa.  “Conclave” concorre ao Oscar de melhor filme, ator, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, montagem, direção de arte, figurino e trilha sonora.

 




KASA BRANCA.  Brasil, 2024.  Direção: Luciano Vidigal.  Elenco: Big Jaum, Teca Pereira, Diego Francisco, Ramon Francisco, Babu Santana, Otávio Muller.  95 min.

 

“Kasa Branca”, dirigido por Luciano Vidigal, é o primeiro lançamento de 2025 da Seção Vitrine Petrobrás, a preços reduzidos.  O filme trata da cada vez mais frequente dificuldade da doença de Alzheimer na vida das famílias, em tempos de maior longevidade das pessoas.  Se essa doença causa tantos problemas a qualquer família, isso se torna muito mais dramático diante da pobreza.  No caso de “Kasa Branca”, o protagonista é o jovem negro Dé (Big Jaum), que mesmo sem recursos, com o pai ausente, dedica-se à sua avó, D. Almerinda (Teca Pereira) com muito afeto.  Mais do que isso: tentando aproveitar os poucos momentos que lhes restam juntos, já que ela vive em estado terminal da enfermidade.  Ele a leva a lugares que podem lhe ser estimulantes, trazerem elementos de memória e laivos de felicidade.  Para isso, conta com a ajuda de dois amigos, Adrianinho (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), que o acompanham em tudo, com muita solidariedade.  A pobreza, no entanto, é um drama.  Chega uma hora em que não há mais nenhuma condição de arcar com o custo dos medicamentos de D.Almerinda. A solução encontrada é assaltar a farmácia, quando fechada, para roubar o remédio.  Interessante notar que nada mais foi roubado pelos meninos, nenhum dinheiro do caixa. O que mostra a ação por desespero, de luta simplesmente pelo bem-estar no fim da vida.  O filme mostra não só essa relação de neto, avó e amigos, mas as dificuldades econômicas que são a regra da vida desse pessoal, as agruras por que têm de passar, a fragilidade e a vulnerabilidade aí envolvidas.  Enfim, um retrato da realidade da pobreza, que acaba tornando tudo mais difícil, mesmo contando com a solidariedade das pessoas em volta, da ajuda que sempre aparece, do espírito comunitário.  Por melhores que sejam as pessoas e as intenções, na pobreza a vida é sempre dura.  Mesmo assim, há os momentos de festa, de música, da dança, da celebração da vida.




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