Antonio Carlos Egypto
CONCLAVE (Conclave). Reino Unido/Estados Unidos, 2024. Direção: Edward Berger. Elenco: Ralph Fiennes, Isabella Rossellini,
Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castelito, Carlos Diehz. 120 min.
Conclave
é o evento antigo e cheio de segredos que marca a escolha de um novo papa,
pelos cardeais da Igreja Católica, após a morte do que estava em atividade (ou
a sua renúncia, o que também pode acontecer).
O filme “Conclave”, baseado em livro de Robert Harris, é uma ficção, que
incorpora fatos e situações possíveis, prováveis de ocorrer, numa situação de
disputa de poder, frequentemente negada pelos envolvidos, e a escolha, que tem
de ser por ampla maioria, quase unanimidade, atribuída à inspiração do Espírito
Santo. O filme explora esses meandros
com foco totalmente na figura do cardeal decano do Vaticano, Lawrence (Ralph
Fiennes), que tem a responsabilidade de conduzir o conclave. É ele quem,
genuinamente, tem de administrar os problemas que surgem envolvendo os
possíveis escolhidos, cujos erros e “pecados” do passado vêm à tona, sua avidez
pelo poder se evidencia ou suas ideias preconceituosas e ultrapassadas
incomodam seus pares. As diversas
votações e suas variações, às vezes enormes, vão acontecendo, sem que se esteja
conseguindo chegar ao veredito final, marcado pela saída da fumaça branca. “Conclave” é um filme bem realizado, na forma
tradicional, com uma história contada linearmente no tempo, em que acompanhamos
os passos, dúvidas, hesitações e decisões do decano, e que nos levará a
surpresas muito eloquentes. É um filme
que mexe no vespeiro da Igreja Católica, com um roteiro muito bem concebido,
que é um dos seus pontos altos. O outro
é o elenco, muito forte. E uma coisa importante: num filme tão marcado pelos
homens, o papel da mulher na Igreja ganha relevo. O diretor Edward Berger se concentra na
história e no suspense do enredo, mas tem algumas sequências que inserem beleza
e leveza no filme, em alguns momentos. No geral, são os bastidores do poder da Igreja
os elementos centrais e definidores da narrativa. “Conclave” concorre ao Oscar de melhor filme,
ator, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, montagem, direção de arte, figurino
e trilha sonora.
KASA
BRANCA. Brasil, 2024. Direção: Luciano Vidigal. Elenco: Big Jaum, Teca Pereira, Diego
Francisco, Ramon Francisco, Babu Santana, Otávio Muller. 95 min.
“Kasa
Branca”, dirigido por Luciano Vidigal, é o primeiro lançamento de 2025 da Seção
Vitrine Petrobrás, a preços reduzidos. O filme trata da
cada vez mais frequente dificuldade da doença de Alzheimer na vida das
famílias, em tempos de maior longevidade das pessoas. Se essa doença causa tantos problemas a qualquer
família, isso se torna muito mais dramático diante da pobreza. No caso de “Kasa Branca”, o protagonista é o
jovem negro Dé (Big Jaum), que mesmo sem recursos, com o pai ausente, dedica-se
à sua avó, D. Almerinda (Teca Pereira) com muito afeto. Mais do que isso: tentando aproveitar os
poucos momentos que lhes restam juntos, já que ela vive em estado terminal da
enfermidade. Ele a leva a lugares que
podem lhe ser estimulantes, trazerem elementos de memória e laivos de
felicidade. Para isso, conta com a ajuda
de dois amigos, Adrianinho (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), que o
acompanham em tudo, com muita solidariedade.
A pobreza, no entanto, é um drama.
Chega uma hora em que não há mais nenhuma condição de arcar com o custo
dos medicamentos de D.Almerinda. A solução encontrada é assaltar a farmácia,
quando fechada, para roubar o remédio.
Interessante notar que nada mais foi roubado pelos meninos, nenhum
dinheiro do caixa. O que mostra a ação por desespero, de luta simplesmente pelo
bem-estar no fim da vida. O filme mostra
não só essa relação de neto, avó e amigos, mas as dificuldades econômicas que
são a regra da vida desse pessoal, as agruras por que têm de passar, a
fragilidade e a vulnerabilidade aí envolvidas.
Enfim, um retrato da realidade da pobreza, que acaba tornando tudo mais
difícil, mesmo contando com a solidariedade das pessoas em volta, da ajuda que
sempre aparece, do espírito comunitário.
Por melhores que sejam as pessoas e as intenções, na pobreza a vida é
sempre dura. Mesmo assim, há os momentos
de festa, de música, da dança, da celebração da vida.
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