segunda-feira, 28 de outubro de 2024

ORIENTAIS NA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 



LEVADOS PELAS MARÉS (Feng Liu Yi Dai), China, 2024, é o novo trabalho do grande diretor chinês, de Fenyang, Jia Zhang Ke.  A cinematografia desse diretor tem sido a de mostrar o lado B da China, essa potência atual do mundo, que cresce e se desenvolve econômica e tecnologicamente.  Ocorre que as mudanças que vão se concretizando a todo vapor têm um caráter autoritário, com consequências para a população mais pobre e desprotegida do país.  O povo tem de tolerar os efeitos de políticas públicas que demolem verdadeiras cidades, a constituição de uma represa gigantesca que desloca a população e tantas outras questões que aparecem documentalmente em seus filmes, como a pandemia e as máscaras onipesentes. Aliás, neste, ele reaproveita muitas cenas de seus outros filmes, ao colocar seus personagens viajando, em busca de se reencontrar, por várias partes da China.  Alguém precisa se lembrar de se preocupar com o povo quando manobras expansionistas não respeitam seus direitos e seus interesses.  O cinema de Jia Zhang Ke tem essa sensibilidade.  111 min.

 

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SOL DE INVERNO (Boku No Ohisama), Japão, 2024, tem direção de Hiroshi Okuyama, Competição Novos Diretores.  O filme se debruça sobre um menino que se encanta com uma garota que brilha na patinação artística no gelo.  No inverno, ele joga hóquei no gelo, mas vê com muito mais interesse a ginástica artística e a possibilidade de se aproximar da menina talentosa.  O treinador dela percebe esse interesse e ajuda o garoto a adquirir técnica para atuar junto com ela numa competição.  Alguns problemas vão complicar essa história, tanto pelo envolvimento afetivo, quanto pelos preconceitos que emergirão daí.  Na verdade, o grande interesse do filme é mostrar a dança, a patinação artística no gelo, o empenho para aprender e realizar os movimentos corretos, já que a maior parte do tempo é isso que o filme mostra.  90 min.

 



ATRAVÉS DO FLUXO (Suyoocheon), Coreia do Sul, 2024, é o mais novo trabalho do prolífico diretor Hong Sang-soo.  Esse cineasta faz muitos filmes, todos marcados pela simplicidade, pela conversa ao redor da mesa, com comida e bebida.  Por meio desse recurso constante, ele traz questões de relacionamento humano verdadeiras e tocantes.  Às vezes, também ingênuas, revelando os desapontamentos e frustrações das pessoas, as escolhas difíceis, mas sempre questões humanas psicologicamente relevantes.  Aqui, uma jovem professora pede ao tio, encenador teatral, que dirija uma dramatização com alunas da universidade. Ele, surpreendentemente, aceita, porque se remete a algo semelhante que ele fez lá mesmo, quarenta anos atrás. Ocorre que a experiência anterior não tinha sido muito bem sucedida.  Quem conhece o estilo do diretor vai adorar.  Quem não conhece, pode estranhar.  Mas vale a pena tentar.  É só se preparar para o estilo oriental das ações e comportamentos, onde tudo flui mais devagar e cerimoniosamente.  111 min.

 



PERMANÊNCIA EM LUGAR NENHUM (Wu Suo Zhu), Taiwan, 2024, dirigido pelo malaio Tsai Ming-Liang.  É muito bom constatar que, ao contrário do que anunciou o cineasta, ele não parou de fazer filmes.  Seria uma pena o cinema perder o seu talento e estilo tão característicos.  O filme, de caráter documental, focaliza Xuanzang, o monge da dinastia Tang, que vagou a pé pelo mundo.  Papel do ator Lee Kang-Sheng, colaborador habitual do diretor.  A proposta do filme é radical, o monge caminha lenta e firmemente, passando por ruas, igrejas, pradaria, museus, monumentos, sem diálogos, com som ambiente e música só ao final. Em paralelo, outro personagem cozinha um macarrão (chop suey?) e depois o vemos comendo na mesma panela.  Um filme zen, belo, mas exigente para o espectador.  79 min.


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