Antonio Carlos Egypto
LEVADOS PELAS MARÉS (Feng Liu Yi Dai),
China, 2024, é o novo trabalho do grande diretor chinês, de Fenyang, Jia Zhang Ke. A cinematografia desse diretor tem sido a de
mostrar o lado B da China, essa potência atual do mundo, que cresce e se
desenvolve econômica e tecnologicamente.
Ocorre que as mudanças que vão se concretizando a todo vapor têm um
caráter autoritário, com consequências para a população mais pobre e
desprotegida do país. O povo tem de
tolerar os efeitos de políticas públicas que demolem verdadeiras cidades, a
constituição de uma represa gigantesca que desloca a população e tantas outras
questões que aparecem documentalmente em seus filmes, como a pandemia e as máscaras onipesentes. Aliás, neste, ele reaproveita muitas cenas de
seus outros filmes, ao colocar seus personagens viajando, em busca de se
reencontrar, por várias partes da China.
Alguém precisa se lembrar de se preocupar com o povo quando manobras
expansionistas não respeitam seus direitos e seus interesses. O cinema de Jia Zhang Ke tem essa
sensibilidade. 111 min.
+
SOL DE INVERNO (Boku No Ohisama), Japão, 2024, tem
direção de Hiroshi Okuyama, Competição Novos Diretores. O filme se debruça sobre um menino que se
encanta com uma garota que brilha na patinação artística no gelo. No inverno, ele joga hóquei no gelo, mas vê
com muito mais interesse a ginástica artística e a possibilidade de se aproximar
da menina talentosa. O treinador dela
percebe esse interesse e ajuda o garoto a adquirir técnica para atuar junto com
ela numa competição. Alguns problemas
vão complicar essa história, tanto pelo envolvimento afetivo, quanto pelos
preconceitos que emergirão daí. Na
verdade, o grande interesse do filme é mostrar a dança, a patinação artística
no gelo, o empenho para aprender e realizar os movimentos corretos, já que a
maior parte do tempo é isso que o filme mostra.
90 min.
ATRAVÉS DO FLUXO (Suyoocheon),
Coreia do Sul, 2024, é o mais novo trabalho do prolífico diretor Hong
Sang-soo. Esse cineasta faz muitos
filmes, todos marcados pela simplicidade, pela conversa ao redor da mesa, com
comida e bebida. Por meio desse recurso
constante, ele traz questões de relacionamento humano verdadeiras e
tocantes. Às vezes, também ingênuas,
revelando os desapontamentos e frustrações das pessoas, as escolhas difíceis,
mas sempre questões humanas psicologicamente relevantes. Aqui, uma jovem professora pede ao tio,
encenador teatral, que dirija uma dramatização com alunas da universidade. Ele,
surpreendentemente, aceita, porque se remete a algo semelhante que ele fez lá
mesmo, quarenta anos atrás. Ocorre que a experiência anterior não tinha sido
muito bem sucedida. Quem conhece o
estilo do diretor vai adorar. Quem não
conhece, pode estranhar. Mas vale a pena
tentar. É só se preparar para o estilo
oriental das ações e comportamentos, onde tudo flui mais devagar e
cerimoniosamente. 111 min.
PERMANÊNCIA EM LUGAR NENHUM (Wu Suo Zhu), Taiwan, 2024, dirigido pelo malaio Tsai Ming-Liang. É muito bom constatar que, ao contrário do que anunciou o cineasta, ele não parou de fazer filmes. Seria uma pena o cinema perder o seu talento e estilo tão característicos. O filme, de caráter documental, focaliza Xuanzang, o monge da dinastia Tang, que vagou a pé pelo mundo. Papel do ator Lee Kang-Sheng, colaborador habitual do diretor. A proposta do filme é radical, o monge caminha lenta e firmemente, passando por ruas, igrejas, pradaria, museus, monumentos, sem diálogos, com som ambiente e música só ao final. Em paralelo, outro personagem cozinha um macarrão (chop suey?) e depois o vemos comendo na mesma panela. Um filme zen, belo, mas exigente para o espectador. 79 min.
@mostrasp #mostrasp
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