Antonio Carlos Egypto
AINDA ESTOU AQUI, o
filme de Walter Salles, que está sendo muito valorizado e reconhecido em
festivais internacionais e que está indicado a representar o Brasil na corrida
pelo Oscar de filme internacional, teve sua primeira exibição no Brasil na
Mostra 48, com entusiasmo e sessões cheias e disputadas. Não é para menos. O filme é excelente, ao retratar um dos casos
mais emblemáticos da ditadura militar no Brasil: o caso Rubens Paiva,
engenheiro e deputado cassado na época, que foi torturado, morto, e cujo corpo
desapareceu nas mãos do Estado totalitário.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice, contou a
história da família vivendo esse drama no livro homônimo, que serviu de base e
deu título ao filme. No centro da
narrativa, a figura de Eunice Paiva, uma mulher corajosa, lutadora,
determinada. Que foi capaz de enfrentar
tudo isso, incluindo a sua própria prisão e a de sua filha mais velha, por um
tempo, educando cinco filhos. Marcelo,
então, um garotinho. O papel de Eunice é
vivido com brilhantismo por Fernanda Torres, num desempenho que deve lhe render
muitos prêmios. No elenco, Selton Mello
no papel de Rubens e uma participação especial de Fernanda Montenegro. Importantíssimo conhecer, por meio da
revoltante história vivida pela família Paiva, os meandros cruéis e ilegais do
regime ditatorial que foi imposto ao país por um golpe cívil-militar em 1964 e
que durou 21 anos. Para que não se
repita. Apesar do tema pesado e difícil, o filme tem respiro, alguma leveza e
humor, o que torna a experiência de assisti-lo muito gratificante. 135 min.
MARIA CALLAS (Maria), produção
internacional que envolve Itália, Alemanha e Estados Unidos, dirigido pelo
conceituado diretor chileno Pablo Larraín, é um espetáculo
cinematográfico/musical de peso. Dá o
devido e merecido destaque ao canto daquela que foi a maior na ópera em todo o
mundo: Maria Callas (1923-1977). O foco
do filme, porém, é o período de decadência, de perda progressiva da voz de
Callas, associado a seus problemas de saúde, em grande parte decorrentes do uso
abusivo de remédios e, claro, dos excessos da profissão. O brilhantismo vem dos flash-backs e das gravações.
Angelina Jolie vive muito convincentemente a diva do canto lírico, ao
lado de outros colegas do elenco, como Pierfrancesco Favino e Alba
Rohrwacher. Foi o filme de abertura da
Mostra 48. 123 min.
Gostaria
de destacar também dois filmes cujas narrativas dialogam com questões
comportamentais da modernidade.
SEX, da Noruega, dirigido por Dag
Johan Hangerud, põe em questão a masculinidade e suas relações com sexualidade,
gênero e identidade. Mostra o
relacionamento de dois amigos e colegas de trabalho que trocam suas
experiências e se surpreendem com o que lhes acontece. Ambos homens em casamentos
heterossexuais. Um tem um encontro
sexual fortuito com outro homem, sem considerar que isso tenha qualquer
importância na vida dele. Tanto que
comenta naturalmente o fato com a mulher.
O outro se sente confuso ao se ver como mulher em seus próprios
sonhos. E por aí o filme levanta
questões muito interessantes para os dias de hoje. Os atores protagonistas são muito bons,
entram no clima com talento. 125 min.
PAUL E PAULETTE TOMAM UM BANHO (Paul and Paulette take a bath),
filme de Jethro Massey, do Reino Unido, da competição Novos Diretores, mostra
um encontro bizarro entre os personagens do título em Paris. Paul, um jovem fotógrafo norte-americano, e
Paulette, uma garota francesa que curte excentricidades, crimes e outros fatos
sombrios em seus lugares de origem. Ela,
vivendo a dolorosa separação de sua namorada Marguerita. Ele, entrando na aventura bizarra, em busca
de conquistar Paulette. Além do jogo
curioso entre fantasia e realidade que o filme explora, são as relações da
sexualidade na modernidade o que se evidencia também. No elenco, os jovens Marie Benati e Jérémie
Galiana têm bons desempenhos. 109 min.
@mostrasp #mostrasp
Tudo muito interessante!!!
ResponderExcluir