sábado, 19 de outubro de 2024

DESTAQUES DA MOSTRA 48

Antonio Carlos Egypto

 


AINDA ESTOU AQUI, o filme de Walter Salles, que está sendo muito valorizado e reconhecido em festivais internacionais e que está indicado a representar o Brasil na corrida pelo Oscar de filme internacional, teve sua primeira exibição no Brasil na Mostra 48, com entusiasmo e sessões cheias e disputadas.  Não é para menos.  O filme é excelente, ao retratar um dos casos mais emblemáticos da ditadura militar no Brasil: o caso Rubens Paiva, engenheiro e deputado cassado na época, que foi torturado, morto, e cujo corpo desapareceu nas mãos do Estado totalitário.  O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice, contou a história da família vivendo esse drama no livro homônimo, que serviu de base e deu título ao filme.  No centro da narrativa, a figura de Eunice Paiva, uma mulher corajosa, lutadora, determinada.  Que foi capaz de enfrentar tudo isso, incluindo a sua própria prisão e a de sua filha mais velha, por um tempo, educando cinco filhos.  Marcelo, então, um garotinho.  O papel de Eunice é vivido com brilhantismo por Fernanda Torres, num desempenho que deve lhe render muitos prêmios.  No elenco, Selton Mello no papel de Rubens e uma participação especial de Fernanda Montenegro.  Importantíssimo conhecer, por meio da revoltante história vivida pela família Paiva, os meandros cruéis e ilegais do regime ditatorial que foi imposto ao país por um golpe cívil-militar em 1964 e que durou 21 anos.  Para que não se repita. Apesar do tema pesado e difícil, o filme tem respiro, alguma leveza e humor, o que torna a experiência de assisti-lo muito gratificante.  135 min.

 


MARIA CALLAS (Maria), produção internacional que envolve Itália, Alemanha e Estados Unidos, dirigido pelo conceituado diretor chileno Pablo Larraín, é um espetáculo cinematográfico/musical de peso.  Dá o devido e merecido destaque ao canto daquela que foi a maior na ópera em todo o mundo: Maria Callas (1923-1977).  O foco do filme, porém, é o período de decadência, de perda progressiva da voz de Callas, associado a seus problemas de saúde, em grande parte decorrentes do uso abusivo de remédios e, claro, dos excessos da profissão.  O brilhantismo vem dos flash-backs e das gravações.  Angelina Jolie vive muito convincentemente a diva do canto lírico, ao lado de outros colegas do elenco, como Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher.  Foi o filme de abertura da Mostra 48.  123 min.

 

Gostaria de destacar também dois filmes cujas narrativas dialogam com questões comportamentais da modernidade.

 


SEX, da Noruega, dirigido por Dag Johan Hangerud, põe em questão a masculinidade e suas relações com sexualidade, gênero e identidade.  Mostra o relacionamento de dois amigos e colegas de trabalho que trocam suas experiências e se surpreendem com o que lhes acontece.  Ambos homens em casamentos heterossexuais.  Um tem um encontro sexual fortuito com outro homem, sem considerar que isso tenha qualquer importância na vida dele.  Tanto que comenta naturalmente o fato com a mulher.  O outro se sente confuso ao se ver como mulher em seus próprios sonhos.  E por aí o filme levanta questões muito interessantes para os dias de hoje.  Os atores protagonistas são muito bons, entram no clima com talento.  125 min.

 


PAUL E PAULETTE TOMAM UM BANHO (Paul and Paulette take a bath), filme de Jethro Massey, do Reino Unido, da competição Novos Diretores, mostra um encontro bizarro entre os personagens do título em Paris.  Paul, um jovem fotógrafo norte-americano, e Paulette, uma garota francesa que curte excentricidades, crimes e outros fatos sombrios em seus lugares de origem.  Ela, vivendo a dolorosa separação de sua namorada Marguerita.  Ele, entrando na aventura bizarra, em busca de conquistar Paulette.  Além do jogo curioso entre fantasia e realidade que o filme explora, são as relações da sexualidade na modernidade o que se evidencia também.  No elenco, os jovens Marie Benati e Jérémie Galiana têm bons desempenhos.  109 min.

 

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