Antonio Carlos Egypto
O
CRIME É MEU (Mon Crime). França, 2023.
Direção: François Ozon. Elenco:
Nadia Tereszkiewicz, Rebecca Marder, Isabelle Huppert, Fabrice Luchini, Andre
Dussolier, Dany Boon. 115 min.
O novo
filme dirigido por François Ozon é um roteiro adaptado por ele de uma peça de
Georges Berr e Louis Verneuil. Trata-se
de uma comédia, com toques dramáticos e de suspense, a partir de uma espécie de
releitura dos filmes policiais. Ou seja, uma baita ironia em relação a esse
gênero. Mas não só ao gênero
cinematográfico como à própria realidade das investigações policiais e dos
julgamentos e decisões do Judiciário, francês, no caso.
É
também um filme de época, se passa em Paris nos anos 1930 e sua temática
central é a questão das mulheres, o feminismo, a capacidade de enfrentamento e
luta delas diante de um mundo marcadamente machista e violador do gênero
feminino.
É por
conta desse enfrentamento que um suposto crime adquire dimensões positivas e
passível de dar apoio e fama a quem o cometer.
Nesse caso, confessá-lo pode ser mais interessante do que reivindicar
uma onerosa e improvável absolvição por inocência. Pode até haver uma disputa, regada a boas
boladas de dinheiro, a respeito de quem realmente cometeu o crime. O título em português “O Crime é Meu” resume
bem isso, mais claramente do que o original “Mon Crime”.
Como
se vê, estamos no terreno das chamadas “narrativas”, em que a verdade factual
praticamente desaparece. A questão vai
se resumir em saber se faz sentido e até se é aceitável, dependendo das
circunstâncias e das motivações envolvidas.
Isso de acordo com a repercussão do caso nos meios de comunicação, que
vão atingir os julgamentos populares, dentro e fora dos tribunais.
A
trama do filme é muito bem estruturada e desenvolvida, trazendo novos elementos
e surpresas, ao longo de sua evolução, e novas consequências aos personagens
envolvidos. Uma penca de bons
personagens, defendidos por um elenco estelar e de alta categoria, torna o
filme “O Crime é Meu” muito atraente e divertido. Uma comédia inteligente e crítica, que nos
brinda com ótimos desempenhos. Como os
de Isabelle Huppert, no papel de Odette, uma atriz envelhecida e decadente que
remete ao cinema mudo, ou de Dany Boon, como Palmerède, um ricaço que
surpreende pela firme fidelidade à esposa.
Tem ainda o notável Fabrice Luchini, como o delegado que tira conclusões
lógicas a partir do que crê ou adapta os fatos às suas crenças, ou o não menos
brilhante Andre Dussolier, como o empresário Bonnard, que adapta sua ética ao
dinheiro que pode irrigar seu negócio e salvá-lo da crise que enfrenta. E outros mais num elenco em que as
protagonistas são jovens artistas: Nadia Tereszkiewicz, a Madeleine, atriz em
busca de concretizar carreira, que pode encontrar na Justiça o caminho para
alavancá-la, com a ajuda de Rebecca Marder, no papel de Pauline, advogada
desempregada, mas dedicada e criativa, capaz de muita coisa. No meio delas, o
herdeiro potencial André, das empresas Bonnard, vivido pelo jovem Edouard
Sulpice, que faz de tudo para se dar bem, desde que nunca precise trabalhar, e
que é o amor de Madeleine, a quem ele imagina ter como amante, enquanto se casa
com uma milionária.
O
resultado disso tudo é um filme bem dirigido, elegante, divertido, com boa
música, que parece bem apropriado para um momento do nosso país, em que um
pouco de leveza e alegria caem muito bem.
Sem perder a capacidade crítica, o que é essencial.
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